Oi
Mais uma semana se passou. Não, não deu uma semana ainda; foram cinco dias e meio. Nesses dias, muitas coisas pequenas aconteceram. Sábado, fui pra casa da minha avó, como eu disse que iria. Lá, nada demais aconteceu. Minha avó é muito legal, mas nunca tem nada pra fazer na casa dela, e a gente não tem tanto assunto pra conversar. Vale a pena ir lá por causa das comidas boas que ela faz e porque lá tem TV por assinatura no quarto em que eu fico. A de lá de casa fica na sala e eu tenho preguiça de ir assistir porque a sala é lá embaixo; acho longe. Almocei lasanha e tomei um pote de sorvete sozinho. Quer vida melhor que essa?
Segunda-feira foi feriado, não trabalhei nem estudei. Fiquei em casa, no computador, a maior parte do tempo. Também aproveitei o silêncio pra prestar atenção no movimento aqui em casa e parece que tá tudo bem. Nenhum som de briga, nenhuma conversa alterada, nada. Acho que as coisas acalmaram, se é que tinha alguma “coisa” acontecendo. Vai ver era só briga de casal mesmo. Acontece. Mas, ainda assim, achei minha mãe com uma cara meio... sei lá; estranha. Não fiquei perguntando demais até porque acordei bem tarde e o Lúcio chegou cedo do trabalho. Minha mãe não é exatamente minha melhor amiga. A gente se dá super bem, mas ela não me conta as coisas a menos que eu fique insistindo, e eu não gosto de pressionar. Moral da história: se tem alguma coisa que ela devia ter me contado, não contou. Vou acreditar que não há nada, pelo menos por enquanto.
Terça-feira, a Analice veio falar comigo lá na faculdade durante o intervalo. Eu estava trocando uma ideia com o Bruno e ela chegou do nada. Bruno, aliás, brigou com o Otávio, namorado dele, de novo. Esses dois logo logo terminam. De novo. Namoram desde que o mundo existe, mas nunca pararam com essa palhaçada de namorar terminar voltar brigar terminar voltar terminar ad infinitum. E o pior é que o Bruno gosta muito do Otávio, que eu não conheço bem, mas parece ser um cara legal. Não posso criticar porque não sei como o relacionamento deles funciona. Na verdade, não sei como nenhum relacionamento funciona, porque o mais longo que eu tive durou dois meses. Depois os caras ficam me chamando de galinha. Que culpa eu tenho se as coisas não dão certo pra mim? Quando me interesso por uma menina, ela não quer saber de mim e vice-versa. Agora tem a Analice, que é uma delicinha de comer em pé, mas não vai me levar pra lugar nenhum além da cama, que é para onde ela quer voltar, pela conversa de hoje. “Ah, você sumiu, não me mandou mensagem, não ligou...”. Não me lembro de ter dito que faria nenhuma dessas coisas. Nem de ter deixado subentendido. Tenho a impressão de que isso ainda vai feder.
Por fim, hoje, aconteceu a parte mais importante, que eu não contei primeiro pra não sair da ordem cronológica dos relatos: fui demitido. É mole? O gerente pediu pra eu passar na sala dele depois do expediente e me deu a notícia. Disse que era pra eu ficar tranquilo que eu não tinha feito nada de errado. O dono da filial precisava eliminar um funcionário para cortar gastos e o escolhido fui eu, por ter menos tempo de casa. Dez meses, fiquei lá, eu acho. Mas nem estou achando muito ruim, não. Vou sentir falta do pessoal, mas não era o melhor serviço do mundo. Muito tempo trabalhando em pé, carregar estoque, receber mercadoria, ajudar no caixa, lidar com idosos que não escutam direito e teimam que o remédio não é X, mas Y, e que o preço não é Z, mas W, e que vai procurar em outra farmácia, que isso é um abuso... Realmente, não era minha xícara de chá. Pelo menos vou receber alguns meses de seguro desemprego; deve me ajudar a segurar as pontas até arrumar coisa melhor. “Segurar as pontas” modo de dizer, né? O dinheiro que eu ganho é praticamente inteiro meu. Pago só a internet; o resto é por conta da minha mãe e do Lúcio, incluindo a faculdade, que eu recebo bolsa parcial por ter estudado em escola pública a vida toda (sim, caderno, “enriquei” só depois que minha mãe casou de novo) e, no final das contas, não sai tão caro. Bom que eu vou ter mais tempo pra estudar. Ou, melhor ainda: vou ter tempo. Estudar e trabalhar é bem exaustivo. Acho que estou merecendo um pouco de descanso mesmo. Vou tratar de aproveitar.
E essas são as notícias da semana até agora. Por enquanto, sem perspectivas para sábado e domingo, mas vamos ver o que acontece até lá. Tentei enrolar a Analice, mas acho que vou ter que dar uma satisfação cedo ou tarde. Ai ai. Vou indo. Daqui a uns dias eu volto. Falou.
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Vincent (romance gay)
General Fiction::: LIVRO COMPLETO ::: Daniel é um jovem de vinte e um anos que mora com a mãe e com o novo padrasto em um bairro de classe média da cidade fictícia de Taigo. Daniel leva uma vida tranquila, mas essa tranquilidade logo é abalada quando o jovem per...