E aí, caderno?
Tudo bem? Eu vou bem também, obrigado. Tô meio puto, mas tô bem. O tempo passa rápido, né? Já tá indo pra três meses que eu tô nessa vida bandida... Mas não posso reclamar, não, que o vento tá soprando a meu favor. Tô ganhando bem, aguentando firme os coroas sem noção, pensando muito em Asa Akira e tá tudo dando certo. Ainda tô conseguindo lucrar relativamente bem sem ter que abrir mão da faculdade, embora eu ainda esteja naquele esquema de matar muita aula. Teve um professor, dia desses, que me chamou a atenção por isso. E eu ia falar o quê? “Foi mau, professor, tive que perder sua aula porque tava fazendo uns programas pra pagar a mensalidade...”? Sem chance, né? Dei uma desculpa qualquer e tô aí na atividade. E, como diz uma cantora aí que o Bruno curte: je ne regrette rien.
Já falei que eu tô puto? Meu, ontem eu tava aqui em casa de boa quando o celular toca. Fui atender, era um cara com uma voz muito suspeita. Tava com jeito de que queria fazer alguma coisa hardcore, mas, ao telefone, não deu detalhe de nada; só perguntou os preços e pediu pra marcar horário. Atendi normalmente; passei as informações e ficou combinado de a gente se encontrar lá na Mesquita, como sempre. Beleza. Deu a hora do programa: 19h — eu matando aula, pra variar. Me encostei no poste, também como sempre, e fiquei lá esperando o cara. Não me falou nome nem nada; só falou que ia passar às 19h. E eu lá. O frio deu uma melhorada, mas o vento ainda tava meio gelado. E eu olhava prum lado e olhava pro outro e nada de o cara aparecer. E aquela rua deserta com aquele clima estranho e nada do cara. E eu lá esperando. Deu quinze minutos, vinte, vinte e cinco, meia hora e nada do cara. 19:35 e nada. Eu já tava puto. O cara sabia meu telefone. Se fosse se atrasar, era só me ligar. Mas não. Deu oito horas e nada do filho da mãe. A essa altura eu já tinha sentado, levantado, ido até a esquina, voltado, sentado, levantado de novo, escorado no poste... Fiquei parecendo um idiota lá. Enfezei e voltei pra casa.
“Ué, já?”, o Bruno perguntou. “Levei um bolo”, respondi. “Ih, que ruim, hein?”. Primeira vez que isso me acontece. Tentei ligar de volta pro malandro, mas o celular só dava desligado e eu não fiquei insistindo, até porque, se ele atendesse, eu ia xingar ele big time. Mas achei engraçado o Bruno perguntar. Já devo ter comentado aqui que nós não falamos sobre os programas nem nada, né? Agora ele comenta alguma coisa, de vez em quando. É claro que não estamos no nível de falar abertamente sobre sexo nem nada, e não sei se chegaremos nesse nível, mas achei legal ele ter perguntado. Não sei por que. Tô achando o Bruno muito solitário. Depois que ele terminou com o Otávio, ele mudou um pouco. Ele era mais sarcástico; tinha um senso de humor mais mordaz; agora ele tá mais... dócil. “Dócil” não; dócil ele sempre foi. Ele tá mais introspectivo; sempre sério, falando menos do que o de costume... Ele fala pouco, mesmo, mas o pouco dele tá mais pouco do que o de antigamente. Vou ver se descolo um brother pra ele sair dessa.
Por falar em conversar sobre sexo, um garoto de programa de outra cidade me adicionou no Face dia desses. “Bob”, o codinome dele. Conversamos umas duas vezes só. Ele parece ser gente boa, mas, desculpe o preconceito linguístico, o cara não sabe escrever.
e ae cara blz meu nome é bob sou de edsen vi que tu é gp tbm e to add flw
Ele mandou isso por inbox quando adicionou. Respondi educadamente e conversamos mais um pouco depois disso, mas não muito. Ele é moreno jambo, tem um cabelo muito estranho: muito espetado e muito alto, meio que um moicano que vai pra várias direções. É difícil explicar. É mais velho que eu uns anos e tem jeito de ser xucro tanto quanto parece. Como eu disse, conversamos pouco, especialmente porque eu entro no Face do Vincent menos do que no meu oficial, então não fico lá o tempo todo coçando o saco, mas ainda quero falar com ele e trocar uma ideia. Ele certamente tem mais experiência do que eu nisso e ainda tem umas coisas que eu tenho curiosidade de perguntar e não sei pra quem. Acho que vai ser ele mesmo.
Bartô deu um tempo de mim. A mulher dele tá desconfiada de que ele anda pulando a cerca. Creio que ela não suspeita de que do outro lado da cerca tem um garoto de programa, mas ela parece estar muito certa de que tem uma terceira pessoa na história. Por isso, vi o coroa só uma vez esse mês. A gente tá ficando mais amigo do que profissional/cliente, cara. Pode isso? Já tô ficando sem graça de aceitar o dinheiro dele — mas não posso nem vou recusar porque ele é meu cliente mais generoso. E ah! Uma mulher me ligou hoje! Helena, o nome dela. Marcou comigo pra amanhã depois do almoço. Vagina, caderno! Vagina!!! Ouça só os fogos de artifício! Haha. Ainda não sei o que vai ser, mas, pela voz, ela não era nenhuma “coroa ricaça”, não. Tinha um timbre sério, mas mais jovial. Deve ter uns trinta e poucos. Amanhã eu descubro. E é isso. Tudo indo bem, na medida do possível. Assisti a um filme legal hoje sobre garotos de programa. Boy Culture. Coisa do Bruno, lógico. Acho que me identifiquei um pouco com o personagem principal, apesar de ele ser gayzão mesmo, de só atender caras. O coroa que ele faz amizade me lembrou muito o Bartô, embora o do filme fosse bem mais velho que ele.
Enfim. Vou dormir agora. Amanhã eu venho contar o que rolou com a Helena. Deseje-me sorte! Boa noite!
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Vincent (romance gay)
General Fiction::: LIVRO COMPLETO ::: Daniel é um jovem de vinte e um anos que mora com a mãe e com o novo padrasto em um bairro de classe média da cidade fictícia de Taigo. Daniel leva uma vida tranquila, mas essa tranquilidade logo é abalada quando o jovem per...