Eu passei um bom tempo admirando você sentada naquela mesa. Pensei que viria até mim e perguntaria se sabia de alguma coisa. Mas, não. Ficou calada sorrindo para aquele pequeno pedaço de papel.
-Moço! -gritou, olhando para mim.
Meu corpo entrou em transe. Irei recuar em um, dois, três segundos. Quando dei por mim, já estava perto da sua mesa. Seus olhos cor de mel me encarava. Que sensação ótima. Você me notou. Isso me deixou completamente alucinado.
-Pode me emprestar uma caneta?
Meu coração acelerou. Eu não vou conseguir lidar com isso. Sem dizer nada, assenti com a cabeça e fui até o balcão pegar a caneta que havia usado para escrever o bilhete.
-Obrigada. -disse-me sorrindo.
Não conseguia dizer nada. Apenas tentei sorrir, mas nem isso consegui. Saí com passos apressados para trás do balcão e fiquei lá observando o que ela iria fazer. Ver seus dedos tocarem delicadamente a caneta, e escrever num papel alguma coisa. Meu coração acelerou. Comecei a suar desesperadamente.
O que ela está fazendo? Será que iria responder alguma coisa? Ou não gostou do que eu escrevi? Apesar que posso negar. Não! E se ela pedir para mim escrever alguma coisa e comparar as letras? Ai meu Deus. Vou enlouquecer. Sim, isso vai acontecer.
-Ei! -disse, me chamando novamente.
Agora eu vou morrer. Meus batimentos cardíacos estavam altos, acredito que até ela iria ouvir. Meu rosto suava, minhas mãos tremiam. Minhas pernas queriam recuar. Porém, fui.
-Obrigada pelo o atendimento.
Me lançou um sorriso satisfatório. Pegou sua bolsa e colocou no ombro. Deixou o dinheiro para o café, e uma gorjeta. E se foi. Porém, percebi que em cima da mesa havia um papel dobrado. Sorri. Mesmo antes de abrir.
Com medo e curioso desdobrei o guardanapo. E meus olhos com cuidado começou a ler uma caligrafia perfeita. Uma letra redonda e sem erros de ortografia.
Obrigada por fazer meu dia feliz com apenas um gesto de carinho. Se meu sorriso lhe alegra tanto, irei sorrir mais ainda ♥
Ana Helena ♥Ana Helena. Esse é o nome do anjo por quem me apaixonei. Um nome tão lindo e marcante que condiz com a sua pessoa. Mesmo eu nunca tendo sentado e conversado com ela, sem saber o que gosta ou não. Eu deduzia tudo. Sei que ama rosas, por conta do seu cheiro. Sei que gosta de admirar as pessoas ao seu redor para que sufoque sua solidão. Sei que ama café com duas gotas de adoçante porque gosta de sentir o amargo e o doce das coisas. Sei que ela é perfeita. Mesmo não fazendo parte dessa carne.
Cheguei em casa morto de cansado. Nem percebi que minha avó estava assistindo o jornal. Na verdade, ela tirava um cochilo com o controle remoto na mão. Sorri vendo sua figura pequena, encolhida no sofá. Dona Amélia era minha carne. Minha única família. Tudo bem que existia algumas tias, porém minha avó era tudo o que restou depois dos meus pais.
-Vó... - sussurrei no seu ouvido.
Meio sonolenta, olhou para mim.
-Meu filho, já chegou?
Tirei o controle da sua mão enrugada e coloquei sobre a mesinha de centro.
-Acabei de chegar.
Ela passou as pequenas mãos nos cabelos grisalhos e bagunçado.
-Tem comida nas panelas.
Sorri e lhe dei um beijo na testa. Seu cheirinho de lavanda estava misturado com o cheiro de fritura.
-Tudo bem vó.
Ela sorriu para mim, enquanto subia as escadas. Iria para o meu quarto, pegar umas roupas e tomar banho. A casa era pequena, havia apenas quatro cômodos. Uma sala de estar, cozinha, dois quartos e apenas um banheiro. Mas, não me importava de dividir com a minha avó. Já havia me acostumado com a sua grande organização e exigência.
Abri a porta do meu quarto e notei que tudo estava arrumado. Diferente do que deixei hoje de manhã. Tirei a camisa e joguei na cama, deixando amostra meus músculos cansados. Pensei em Ana Helena. Será que ela me acharia bonito? Como reagiria se soubesse que aquele bilhete foi eu que escrevi? Sorri pensando nela. E meio sem jeito, afundei a mão no bolso da calça e senti o papel. Era o bilhete dela. Sorri mais ainda. Iria guardar aquilo para o resto da minha vida. Mesmo que não tenha sido diretamente para mim, eu sabia que ela não tem a maior noção de quem seja seu admirador secreto. Ou talvez, eu seja tão insignificante que ela nem note minha presença. Porém, vou fazer com que ela me ame através das cartas.
Com um sorriso estampado no rosto, peguei uma caderneta e um lápis que ficavam em cima da escrivaninha e comecei a escrever. Focado apenas nela. Ana Helena.
Recebi seu bilhete, e fiquei contente em saber que gostou do que escrevi. Poderia até dizer quem sou, já que, sei que se encantou. Porém, não estou pronto para isso. Acredito que devo mostrar meus sentimentos primeiros e te conquistar aos poucos. Você deve estar achando que sou um louco ou perturbado por estar apaixonado por alguém que nunca troquei uma conversa. Mas, não existe regras perante a paixão certo? Posso ser um cliente dessa lanchonete e você nem perceba ;) Talvez trabalhe aí e você nem note minha presença. Quem sabe né? Por enquanto, fique confusa e se encante por esse pequeno coração de papel ♥
Terminei de escrever aquilo e coloquei num envelope vermelho. Iria deixá lo sobre a mesa dela. Precisava conquistar essa menina. Ana Helena. Não posso dizer que ela é minha. Mas, estou tentando cuidar disso o mais antes possível.
Olhei para a pequena cruz que ficava pregada em cima da minha porta. Então me benzi e fiz um pequeno pedido. Seja o que Deus quiser a partir de agora.
Meu corpo inteiro respondeu aquilo num grande amém. E pela a primeira vez, tive certeza que não estava sozinho nessa batalha.
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Coração de Papel ( Revisado)
RomanceCartas escritas em pleno século 21 é clichê demais? Ela todos os dias sentava no mesmo lugar, pedia o mesmo café com duas gotas de adoçante e sorria toda vez que via uma carta deixada sobre a mesa. Ele apenas observava de longe, vendo seus olhos co...