Boa noite, caderno!
E aí? Como você tá? Eu vou muito bem, obrigado. Hoje o dia foi bom, muito bom. Acordamos cedo, tomamos café, fomos caminhar na praia, o Felipe e o Paulo já viraram tipo melhores amigos porque os dois surfam, eu e o Bruno ficamos meio que sobrando perto deles, mas tudo bem; sempre bom quando seus amigos viram amigos dos seus amigos, não é mesmo? É, sim. Sem contar que eu estou meio que com ciúmes do Bruno com o Paulo por eles estarem dividindo o quarto e a cama, coisa que, até anteontem, era privilégio só meu. Não que eu ache que possa rolar algo entre eles — o que também não deixa de ser uma possibilidade, já que nós quatro aqui, embora em níveis diferentes, temos tendências homossexuais. Mas, ainda que rolasse algo entre eles, eu acharia é bom, sabe? O Bruno já saiu do fundo da fossa, mas, ainda assim, me preocupo com ele. Acho que o Paulo seria um cara legal pra fazer parte da vida dele--
Mas por que é que eu tô falando disso? Vim aqui contar outra coisa... Começo a viajar nos assuntos e sempre me perco; acho que vou passar a anotar os tópicos sobre os quais tenho que falar antes de começar a escrever, porque sempre me empolgo e me perco... Bem, vamos lá. Ah! Sim. Duas coisas legais aconteceram hoje. Na verdade uma aconteceu na madrugada de ontem pra hoje e a outra aconteceu agora antes de anoitecer, quando a gente estava voltando pra casa. Vou começar pela primeira, pra ficar na ordem cronológica.
Como eu já disse, eu e o Felipe estamos dividindo o quarto, né? Pois bem. Ontem, eu estava aqui escrevendo em você e ele estava jogando Call of Duty. O Bruno e o Paulo estavam assistindo à série que eles assistem no quarto, na TV do Paulo. Depois que eu terminei de escrever, fui jogar mais uma água no corpo antes de me deitar pra dormir. As luzes do quarto já estavam apagadas, eu deitado no colchão e o Felipe ao meu lado, na cama, concentrado no jogo. Quando viu que eu já estava me acomodando pra dormir, ele desligou o computador. Não sei se pensou que a luminosidade da tela me atrapalharia ou se ele só estava esperando eu me recolher pra fazer o mesmo. Trocamos um “boa noite” e ficamos em silêncio por um tempo. Não “ficamos em silêncio” porque nos calamos quando deveríamos conversar; ficamos em silêncio porque íamos dormir mesmo; pelo menos era essa a minha intenção.
Alguns minutos depois (não muitos, mas também não tão poucos), ele me chamou: “Dan?”. Eu já estava sonolentinho, mas ainda lúcido; respondi com um fungar: “Hum?”. E ele: “Tá acordado?”. Eu nunca vou me cansar de insistir em quão adoravelmente lerdo o Felipe é. É lógico que eu estava acordado, ora. “Uhum”, respondi. Ele ficou quieto quando deveria dizer o que queria ao me chamar. “Que foi?”, perguntei. Ele ainda demorou uns segundos pra responder, mas disse finalmente: “Tsc... Queria deitar com você, cara”. Eu não sei se fica claro pra você quando eu associo noções de ternura com lerdeza pra tentar qualificar o que é o Felipe, mas eu queria muito que você entendesse, porque, meu, é muito bonitinho. Ri baixo, mas acho que ele ouviu. Não tinha problema ele ouvir. É claro que não caberíamos nós dois naquele colchão de solteiro, mas, como o quarto em que estamos é relativamente grande, sugeri: “Põe o colchão aqui do lado, ué...”. “Você deixa?”, ele perguntou. Olha isso. Não é uma coisa fofa? É claro que eu deixaria. “Claro, chega aí...”, respondi, me levantando e chegando o colchão pro lado, deixando espaço o suficiente pra ele tirar o colchão de cima da cama dele e ajeitá-lo ao meu lado. E assim ele fez. Desceu da cama, tirou o colchão de cima dela, colocou-o ao meu lado e se deitou, rindo e me agradecendo em seguida. Nada que precisasse de agradecimento. Eu já parei de me fazer de bobo pra ele porque já é muito claro que o fogo que ele tem por mim é exatamente o mesmo que eu tenho por ele. Bom, aí ele passou um braço pela minha barriga e eu o abracei e a gente deu uns beijos, é lógico. E teve umas mãos bobas também. Mas só, que eu continuo fiel à política de não transar na casa do Paulo. Depois disso, meu sono deu uma dissipada. Ficamos acordados por um tempo conversando sobre coisas diversas. Ele me agradeceu, bastante surpreso, quando eu disse que fui eu que tive a ideia de chamá-lo pra viajar com a gente. Depois falamos sobre faculdade, relacionamentos, música, vídeo games e... trabalho. “Cê saiu lá da farmácia?”, ele perguntou. “Sai, já faz um tempo”. “É? Tá trampando com que agora?”.
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Vincent (romance gay)
General Fiction::: LIVRO COMPLETO ::: Daniel é um jovem de vinte e um anos que mora com a mãe e com o novo padrasto em um bairro de classe média da cidade fictícia de Taigo. Daniel leva uma vida tranquila, mas essa tranquilidade logo é abalada quando o jovem per...