Capítulo LIV

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Para: Lúcia ❤

Nem meu corpo conseguia aguentar tanta pressão, imagina a mente que está perdida em sentimentos confusos.

Saber que posso ser pai e ter um filho no qual irei criar com todo o amor é carinho que tive dos meus pais, me enche de alegria e satisfação.

Queria que Lúcia sentisse o mesmo. Não me sinto egoísta por querer tentar quantas vezes for necessário. Sei que para ela, o trauma é maior por ter carregado nossa pequena Ana Clara no ventre e ter o desprazer de vê-la morta, a machuca todos os dias. Porém, se passaram quinze anos. Não tentamos mais desde daquela data.

Deus ouviu minhas orações.

Meus sobrinhos e sobrinhas cresceram e se tornaram adolescentes lindos e saudáveis, e eu e ela continuamos na mesma. Apenas admirando os filhos dos outros.

Quero ter o meu filho.

E no fundo, eu sei que ela também quer ser mãe. Esses dias a peguei acariciando os cabelos da nossa afilhada e cantarolava com ela alguma música infantil. Podia ver a felicidade nos seus olhos e em cada sorriso.

Ela queria ser mãe. E eu apenas queria ser pai.

Como convencer alguém que tem medo de altura, pular de paraquedas?

Ah, se pudesse dizer que seguro na sua mão e ela apenas deve fechar os olhos e sentir a brisa do vento bater no seu rosto, enquanto todo o seu corpo entra em transe.

Eu amo tanto essa mulher.

Ainda continuo a desejando.

E ainda sonho em ter uma família com ela.

- Pedro, desculpa... - Disse, encostada na porta. -... eu sei o quanto quer essa criança, mas por mais que tenha se passado anos e décadas da morte da nossa filha, ainda tenho medo de perder mais um filho. Você sabe que o médico vivi dizendo que minhas gravidez serão todas de risco...

As lágrimas começam a escorrer pelo o seu rosto.

-... e se eu não conseguir suportar mais uma perda e finalmente me acabar?

Poderia apenas permanecer em silêncio e fingir que aquilo não era importante para mim. Porém, era tudo que eu queria.

- Eu estarei do seu lado e nada de ruim irá acontecer com esse bebê.

Lúcia veio correndo me abraçar e começou a chorar desesperadamente. Pressionando seu rosto no meu peitoral e molhando minha camisa com suas lágrimas.

- Não quero perder mais ninguém.

Comecei acariciar seus cabelos loiros que continha alguns fios grisalhos. Ela estava envelhecendo, a mulher da minha vida inteira.

- Vamos tentar pela a última vez. Iremos seguir todas as orientações médicas e o nosso bebê vai vim com saúde...

Afastei seu rosto e segurei seu queixo com o polegar. Acariciando sua pele. Olhando nos seus olhos vermelhos.

-... tenha meu amor.

Por um instante eu senti que havia convencido. Mas, não tinha tanta certeza assim.

- E o meu trabalho?

Respirei fundo e decidido.

- Eu mantenho a casa até o bebê nascer. Por enquanto, trabalhe em casa por e-mail.

Ela sorriu de canto.

- Tentaremos a última vez, porque eu te amo.

Beijei seus lábios e pressionei seu corpo contra o meu. Unindo camadas de músculos e átomos que combinam.

- Eu também te amo meu amor.

Sentia uma alegria transbordar dentro de mim. Acariciei seu ventre que nem parecia ter um bebê ali dentro.

- Papai te espera pequeno.

- Pode ser menina.

Sorri meio convencido.

- É um moleque.

Lúcia arqueou uma das sobrancelhas desconfiada.

- Como tem tanta certeza?

- Porque eu tenho. É o pequeno Samuel.

O meu filho.
O meu herdeiro.
A minha carne.

                        Pedro

12 de outubro de 1996

Coração de Papel ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora