-Está preparado para saber a história do meu passado?
Nunca foi tão difícil ter que olhar para o rosto de minha avó e ansiar pela a sua fala. O estômago revirando. O coração acelerado como carro desgovernado. E a dúvida se realmente deveria saber. Seria certo vasculhar o passado agora?
Era algo que mudaria minha visão sobre minha família? será? será. será. Estou tão confuso.
Amélia ajeitou o seu corpo na poltrona e encarou meu rosto como se procurasse uma maneira de começar a contar a sua história. Percebia no seu olhar o quanto era difícil para ela se libertar desse sentimento. Queria tanto dizer que não precisava disso, mas eu necessitava. E não era egoísmo.
-Espero que compreenda o quanto é difícil para mim, iniciar essa conversa depois de anos em silêncio...
Estava quase desistindo dessa ideia, quando ela começou a falar meio nervosa.
-...quando conheci seu avô era muito jovem, e logo em seguida nos casamos. Naquela época era normal, e como gostávamos muito um do outro foi mais fácil. No começo foi o romance mais lindo e prazeroso que uma menina de dezoito anos poderia ter. Seu avô sempre muito atencioso e carinhoso comigo... eu já estava amando aquele homem...
Podia sentir a ternura e amor que se referia ao meu avô. Era bonito de se ouvir.
-...mas, Mariano só aceitou a se casar comigo, quando eu implorei para que ele fizesse isso. Depois daquela noite, ele era a minha única saída. E mesmo assim, eu o amei.
Noite? que noite? estou começando a ficar nervoso.
-Que noite vó?
Ela respirou e fundo e tentou evitar olhar nos meus olhos.
-Antes do seu avô, eu tive um grande amor. Um amor que me fazia perder a noção do tempo e acreditar que realmente poderia ser feliz. Mas, não deu muito certo e tudo foi uma mentira. Ele apenas abusou da minha inocência...
Tentei imaginar quem seria esse homem que destruiu o coração da Amélia e a transformou numa pessoa fria e triste. Mesmo que passou anos casada com o meu avô, sabia que seu casamento era de vantagens.
-...era apaixonada por Marcos...
Seria muita ironia do destino se ela estivesse se referindo ao meu avô paterno.
-...o pai do seu pai.
O que está acontecendo aqui? sério isso que estou escutando? Ah meu Deus, preciso tomar um ar antes que desabe aqui nesse chão.
-...pode parecer estranho, mais eu o conheci antes da sua avó Gina. Éramos muitos jovens quando tivemos um namoro. Eu era uma menina de catorze anos e ele um rapaz de dezessete. Tínhamos uma conexão que apenas a gente entendia. Meus pais nem sabia desse nosso namoro e eu permanecemos escondidos por meses. Era a coisa mais linda que poderia sentir por alguém. E foi quando me senti preparada. Preparada para ser única para ele.
Estava sem reação. O que dizer ou pensar sobre algo desse tipo.
-...fomos para uma festa, naquele dia foi engraçado porque tive que pular a janela da minha casa e quase rasgo o meu vestido. -Amélia começou a rir em meio as lágrimas que insistia em cair. -...eu encontrei com ele e a gente dançou a noite toda, bebi muito e fiquei fora de mim. Mas, foi bom porque tive coragem de me entregar para ele. Foi a noite mais linda e intensa, e eu deixei minha virgindade entregue para ele no meio daquele caos.
Minha avó materna está dizendo que perdeu a virgindade com o meu avô paterno e ele era o seu grande amor. Como posso dizer alguma coisa, se meus lábios estavam paralisados e meu corpo tenso e trêmulo. Era uma história que gostaria de ouvir o final sem desmaiar.
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Coração de Papel ( Revisado)
RomansCartas escritas em pleno século 21 é clichê demais? Ela todos os dias sentava no mesmo lugar, pedia o mesmo café com duas gotas de adoçante e sorria toda vez que via uma carta deixada sobre a mesa. Ele apenas observava de longe, vendo seus olhos co...