Capítulo XI

149 27 48
                                    

Revirei na cama a noite toda pensando em como o destino brinca com as pessoas. Ana Helena morava perto de mim e todos os dias estava na lanchonete. Eu poderia ter esbarrado no seu ombro enquanto andava distraído pela as calçadas do bairro ouvindo Legião Urbana. Mas, a observei todos os dias sentada na mesma mesa, pedindo o mesmo café.

Ela tinha que ser minha. Se isso não foi um sinal dos deuses eu desistiria dela. Por um instante eu pensei que seria apenas um sentimento momentâneo que passaria como um vento após uma tempestade. Porém, o nervosismo que controlava meu corpo me impedia de dizer o que sentia. No qual, os bilhetes ainda irão me ajudar por mais um tempo. Ana Helena seria minha. Nem que seja, apenas no segredo.

-Samuel! -gritou minha avó.

Olhei no relógio preto que ficava em cima de um pequeno criado mudo ao lado da minha cama, e pude ver os números vermelhos indicarem 10:00. Apesar de ser uma manhã nublada de sábado, queria ir para a lanchonete e ver se encontro ela. Porém, era minha folga.

-O que foi vó? -gritei enquanto ouvia as batidas na porta do quarto.

-Tem uma moça aqui querendo falar com você.

Meu coração acelerou.

-Quem?

Ouvi seus resmungos baixos.

-Desça que você vai ver folgado.

Era ela. Ana Helena.

-Estou descendo.

Dei um pulo da cama e senti meu corpo inteiro tremer. Medo. Vergonha. Timidez. Isso tudo me fazia perder a noção do mundo. Mas, vou saber controlar toda essa guerra de sentimentos dentro de mim.

Olhei minha imagem refletida no espelho e não me achei sedutor. Vestia uma calça moletom cinza, e uma camiseta azul que mostrava meus braços definidos. Os cabelos encaracolados estavam comportados hoje. Pelo menos isso. Descalço, desci até a sala e vi minha vó sentada com uma mulher loira no sofá. Era ela. As duas riam e contavam histórias engraçadas que havia acontecido com elas. Tentei controlar meus batimentos cardíacos que gritavam no meu peito. Andei calmamente, talvez por minhas pernas estarem tremendo.

Já estava gritando comigo mesmo em pensamento.

-O que quer? -tentei parecer simpático, mas saiu de uma forma ríspida.

Ela me encarou com os olhos cor de mel. Senti meu corpo se arrepiar e fiquei sem jeito. Meus lábios tentaram se mexer, porém eu não conseguia fazer.

-Vim entregar a sua xícara.

Não foi um sonho. Realmente ela esteve no meu portão ontem a noite querendo uma xícara de açúcar. Eu não estava delirando. Seu hálito adocicado, seus cabelos, seus lábios, seus olhos. Era real.

-Obrigado.

Minha avó me olhou e deu uma piscada. Acredito que na sua cabecinha de algodão passava se besteiras.

-Quer comer um bolo? -Perguntou olhando para ela.

Ana Helena sorriu. E abaixou a cabeça envergonhada.

-Só se for de fubá.

Amélia rapidamente se levantou do sofá e foi até a cozinha preparar o tal bolo. Existia apenas eu e ela naquela sala. E isso era um espaço muito grande. Coloquei as mãos no bolso da calça e comecei a encarar o lustre, assobiando. Como iria puxar assunto com ela? Até uns dias atrás eu só há observava de longe e agora nesse instante, esse cheiro de rosas pairava naquela sala. Ela estava aqui na frente.

-Como você se chama? -Perguntou após um longo silêncio.

Tentei olhar nos seus olhos, mas desisti e continuei a olhar para o lustre.

Coração de Papel ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora