Capítulo L

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Para: Lúcia ♡

Hoje estou escrevendo essa carta, que mais parece um desabafo de um homem desesperado e que anseia pela a paternidade. Porém, tem medo de tocar em tal assunto com sua esposa por saber que ela não quer mais ter filhos. E o pior é que, a culpa não é de nem um de nós.

A vontade de ser pai novamente só aumenta. Mas, meu amor por Lúcia é tão grande e verdadeiro, que prefiro trancar meus sonhos para não feri-lá.

Entendo o fato de o medo de ser mãe há assusta um pouco, por conta da perda da nossa pequena Ana Clara. As sequelas de um parto trágico e um pouco aterrorizante, ainda afeta seu sonhos a noite. Por muitas vezes fui acordado na madruga, com os gritos de desespero dela. A imagem de ver a nossa filha morta, afetou sua mente e a vontade de ser mãe.

Mas, quero tanto ser pai. Poder segurar minha filha ou filho nos braços e sentir seu cheiro doce e puro, e ter a certeza que o amor está escrito nos olhos de uma criança. Amar um ser tão pequeno e frágil me alegra só de imaginar.

Lúcia é o amor da minha vida e adoraria constituir uma família,pelo o simples fato de ter a certeza que é ela a dona de tudo que faço ou deixo de fazer nessa terra perdida e paralela.

Será que um dia ela vai me entender?

-Amor, eu te amo... -sussurrou,exausta com uma noite intensa de sexo.

-Também te amo...

Sempre fazíamos amor com camisinha. Mesmo ela tomando os remédios.

-Eu sei disso... -disse, beijando meu peito enquanto acariciava os pelinhos nele expostos.

-Amor, não tem vontade de ter filhos?

Seu rosto ficou ruborizado. E percebi que o nervoso transparecia nos seus olhos.

-Pedro, desde que perdi a Julia...não me importar outra criança

-Mas, sabe que a vida continua né?

Ela se soltou dos meus braços e sentou rapidamente na cama.

-Para você é fácil superar! - disse ríspida.-Não foi você que gerou e desejou com tanta intensidade que nem eu desejei esse bebê...

Tentei tocar na sua mão. Porém, ela se esquivou do meu toque.

-...não quero um filho para sofrer de novo.

As lágrimas começaram a cair sobre a sua face.

-Pense que será uma nova chance de ser feliz meu amor.

-Não quero sentir uma sensação boa e depois vem o destino e derruba todos os meus sonhos e planos novamente.

Queria poder arrancar esse sentimento do seu coração.

-Amor, uma oportunidade para nós dois.

Lúcia se levantou da cama enfurecida.

-NÃO QUERO PEDRO!

Seu grito ecoou nos meus ouvidos. Um grito de dor e desespero.

Amo tanto ela.

-Lúcia, eu te amo...

-Se me amasse, desistiria dessa ideia.

Ela saiu do quarto sem nem se quer olhar no meu rosto.

Me deixando preso em meus pensamentos e sofrendo com um sonho que talvez nunca mais se realize.

Pedro

25 de Agosto de 1988

Coração de Papel ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora