Entrada XI

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E aí?

Mais uns dias se passaram e eu ainda tô aqui sem saber muito bem o que fazer. Mas, antes de eu começar a minha ladainha pessoal, deixe-me contar a novidade da semana: o Bruno me convidou formalmente pra morar com ele. O plano inicial era eu ficar aqui até as coisas se ajeitarem ou até eu arrumar um emprego pra começar a decidir o que fazer da vida, mas, como ele viu que nada tem acontecido (e ele sabe que não é por falta de procura), ele disse que, se eu quiser morar com ele definitivamente, ele está disposto. Esse cara é demais, né? Fala sério. Eu fiquei de pensar melhor a respeito, mas acho que vou acabar aceitando. Alugar casa tá complicado e muito caro (ele também paga o aluguel aqui, embora o pai ajude), então talvez seja uma boa ideia, mesmo.

Isso nos leva a outra questão: a questão da nuvem; aquela que estava parada na minha cabeça, lembra? Então, ela voltou a chover. Esses dias eu andei pesquisando mais sobre prostituição e, por mais que quase todos os relatos que eu li digam que é uma vida difícil, que o dinheiro vem rápido mas não vem fácil, que é um caminho sem volta e tudo o mais, a ideia me parece cada vez mais tentadora, ainda porque o mercado tem muito mais garotas do que garotos de programa. Eu não vou ser o primeiro, disso já sei, mas, aqui em Taigo pelo menos, encontrei bem poucos anúncios de caras se oferecendo. Daí fui dar uma vasculhada melhor na internet e encontrei três perfis que atendem aqui. Três caras: um de 42, outro de 30 e outro de 26 anos. O de 42 me pareceu bem pouco atraente. Se eu fosse mulher, não olharia pra ele na rua. Dizia atender mulheres de todas as idades. O de 30 era mais conservado, mas o perfil tinha quase nenhuma informação. O de 26 era até boa pinta, mas tinha um corpo meio estranho. Dizia ser “hetero versátil”. Isso já me preocupou um pouco... Esses foram os três anúncios de Taigo que eu encontrei online; não sei se existem outros. Só um deles dizia ser “hetero versátil”. Na minha cabeça, isso só pode significar que ele atende tanto mulheres quanto homens, e isso é algo em que eu não tinha pensado ainda... Daí fiquei matutando. A oferta aqui já é pouca; se eu limitar a demanda, meu lucro vai diminuir...

O que você acha, caderno? Me ajuda a pensar. Às vezes eu acho que estou me precipitando demais. Sei que deve ter muito emprego sobrando por aí, mas ou a sorte não está sorrindo pra mim ou eu estou procurando nos lugares errados, e os lugares certos não estão me procurando. O fim da linha tá chegando e minha única alternativa é aceitar a proposta da minha mãe, que é uma possibilidade em que eu não quero nem pensar. Tenho comprado jornal quase todos os dias, tenho procurado na internet, sempre fico de olho se não tem placas de “Precisa-se” nos lugares onde passo e... nada. Daí olho aqueles anúncios de garotas se oferecendo nos classificados e me parece absurdamente fácil conseguir dinheiro por esse meio. O que tá pegando é essa de “hetero versátil”. Eu sei que homem é um bicho estranho. Veja o Felipe, por exemplo. Ele pega as meninas nas festas e depois vem dizer que “seu pau é da hora, guri”. Me comparar ao Felipe é o fim da picada, eu sei, mas me refiro a essa, sei lá, flexibilidade dele. Mas, ao mesmo tempo, eu não quero ser flexível. E não sei se vou saber ser flexível, ainda que precisando. Daí penso no dinheiro e, poxa. Esses caras cobram bem! O de 42 cobrava mais de 100 contos o programa! É muito possível que o cara consiga fazer o pinto funcionar pensando que, no final, vai ter cenzinho na mão dele. Mas e se eu não funcionar? Esse é meu medo. Novamente, por exemplo: o Bruno. Tenho certeza que por nenhum dinheiro do mundo o Bruno conseguiria, por natureza, transar com uma mulher. E tomar remédio pra disfunção erétil é algo a que eu me recuso — e não porque eu me sentiria com a honra ferida, mas porque sei que é perigoso. Esses negócios atacam o coração e, ouvi falar, podem deixar o negócio duro por tanto tempo que a pele começa a necrosar. Já pensou? Melhor não; prefiro arriscar pela natureza.

Como essa ideia tem estado muito fixa na minha cabeça, tenho estudado mesmo a respeito do assunto. Meio que sem querer, procurando pornografia gay na internet, encontrei um site: BrokeStraightBoys; algo como “garotos hetero sem grana”. Pelo que entendi, a premissa do site é fazer cenas entre caras heterossexuais que transam um com o outro só pelo dinheiro. Pensei que atores de pornô gay fossem todos gays, mas, pelo que andei vendo, tem muito hetero no meio. Na página de um dos atores, dizia: “Eu gosto de garotas, mas não me importo de transar com caras por dinheiro”. Esse mesmo ator, nos vídeos relacionados, fazia cenas sendo ativo e sendo passivo... Meu! Meu cérebro não consegue processar muito bem essa ideia de que um cara pode dar a bunda e simplesmente dizer que “não se importa”. Eu me importaria e muito! Mas, bem: pelas minhas pesquisas, tem atores de todos os tipos. Esse que eu vi primeiro fazia de um tudo, mas vi que tem outros que só fazem o ativo e pronto; colocam o negócio lá, finalizam o serviço e é isso. Acho que eu estou mais próximo desse perfil do que daquele.

Depois, fui assistir a umas cenas. Não sei se escolhi bem o que assistir, afinal não tenho experiência com essa categoria de filmes, mas, orra... Fiquei com inveja. O órgão dos caras é tipo muito fora dos padrões; tem uns que dá pra segurar com as duas mãos e ainda sobra. Não que eu tenha visto tantos pênis na vida, mas vi o bastante pra ter uma noção da realidade. E o que me coisa é que tem uns atores que fazem umas caras muito boas enquanto ‘tão lá recebendo o negócio reto adentro. É lógico que tem horas que dá pra ver que tá doendo ou que tá desconfortável, sei lá, mas, pelos diálogos (tem uns que são bem forçados (e também preciso dizer que em algumas cenas a trilha sonora é terrível (mas, em outras, é tipo a melhor parte (devo ter visto uns quinze vídeos (de tipos diversos) no total)))), no geral os caras parecem curtir o que tá rolando. Em uma dessas cenas que eu vi, o cara estava sendo chupado enquanto assistia pornô hetero (o câmera man foi amador o bastante pra deixar a televisão aparecer (essas coisas me irritam)). Acho que vou adotar essa técnica, se nada der certo.

Mas acho que estou contando só com as possibilidades ruins, né? Vai que eu dou sorte e consigo fazer uma clientela feminina? Tá certo: só vai ter coroa-madame rica, o que também não é exatamente meu perfil, mas já facilita pro meu lado, eu acho. Também ouvi falar que tem uns caras que têm fetiche de ver outro cara comer a mulher deles, daí contratam o garoto pra fazer esse esquema aí. Mas, ainda assim: vai que, na hora, a mulher do cara é feia feito a morte e eu não consigo fazer a barraca armar? Tá vendo como é complicado? Acho que garoto de programa tinha que ganhar mais do que garota, hein? A garota só leva as estocadas lá e tem a opção de fingir que o cara tá matando ela de prazer, agora o cara... Vai fazer o quê? Se não subir, não subiu, e o cara não pode ficar sem subir... 

Bom, acho que estou digressionando demais. E acho que vou ter que te arrumar um cadeado, hein, caderno? Já pensou se alguém te pega e lê esse tanto de coisa que eu escrevi até agora? Minha reputação acaba (como se eu tivesse uma a zelar, né? Fala sério). Por fim, preciso pensar num “nome de guerra”. Não posso usar meu nome de batismo, até porque “Daniel” é um nome sem tesão nenhum. Quantos Daniel existem no mundo? Milhões, decerto. Mas ainda não pensei em nada muito criativo. Se essa ideia vier a se concretizar mesmo, penso em alguma coisa. Devo me decidir essa semana, pra tirar isso da cabeça de uma vez. Preciso assistir mais pornô gay pra me prevenir, afinal conhecimento nunca é demais. A gente se fala. Boa noite. 

Vincent (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora