Capítulo LVII

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" Acredito que as coisas que não podem ser cientificamente provadas sejam verdadeiras." ( A cabana)

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As vezes me sinto preso numa realidade que não é a minha. Que estou vivendo um sonho e que logo irei despertar e voltar para a minha vida pacata e sem graça que sempre tive. Que voltarei para trás do balcão enquanto admiro a linda loira dos olhos cor de mel tomar seu café em silêncio. No qual, não tinha nem noção do seu nome e onde morava. Logo em seguida, meu patrão rabugento e asqueroso me xinga por não estar atendendo as mesas. Finjo que anoto pedidos, quando na verdade meu olhar está na moça que se levanta, pega sua bolsa e deixa uma gorjeta sobre a mesa e vai embora. Deixando meu coração ansioso para vê-la de novo.

Ainda não consigo acreditar que hoje trabalho com ela num buffet e sinto sua fragrância de rosas todos os dias. Mora há uma quadra da minha casa. Tinha se apaixonado pelo o seu admirador secreto e guardava segredos. Admirava a lenda oriental da borboleta azul. E chorava escondido toda vez que se lembrava da sua mãe. Sorria quando estava envergonhada e chorava de raiva. Era ciumenta, mesmo que nunca fosse admitir. E acreditava num mundo melhor mesmo que só pensasse em lucro. Realmente tinha os olhos mais densos e profundos que já vi, e os lábios mais doces que já provei. Ana Helena. A mulher que chamou minha atenção naquela lanchonete, tocou meus lábios naquela noite na cozinha da minha casa. Trabalha comigo todos os dias e me faz se sentir um bobalhão toda vez que vejo seu sorriso. Ana Helena.

-Está pensando no quê?

Fui interrompido das minhas lembranças, com a voz aguda da minha avó Amélia. Ela me olhava desconfiada. Acredito que se pudesse invadir meus pensamentos já teria feito.

- Coisas do trabalho. - Disse, sem olhar para o seu rosto e não perceber que estou mentindo.

- Achei que estava pensando em mulher, pela a cara que fez.

Sorri envergonhado.

- Estou tentando planejar um casamento na praia.

- Isso não é função da Ana? - perguntou com um tom irônico.

- Sim. Porém, tenho que ajuda lá.

- E o casório é clássico ou rústico.

Tentei pensar em qual tema combinaria melhor com Joyce. Seu jeito sincero ao mesmo tempo contagiante era fácil de se encantar. Mas, não sei qual seria seu estilo com apenas essas características.

- A noiva gostaria que a banda Natiruts tocasse no casamento. Conhece?

Ela me olhou debochada.

- A banda de reggae formada em Brasília em 1996?

Fiquei estupefato com a audácia de minha avó. Sobre o seu conhecimento de una banda que nunca a vi ouvir.

- Exatamente. - Confirmei acanhado.

- Como é um casamento na praia tem que pensar nos detalhes. Por exemplo, a praia é pública?

- Sim, é a praia das conchas da Bahia.

Amélia se sentou ao meu lado enquanto pegava a sua sacola de tricô.

- Então, vai ser preciso uma autorização da prefeitura.

-Sim, vó. Ana já fez isso. - Disse, enquanto observava suas mãos ágeis na linha verde de tricô.

- Perfeito. E a lista de convidados?

- A noiva já está providenciando.

Joyce estava muito animada com tudo isso. Além claro, de estar resolvendo as coisas que eu e Ana não estamos dando conta. Como: esta negociando com uma pousada para os convidados pagarem uma tarifa menor. E bancando o transporte e hospedagem para os pais, avós e padrinhos. Sua ajuda vale muito. Evita Ana ficar estressada e tento arrancar um sorriso dos seus lábios.

Coração de Papel ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora