Entrada LV

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Boa noite, amigo!

E aí? Como você tá? Espero que com você esteja tudo bem. Comigo está tudo “ok”: não estou mais aquele furacão de emoções, mas ainda restou um pouco de ansiedade pro próximo sábado, quando eu for falar com o desgraçado de novo... Mas não tem problema; o pior já passou e todo mundo sobreviveu; estou agora só descansando do estresse emocional.

Hoje o dia foi bom, de modo geral. Saí com o Bartô, depois de muito tempo; fomos lá pro flat, onde tudo começou, e passamos um tempo tão legal juntos que nem transamos. Eu quase contei sobre essa coisa toda com o desgraçado (o Bartô sabe de parte da minha vida), mas o Paulo sugeriu que eu não comentasse sobre esse assunto com quem fosse de fora do meu círculo porque corre-se o risco de alguma informação vazar e isso comprometer as investigações. Melhor não comentar nada, mesmo.

Falando em Paulo e investigação, hoje ele formalizou a denúncia na Corregedoria. Como ele tem contatos lá, foi muito mais fácil pra ele do que teria sido pra mim. Entreguei a ele todo e qualquer tipo de material e informação que pudessem servir de evidência e ele encaminhou o que julgou relevante. Quero ressaltar, porém, dois cumprimentos que ele me fez: 1) “Você foi brilhante, Dan! Com essa resolução do vídeo, com a qualidade do áudio e com o tipo de informação que você conseguiu, é fácil fácil identificar e entregar seu padrasto. Isso agiliza bastante o processo!”. Parece que, quando as pessoas aparecem com provas em áudio e vídeo, as imagens geralmente são registradas naqueles celulares que têm câmeras de 0.5 mega pixels, e isso dificulta muito a identificação de quem quer que seja. Depois: 2) “Dan, não me leve a mal; com todo o respeito: você dá muito gostoso. Devia investir nisso!”. Reticências de silêncio. Acho que, se eu tivesse atinado pro fato de que o Paulo veria isso depois, eu teria sido mais discreto. Mas fazer o quê? Não apenas eu precisava ser convincente o bastante, mas também o negócio estava surpreendentemente bom. Não sei se de hoje em diante eu vou querer me tornar adepto dessa prática rotineiramente, mas as experiências que tive foram positivas, sim, vai.

Falando nisso, Felipe veio falar comigo ontem e ele e o Bernardo já concretizaram a paixão, se é que você me entende. Olha como as coisas acontecem rápido pras pessoas. Não sei se foi a primeira vez do Bernardo; não cheguei a perguntar se ele transou com algum cara depois de sair de casa, mas, pelo relato do Felipe, não parecia ser a primeira, não: Bernardo sabia o que estava fazendo... Falei pro Felipe ter cuidado com o Bernardo. É tudo bem ser pegador e ficar com quantos e quantas der vontade, mas nem sempre todo mundo concorda com isso. Sugeri que, caso ele queira ficar com o Bernardo + quem quer que seja, é bom deixar tudo muito bem esclarecido, assim ninguém quebra a cara depois. Mas o Felipe é gente boa; tenho certeza que não vai pisar na bola.

Quanto ao Bruno... Ai ai. Quanto ao Bruno eu não sei. Parece que a gente tá em outra realidade. Hoje não aconteceu nada demais, mas o clima aqui em casa mudou, de um jeito bom; parece que uma nuvem de primavera paira sobre nós. Que lindo, não? A gente tá bem, muito bem; ele tá legal comigo, eu tô legal com ele e assim as coisas caminham — não sei pra onde, mas caminham. Eu ainda tô com as emoções fora de ordem; não sou a melhor pessoa pra dar satisfação sobre essas coisas. E é difícil ler o Bruno: se eu quase nunca sei o que ele pensa ou sente em relação às coisas da vida cotidiana, imagina como saber o que ele sente em relação a mim — e veja que eu disse “em relação a” mim, porque saber o que ele sente por mim já está milhas além das minhas faculdades cognitivas. Fica a dúvida pra todos nós.

Vou ficando por aqui, que hoje não tem nada de muito produtivo pra contar. Amanhã é um novo dia. De novo. Acho que vou ligar pra Clarissa pra saber como ela tá e contar que já começamos a derrubar o esquema. Não sei se venho escrever amanhã, mas, como sempre, volto assim que alguma coisa interessante acontecer. Você se cuide, tá? Falamo-nos em breve. Abração!

Vincent (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora