Capítulo XXXIII

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"As vezes o que mais desejamos é apenas o começo da nossa destruição"

-Samuel, quanto tempo ainda irá demorar para concluir essas contas? -Disse Ana, levantando uma das sombrancelhas e cruzando os braços como se tivesse rindo da minha dificuldade

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-Samuel, quanto tempo ainda irá demorar para concluir essas contas? -Disse Ana, levantando uma das sombrancelhas e cruzando os braços como se tivesse rindo da minha dificuldade.

Desviei o olhar da equação que tentava resolver e encarei seu rosto tão bem desenhado e esculpido por Deus. Por alguns instantes tive certeza que não era um problema de matemática que me fazia sentir dor de cabeça, e sim, amar alguém e não ter coragem de dizer.

-Estou quase acabando.

Ela apenas gargalhou. Uma risada tão gostosa de se ouvir, que eu poderia todos os dias fazer palhaçadas só para ter o prazer de ser o motivo de algo tão lindo.

-Faz exatamente duas horas que ainda está nessa equação. - Disse, enquanto andava pela a sala e ouvia o barulho do seu salto preto ecoar no chão de madeira.

Na verdade, nunca fui bom em contas. Desde de pequeno, tinha fascínio por letras e histórias. Sempre tirava altas notas na matéria de literatura e língua portuguesa, esse era o orgulho dos meus pais, depois de verem uma nota baixa em matemática. Talvez, arrisquei mostrar que sou bom nisso, para ganhar a admiração de Ana. Mesmo que seja por um milésimo de segundos.

-Nunca tive que resolver problemas tão difíceis. - Falei como um sussurro, ainda olhando para o papel todo manchado e borrado, com tentativas falhas de soluções.

-Então porque arriscou me ajudar?

Por mais que quisesse controlar as batidas do meu coração nesse momento, não conseguia. Ter aqueles olhos tão densos e perdidos me olhando, fazia meu corpo inteiro se arrepiar numa súplica de toque. Por mais que não tivesse motivos para tanto nervosismo, diante de uma simples pergunta. Eu estava nervoso. Talvez, porque a resposta seja apenas uma... Por você faço qualquer coisa.

-Estava tentando mostrar ser colaborativo. -Balbuciei algumas palavras, ainda sentindo o tremor nos músculos.

-Só atrapalhou as minhas tarefas. -Falou, pegando a pilha de papéis que estava em cima da minha mesa.

Desculpe por isso. Pensei.

-Prometo não fazer mais isso.

Ana simplesmente deu as costas e seguiu em passos rápidos e ligeiros até a sua mesa. Ela deixava transparecer a frieza em cada palavra dita, o nervosismo em cada gesto, e acima de tudo, me olhava com desprezo. Porque? O que havia feito com ela? Será que foi o pequeno selinho que roubei de seus lábios naquela noite? Ou simplesmente, sou tão insignificante para receber o seu respeito? Ah, é tão difícil amar alguém.

-Porque não vai pegar dois cafés para a gente? -Falou, ainda com os olhos sobre os papéis.

Respirei fundo e tentei ignorar todos os muros que insistia criar ao seu redor, se tornando solitária. Talvez o segredo para se aproximar de Ana, seja construir uma ponte entre mim e ela. E será mais fácil, já que agora todos os dias iremos nos ver.

Coração de Papel ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora