Capítulo XVIII

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Para: Lúcia ❤

Estamos na contagem regressiva para finalmente nos tornamos um só. Hoje mesmo fui experimentar meu terno, e acredito que você tenha encontrado um vestido lindo que combinasse com o tom da sua pele delicada e quente que tanto amo.

Quanto mais eu penso que posso tê-la nos meus braços sem se preocupar em lhe dar um beijo e sua mãe estar me encarando por trás de frestas e esquinas. Amélia realmente não gosta de mim, e isso me deixa triste. Meu pai teve culpa no que fez com ela, e sinceramente não estou do lado dele. Foi sujo. Asqueroso. Porém, ele era jovem demais e agiu por impulso. Na verdade, nenhum dos dois sentia o que sentimos.

Queria poder um dia ser o genro que sua mãe tanto sonhou para entregar sua única filha. Mas, aprendi que a vida de casado só duas pessoas vivem, e não três.

-Ficou bom Pedro? -Perguntou minha mãe com um vestido horroroso amarelo.

-Está linda mãe. -Disse irônico.

Ela ergueu uma sombrancelha e colocou as mãos na cintura. Sua postura pequena e brava era engraçada.

-Seja sincero seu falso.

Encarei aquele vestido amarelo rodado e cheio de flores coloridas nele. Minha mãe mais parecia um vaso de flor do que, uma mulher de família.

-Está horrível.

-Obrigada por sua sinceridade. -Disse, se sentando na cama enorme de casal que havia no seu quarto.

-Mãe, porque a Amélia nunca irá perdoar o papai?

Ela me encarou com aqueles olhos negros perdida. E após alguns segundos em silêncio, fez sinal para que sentasse entre suas pernas.

-Senta-se aqui.

Andei até o seu corpo pequeno e magro e sentei entre suas pernas finas. Encostando minha cabeça na sua coxa. No qual, logo começou a acariciar meus cabelos.

-Filho, o que aconteceu entre Amélia e o Marcos, foi apenas coisa de dois jovens rebeldes e inconsequentes...

Sua voz era serena e branda.

-...Amélia se apaixonou, mesmo sabendo a fama de seu pai...

Seus dedos brincava com os fios crespos daquela juba. Será que meu filho terá meus encaracolados?

-... Naquela noite, os dois estavam bêbados e haviam dançado muito na discoteca da cidade...

Antes que terminasse de falar, meu pai entrou no quarto. Com aquele cheiro de pão e lenha queimada. Seus cabelos grisalhos e as rugas no seu rosto estavam mais aparentes.

-Boa noite família! -Sua voz rouca e seca.

-Boa noite meu marido. -Disse minha mãe, sorrindo com sutileza.

Me levantei e fui correndo dar a benção ao meu pai. Em questão de respeito e carinho.

-Bença pai.

Ele sorriu com aqueles dentes amarelos e me abraçou.

-Deus te abençoe filho...

Sentir os seus braços no meu corpo e ter a certeza que ele me amava e queria minha felicidade era única. Porém, Amélia não consegue fazer isso.

-... E o casório?

Me afastei dos seus braços e disse animado:

-Falta pouco.

-Espero que sejam felizes.

Ele deu dois tapinhas no meu ombro e foi até onde minha mãe estava. No qual, tocou seus lábios e a abraçou calorosamente. Agora eu entendia porque Marcos não podia ficar com Amélia, ele amava minha mãe. E isso, ela nunca irá aceitar... Não depois daquela noite...

Pedro

18 de agosto de 1980

Coração de Papel ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora