Para: Lúcia ♥
Deixei meu anjo dos cabelos dourados na hora marcada, 22 horas. Quando percebi a figura pequena da senhora Amélia no portão, meu sorriso sumiu. Seus olhos negros e perdidos como labirinto me encarava sério. Vestida num roupão vermelho e os cabelos loiros amarrados num coque, esperava Lúcia.
-Ela está entregue. -disse, ao se aproximar do seu corpo.
Amélia apenas ergueu uma das sombrancelha finas e apagadas. E fez um sinal para que Lúcia entrasse para dentro. Sem olhar nos meus olhos e de cabeça baixa, entrou. Deixando me sozinho com aquela senhora que nem de longe negava sua falta de carisma com a minha pessoa.
-Olha rapaz, eu conheço muito bem o seu tipo,você não levou Lúcia para o baile...
Senti minhas mãos trêmulas.
-...nem tão pouco se importou de leva-lá para um parque qualquer e tirar sua pureza...
Meu rosto queimava. Ela não suspeitava disso, seu tom era de confirmação. Porém, tentava disfarçar a dor no estômago que sentia nesse instante.
-Lúcia é uma menina de apenas quinze anos de idade que se deixou levar pelo o desejo mundano...
Não tirava os olhos do seu rosto que não emitia reação alguma. Ela mais parecia um robô do que, uma mãe que acabou de descobrir que sua filha não é mais donzela.
-...já você é um rapaz de dezessete anos de idade certo?
Tentei dizer alguma coisa, mas meus lábios estavam congelados.
-...me responda seu moleque atrevido!! -gritou.
Pensei na noite que tive com Lúcia. O amor que sentíamos um pelo o outro e finalmente na possibilidade de te lá só para mim. Reuni minhas forças e falei num tom alto e claro:
-Eu amo sua filha dona Amélia, e sim, fizemos amor naquele parque abandonado que citou nas suas acusações...
Sua feição havia mudado. Percebi que se sentiu desafiada.
-...eu me entreguei de corpo e alma para Lúcia, e acredito que se ela permitiu que tocasse seu corpo macio e delicado essa noite é porque nutri o mesmo por mim...
Ela balançava a cabeça indignada.
-...eu estou disposto a assumir um compromisso sério com sua filha, caso seja recíproco o sentimento que sente por mim.
Seus olhos estavam arregalados e sem expressão alguma. Sua boca entreaberta indignada. Se ela pudesse me estrangular alí mesmo, teria feito.
-Irei conversar com o pai dela.
Sem que pudesse dizer alguma coisa, ela virou as costas e sumiu no jardim escuro.
Pedro ♥
04 de agosto de 1980 (Madrugada confusa)
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Coração de Papel ( Revisado)
RomantizmCartas escritas em pleno século 21 é clichê demais? Ela todos os dias sentava no mesmo lugar, pedia o mesmo café com duas gotas de adoçante e sorria toda vez que via uma carta deixada sobre a mesa. Ele apenas observava de longe, vendo seus olhos co...