Entrada XXXIV

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E aí?

Problema, cara. Tipo, problema grande, muito, muito grande. Tipo problemaço mesmo... Me ajuda aí, caderno.

Anteontem à noite, eu estava no Face do Vincent fazendo a social com a galera do grupo (acho que não comentei isso aqui, mas eu me enturmei lá (um pouco). Tem umas travestis muito engraçadas, e os coroas que comentam lá (alguns) parecem estar bem abertos a experiências. É meio que marketing pra mim: eu comento alguma coisa lá, de vez em quando, e acabam me vendo. Pode ser que se interessem pelo produto, não é mesmo?, ainda mais porque, ultimamente, a maioria dos meus clientes me procura pela Internet; já até tirei o anúncio do jornal) quando, de repente, alguém me adiciona. Eu não coloquei foto minha de rosto no perfil; só de corpo (ainda preciso voltar pra academia; dei uma emagrecida e, embora meus músculos estejam mais salientes, estou mais pra magro do que pra saradinho), então acho que nem quem me conhece na vida real sabe que o Vincent é o Daniel Vicentin, até porque eu também não saio desfilando sem camisa por aí e não tiro tantas fotos assim. “Solicitações de amizade: Miguel Santiago. Aceitar, Agora não”. Na hora eu não reconheci, mas, depois, clicando e dando uma olhada rápida no perfil, percebi que era o Miguel namorado do Bruno (sim, eles estão namorando (também não comentei sobre isso por aqui desde o aniversário do Bru na Meridian porque eu não fui com a cara desse cidadão mesmo e é ele que transa com o meu melhor amigo e foi ele que o afastou significativamente de mim, mas o Miguel vem aqui em casa de vez em quando. Me lembro de tê-lo visto aqui umas três vezes, mas ele deve ter vindo outras, na minha ausência). Desde aí eu já fiquei meio cismado, mas acabei aceitando a solicitação; aceitei e não falei nada.

No dia seguinte, ontem, voltei a olhar o perfil do Vincent e tinha uma mensagem não lida do cara. Vi que o perfil não era o oficial, porque, no oficial, aparece que ele está “♥ Em um relacionamento sério”, sem informar com quem é o relacionamento (existe atestado de homossexualidade maior do que esse? Fala sério); nesse perfil pelo qual ele me adicionou, não consta informação nenhuma sobre relacionamento e a foto não mostra o rosto todo: só do nariz pra baixo. Pela barba cerrada eu reconheci que era ele. Nessa conta, ele tem 27 amigos, e, pelo que eu andei stalkeando, são todos pessoas de procedência bem duvidosa. Trocando em miúdos: é, certamente, um perfil que ele criou pra aprontar, e estou certo de que é pra aprontar porque, pesquisando “Miguel Santiago” pela minha conta oficial, de Daniel, aquela página não aparece nos resultados da busca, ou seja: ele desativou a opção de ser encontrado pelos mecanismos de procura. Bom, a mensagem dizia:

ei, tu é gp aqui em Taigo mesmo?

Pensei muito bem antes de responder aquilo — até fechei a porta do quarto. Vai vendo:

Eu: Sim.

Ele: e tu faz o que?

Eu: Depende. O que você ta procurando?

Ele: cara, eu curto umas coisas mais pesadas sabe?

Eu: Mais pesadas tipo o quê?

Ele: ah eu curto golden shower, scat, fisting etc

Tive que procurar isso tudo no Google e, olha, me arrependi amargamente de tê-lo feito. Queria poder des-ver todos aqueles resultados. Vou compartilhá-los com você; preste atenção. Golden shower: chuva dourada. Associe isso a determinada substância que o corpo humano elimina e você vai entender. Scat: vem de scatology. Escatologia é a ciência que estuda as fezes, ou seja: ... Fisting: fist é “punho” em Inglês, tipo, punho da mão mesmo. Pense onde esse punho pode entrar. Acho que já deu pra ter uma noção das coisas pesadas a que o cara se referiu, né? Eu tentei me esquivar bastante da resposta, dizendo que pra fazer essas coisas era bem mais caro e que talvez ele tivesse dificuldade de encontrar algum garoto de programa que se dispusesse a atender essas necessidades sexuais dele.

Ele: pois é cara, ta foda. eu tenho namorado sabe, mas ele n curte essas coisas daí eu tenho que procurar fora

Ler que o Bruno não curte essas coisas foi um alívio tão grande... Imaginar ele transando já é algo que meu cérebro bloqueia; é tipo imaginar seus pais transando, sabe? Não dá. Daí a imaginar que, além de transar com o cara, ele ainda se dispõe a fazer essas coisas bizarras... já seria demais pra mim. Mas o grande problema aqui é: o namorado do cara me procurou pra fazer essas coisas... Tipo, e agora? O que eu faço? Falo pra ele? Finjo que nada aconteceu? Meu, o Bruno vai surtar se eu disser isso pra ele. Sério. Agora eu não sei muito bem o que fazer. Porque ele tem que saber com quem ele tá namorando, né?... Bom, deixei o cara de pau na mão. Falei que até fazia umas coisas mais punk, mas que o que ele queria já não era minha praia... Acho que vou acabar mostrando essa conversa pro Bruno. Mas, meu, ele vai ficar arrasado... Tô mais preocupado com a reação dele do que com o fato em si. Eu já não ia com a cara do cidadão mesmo; não me surpreende que ele esteja traindo o Bru. Mas sei lá. Vou ficar aqui pensando no que fazer; depois eu te conto.

E tem mais uma coisa. Eu e o Felipe agora conversamos, sabia? Tipo, regularmente. Ele deu uma maneirada nas cantadas (mas elas continuam) e a gente conversa... sobre assuntos diversos; nada muito pessoal ainda. E, cara, das duas uma: ou eu fiz muito mau juízo do cara ou ele mudou drasticamente. Ele é muito bom de papo. E não me parece estar (mais (?)) envolvido com drogas. Tem umas fotos dele bebendo com os caras nas festas e tal, mas nada comprometedor. E eu vejo muito de mim nele: ele se diz heterossexual e eu acredito, mas, ao mesmo tempo, ele admite muito abertamente que alguns caras (eu “no topo da lista” (palavras dele)) o atraem. Isso é um pouco do que acontece comigo... Tipo: transar com um cara e transar com uma mulher são sensações incomparavelmente diferentes, mas eu não sou hipócrita pra negar que, às vezes, acontece de ser muito bom! O Bartô, por exemplo: transar com ele é muito bom!, tanto por ele ser gente boa demais quanto por ele saber fazer as coisas na cama. O Paulo. Se ele quisesse transar comigo, eu o faria numa boa, sem nem pensar em Sasha Grey. Sei lá. Acho que o homem — o ser humano do sexo masculino —, por natureza, ou por cultura, ou por outro motivo qualquer, é criado de forma a desprezar o contato físico com outros homens de uma forma muito cruel, ditatorial, e acho que é por isso que nosso mundo é machista como é. Tipo, em festas, eu já cansei de ver meninas se beijando; meninas indiscutivelmente heterossexuais se beijando na boca como se não fosse da conta de ninguém (geralmente porque os caras pedem e já tá todo mundo meio bêbado). Agora, vê se isso acontece entre os caras. Às vezes me pego pensando nisso e acho que o mundo tá muito babaca. Não posso negar que, antes de me envolver com prostituição, eu fazia parte dessa parcela babaca, mas, depois, agora... acho tudo ridiculamente hipócrita, e, de certa forma, admiro muito o Felipe por ser assim (pelo que a gente andou conversando, todo mundo (incluindo as meninas) sabe que ele beija uns caras de vez em quando e ninguém parece ligar muito ou zoar ele por causa disso — e não digo que todo mundo sabe porque descobriu ou porque viu, mas porque ele mesmo não faz questão de esconder). Só sei que... bem, me perdi no que eu estava falando. Ah, sim, a conversa com o Felipe. Eu e o Felipe agora conversamos e ontem ele me chamou por inbox pra me convidar pra uma festa que vai ter na casa dele no próximo sábado. Eu não entendi qual é o propósito da festa, mas o Felipe a irmã dele são daqueles que não precisam de motivo pra festar; sempre que os pais deles viajam e a casa fica vazia, eles dão um jeito de fazer alguma coisa. A questão é: eu não sei se devo(/posso) ir, ainda por causa do Bruno, porque, caderno, é tipo lógico — tão lógico quanto saber que o sol vai nascer amanhã lá pelas seis — que, da próxima vez que a gente se vir, nós vamos ficar de novo; e, tendo em vista que o cenário, dessa vez, vai ser a casa “vazia” dele, é ainda mais lógico — nesse caso, tão lógico quanto 2 + 2 = 4 — que a gente passar pra segunda base, e que a vontade dele é do mesmo tamanho que a minha. Só que tem aquela coisa: ele vai ser eternamente o responsável pelo término do Bruno com o Otávio. Só que tem aquela outra coisa: o namorado do Bruno tá fazendo cagada (LITERALMENTE, risos) e, dessa vez, o responsável pelo término vou ser eu. E, de forma bem maquiavélica, confesso, a ideia de mostrar essa conversa com o Miguel pro Bruno só pra eu poder pegar o Felipe com a consciência tranquila está me sendo bastante tentadora... Mas eu ainda não decidi o que fazer. Preciso pensar com cuidado pra não enfiar os pés pelas mãos e deixar a situação ainda mais complicada. Me ajuda a decidir aí; preciso resolver essa questão antes do dia da festa.

E é isso. Vou descansar agora e continuar quebrando a cabeça aqui. Devo voltar em breve com a resolução dos fatos. Qualquer coisa a gente se fala, tá? Fica bem. Abraço! 

Vincent (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora