Capítulo XLIX

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"As vezes o que sentimos apenas são medos reprimidos"

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Ana me olhava sem graça e com medo de se engasgar nas próprias palavras. Seus olhos brilhavam depois de tanto chorar, e seu rosto vermelho e inchado. demonstrava seu pavor diante do que estava prestes a me contar. Os olhos borrado de preto, destruindo uma maquiagem feita com tanto cuidado. E a certeza de que, não seria nada fácil ela confidenciar tal segredo em minhas mãos.

- Tem certeza que quer saber? -Perguntou mais uma vez.

-Quero sim Ana.

Ela tossiu algumas vezes e evitou olhar no meu rosto, enquanto ensaiava as palavras certas.

-Tudo começou quando fui para o colegial...

Sentia minha boca seca, com medo do que iria ouvir. Porém, não tinha mais como voltar atrás.

-...eu não era a mais popular, era só uma menina que tinha muitos amigos e querida entre eles.- Ela fez uma pequena pausa. - ...pelo menos eu achava isso. Andava mais com um grupo de meninas que conheci por acaso...

Ana transpirava de nervoso e gaguejava algumas vezes.

-...éramos em quatro. Melissa era a mais engraçada, não importava onde estávamos, ela sempre fazia uma palhaçada...

Percebi que falar dela, deixava Ana feliz.

-Melissa é a que me indicou para você?

Me lembrei do meu encontro com ela, e o quanto me divertir. Mesmo sabendo que ela estava gostando de mim, e só estava ali por que minha avó tinha obrigado.

-...sim,tinha me esquecido que a conhecia...

Ana sorriu e continuou a contar aflita.

-...Agatha era mais intelectual, o tipo da amiga nerd que quase todos do colégio humilhava, mas mesmo assim continuava firme. Ah, que saudade ela...

Lágrimas começaram a rolar sobre a face dela. E falar em Agatha deixava Ana triste.

-...mas, tinha a Sabrina...

Seu tom de voz de mudou.

-...a mais bonita e desejada por todos os garotos, mas que não dava bola para nenhum.

-Porque não? -perguntei enquanto tomava um gole do meu café.

Ana me olhou séria e respirou fundo.

-Porque ela namorava comigo.

Quase me engasguei com a cafeína que descia rasgando pela a minha garganta. Fiquei em choque num estado que nunca achei que ficaria mais. O amor da minha vida era lésbica? Não sabia o que pensar, e tinha certeza que minha expressão não era das melhores. Meu coração estava acelerado e ao mesmo tempo aflito.

-Co...co...como assim?

Ana me olhou firme. Criando uma coragem de encarar meu rosto sem demonstrar nenhuma vergonha. Talvez, uma barreira para que eu não a machucasse.

-Eu namorei a Sabrina, que aliás é a secretária que hoje me odeia...

Agora sim eu tive um ataque e voltei. Sabrina? aquela mulher vulgar que vive dando em cima de mim? que a Ana demonstra ciúmes? será que era meu ou dela? que confusão.

-...eu e Sabrina, nos apaixonamos naquela época, foi algo que aconteceu como pegar num sono, devagar e de uma vez só.

Era engraçado o que estava ouvindo daqueles lábios que acabei de beijar sedento de amor e desejo. Não estava sentindo nojo dela, mas é algo que fico surpreso. Meus pais sempre me ensinaram a respeitar todas as formas de amor. Porém, esqueceu de me avisar que doí quando sabemos que esse amor é o que abriga no nosso coração.

Coração de Papel ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora