Fala, caderno.
Cara, que doideira. Que. Doideira. Essa vida de meretrício tá me rendendo umas surpresas assim... muito... interessantes. Eu queria muito, mas muito mesmo te falar quem é a Helena, mas não vai dar. Helena é o nome de batismo dela, que quase ninguém conhece, então vou mantê-lo assim mesmo. Mas, meu: a Helena é tipo famosa. Bem famosa. Ela é atriz. Não é a melhor atriz que este país já viu, nem fez tantas novelas assim, mas me lembro de já ter visto um filme com ela. E me lembro de já tê-la visto andando no shopping, meio disfarçada, também. Cara, eu ainda tô meio em choque. E mais em choque ainda com o que ela queria que eu fizesse.
Mas, calma, calma: vamos por partes, como sempre. Ontem, como eu disse, tive que desmarcar o programa. É claro que eu não ia desmarcar o negócio e deixar por isso mesmo. Expliquei que tive uns problemas familiares e perguntei se tinha problema marcar pra hoje. Não tinha, então marcamos pra hoje no mesmo horário: depois do almoço. Beleza. Comi pouco, pra não ter uma indigestão na hora do ato, e me arrumei pra sair. Chegando na Mesquita, me encostei no meu poste e esperei. O frio deu uma amenizada; o sol tava gostoso. Logo logo passou um carrão preto e parou à minha frente. Olhei pelo vidro e percebi que não era uma mulher no volante, mas um cara. Ele saiu, me cumprimentou abaixando a cabeça, abriu a porta do carona pra mim e eu entrei. Percebi, então, que ele era algum tipo de motorista particular. Logo depois, ele entrou no carro, fechou a porta e deu partida. Não trocamos literalmente nem uma palavra ao longo do trajeto; só fiquei observando o caminho que ele fazia. Passamos por uns bairros chiques, fomos indo, indo, indo, chegamos em outro bairro chique e logo estávamos na mansãozinha dela, em Assunção, que é tipo a Beverly Hills de Taigo. Gente famosa geralmente mora por aquelas bandas. Fiquei só admirando. O motorista desceu do carro, abriu a porta pra mim (me senti uma dama) e disse: “Queira me acompanhar, por favor”. Ele foi na frente, e eu só olhando. A mansão era toda branca por fora, parecendo um palacete, com grama ladeando um caminho que levava pras escadas que davam acesso à entrada principal da casa. Coisa de filme, mesmo. Tentei parecer natural, mas não dava; parecia que eu estava entrando na mansão dos Bracho.
Quando entramos, outro criado me esperava à porta, com uma cara simpática, mas muito séria. O motorista voltou pra fora e fechou a porta. “Dona Helena já está a caminho”, o empregado disse. Consenti com a cabeça e fiquei parado, com os braços cruzados pra trás, olhando pras paredes. Gente rica é outra coisa, né? Eu, por mim, não teria nada pra fazer com uma casa daquele tamanho. Achei a decoração um pouco exagerada. Muito tapete, muito quadro, muito vaso, muito vidro... muita informação. Mas tava bonito. “O senhor aceita uma bebida ou alguma coisa?”, o empregado perguntou. “Não, não; eu tô bem, obrigado”. Passados mais alguns segundos, ela apareceu, vestindo um robe de cetim, como se estivesse saindo do banho. Ela me sorriu e eu tentei disfarçar meu estarrecimento. Aquela mulher, caderno!!!! A da TV!!! Tentei parecer o mais neutro possível, mas foi impossível não levantar as sobrancelhas ao me dar conta de quem era Helena.
“Tudo bem, Vincent?”, ela perguntou, me estendendo a mão. Retribuí o cumprimento e respondi que sim. Pra não te deixar tão curioso: Helena é uma mulher de 40 e poucos — mas que poderia dizer ter 35 (deve ter um botox ali, contudo) —, loira natural, olhos azuis, sorriso branco, corpo em forma, algumas sardas espalhadas pelo rosto, lábios finos... Ela é uma mulher bem bonita; você certamente a conhece. “Alberto”, ela chamou o empregado, “o pagamento, por favor”. Ele aquiesceu e se retirou por alguns segundos. Ela manteve os olhos nele, evitando o contato visual comigo, e ele logo voltou com um cheque, que ela me entregou dizendo: “Seu pagamento. Acredito que isso pague seu trabalho e seu silêncio”. Peguei o cheque e tive que olhar, afinal ela sabia o meu preço e não precisava assinar um cheque: bastava me entregar uma nota de 100. Quando olhei pra conferir, o cheque não era de 100 pilas, mas de 3000. Três mil. Tentei, pela segunda vez, parecer natural e confortável, mas ela não tava facilitando. TRÊS MIL CONTOS, caderno! Três mil! MEU MÊS INTEIRO! Claro que não reclamei nem fiz qualquer objeção, mas acho que ela percebeu minha surpresa. Enfiei o cheque dentro do bolso traseiro da calça e acompanhei Helena, que se virou e começou a caminhar em direção a outra parte da casa, provavelmente o quarto dela.
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Vincent (romance gay)
Ficción General::: LIVRO COMPLETO ::: Daniel é um jovem de vinte e um anos que mora com a mãe e com o novo padrasto em um bairro de classe média da cidade fictícia de Taigo. Daniel leva uma vida tranquila, mas essa tranquilidade logo é abalada quando o jovem per...