Entrada XLIV

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Boa tarde, amiguinho.

Tudo tranquilo? Espero que sim. Por aqui tá tudo bem também. Ah, já estamos em Taigo. Anteontem o Paulo recebeu uma ligação de algum caso importante que ele tá acompanhando e nós acabamos tendo que voltar pra cá uns três dias antes do previsto. Mas não teve problema; deu tempo de fazer tudo que a gente queria (menos sexo com o Felipe; isso eu tive que fazer ontem depois que a gente chegou. Pô, uma semana dormindo com o cara do meu lado sem fazer nada além de dar uns beijos quando não tinha ninguém por perto? Maldade. Mas matamos a vontade — “matamos” não: assassinamos, homicídio triplamente qualificado, com requintes de crueldade! (ok, sem crueldade)). Até ia vir aqui escrever ontem à noite, depois da viagem, mas bateu uma preguiiiça... Deixei pra hoje mesmo.

Falando em hoje, hoje de manhã eu liguei pra minha mãe (aliás, depois de a última vez em que nos vimos, nós meio que fizemos as pazes. Meio. É lógico que eu ainda sinto a mágoa de ela ter ficado do lado do desgraçado e não do meu, mas, caderno, olha pra minha vida. Eu acabei de voltar de uma viagem à praia com meus amigos; tenho casa, comida, roupa boa lavada, sapatos, estabilidade financeira, tempo livre... Do que é que eu posso reclamar? Depois que o desgraçado me chutou pra fora de casa, minha vida mudou pra melhor! Posso ter mágoas por outros motivos, mas não posso dizer que hoje em dia minha vida tá uma merda por causa da minha mãe, porque não tá. Além disso tudo, o fato de o desgraçado estar com o alcoolismo sob controle me tranquiliza um pouco, porque pelo menos a integridade física dela eu sei que está, teoricamente, segura —  o que, claro, não anula todos os sentimentos de vingança que eu tenho por ele e minha vontade de matá-lo a sangue frio, afinal foi ele que me expulsou de casa, me ameaçou de morte, mandou me darem uma surra e agora, como recém descobri, está traindo a minha mãe com prostitutas lá no tal de canil. Essas contas todas eu e ele ainda precisamos (e vamos) acertar) e contei sobre a viagem, sobre Atma, sobre as coisas todas. Ela me perguntou como está a minha vida, se eu estou me cuidando, usando camisinha em todos os programas (ah, é: ela “aceitou” minha profissão desde que passamos o dia lá na casa da minha avó, outra coisa que me tirou um peso das costas), fazendo exames regularmente... Essas coisas. Depois, veio me fazer um convite.

Não parece, mas semana que vem já é Natal. Ela aproveitou a ligação pra me convidar pra passar o Natal e o ano novo na casa deles. E ela fez esse convite com bastante empolgação, pois, acredite: segundo ela, quem teve essa ideia foi o desgraçado. Sim, o próprio, e isso me deixou com muitas pulgas atrás da orelha. Por que ele fez isso? É óbvio que ele não quer fazer as pazes comigo nem eu com ele. Só se ele fosse muito burro pra pensar numa possibilidade dessas e burro eu sei que ele não é e ele também sabe que eu não sou. Agora, pensa bem. Vai que ele quer que eu passe as festas lá pra ele me matar? Ele já me ameaçou duas vezes pelo menos e isso eu não duvido nada que ele tenha capacidade de fazer. E sei lá, acho que eu tô muito novo pra morrer. Não sei se posso confiar. Por outro lado, levando em conta que ele me beijou no banheiro do salão, não dá pra negar que a curiosidade de saber como ele vai agir na frente da minha mãe estando em minha presença é gritante. Ainda não dei uma resposta definitiva e realmente não sei se quero ou não ir. O Natal é mais provável que eu não vá, porque nós vamos passar na casa do Felipe (menos o Paulo, que tem a família dele aqui e vai passar com eles), agora o ano novo já é uma possiblidade a ser estudada...

O que você acha que eu devo fazer, cara? Me ajuda a decidir. É semana que vem o negócio, tenho poucos dias pra agir. Falei pra minha mãe que, caso eu decidisse alguma coisa, ligava pra ela ou mandava mensagem. O que você acha? Vou ou não vou? S.O.S!...

Ó, vou correr aqui que eu tenho que trabalhar agora, que a labuta já recomeçou. Nos falamos em breve, tá? Um abraço!

Vincent (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora