Voltei!
E aí? Tudo bem? Espero que sim. Comigo tá tudo tranquilo também; resolvi tudo que eu tinha pra resolver; acho que agora dá pra voltar a escrever aqui regularmente. Hoje é domingo e eu vim escrever sobre um evento ocorrido semana passada, sobre o qual não vim falar porque tava muito enrolado com as coisas da faculdade: completei um mês de prestação de serviços sexuais! Aeeee!!! Digno de comemoração, não é? É: na verdade não, eu sei. Mas acho que tenho motivos pra comemorar, porque a balança comercial fechou em alta pra mim, considerando que eu acabei de entrar no negócio. Fiz seis programas: dois com o Bartô, um com o casal voyeur e outros três que eu não contei aqui porque foi mais do mesmo: senhores de classe média alta que não saíram do armário e não tiveram muitas oportunidades pra... digamos... Ah, você entendeu. Um deles foi indicação do Bartô, aliás. Preciso arrumar mais clientes iguais ao Bartô. Fui lá na casa dele aquele sábado e ele me contratou pra uma tarde inteira. Me pagou quinhentinhos, sem contar o champanhe, o churrasco, o banho de piscina, as histórias da hora que ele conta, as risadas. Gente fina demais esse coroa. Em compensação, teve um outro tio aí que foi meio difícil de encarar. Custou pra barraca armar e tive que pensar muito que era a Sasha Grey ali pra não decepcionar. O outro foi tranquilo, mas o boquete do Bartô segue na liderança.
Aqui em casa, tudo vai bem, também. O Bruno não me pergunta nada sobre os programas, mas às vezes eu queria conversar com ele sobre isso. Não, caderno, não é que você não baste: é que você só fica aí quietinho armazenando o que eu digo; de vez em quando, queria dialogar com alguém de carne e osso. Mas imagina que bizarro eu e o Bruno falando de sexo gay antes de dormir. “Nossa, Bru! Atendi um coroa hoje que parecia uma caçapa de tão largo! O Otávio era assim também?”, “Não, o Otávio só fazia o passivo de vez em quando”. Sem chance, né? Acho que tô meio solitário. Isso de fazer programa está me fazendo sentir assim. Fiquei com aquilo que o Bruno falou na cabeça. Vira e mexe eu me pego pensando no quanto essas esposas ficariam tristes se descobrissem que o marido delas é gay, ou que têm prazer em transar com caras e fazem isso escondido delas... É claro que chegar e falar que se tem esse tipo de desejo não deve ser muito fácil, mas, poxa... Daí fico pensando se fosse comigo; se eu fosse uma dessas esposas, ou se eu tivesse uma namorada e ela me traísse, ou ainda se eu fosse o namorado e fizesse isso com ela... E fico pensando e pensando e pensando e paro de pensar senão perco a fé na humanidade, perco a fé no amor e não posso perder a fé no amor porque ainda quero saber qual é a desse barato.
Falando em ser humano, faz uns dias que não converso com a minha mãe. De vez em quando ela me liga pra saber como vão as coisas e como eu tô fazendo pra me virar com grana. Apesar de tudo, não quero falar que estou fazendo programa. A vida dela também já tá toda desgramada; não ganho nada piorando isso. Mas a nossa relação tá daquele jeito que você já sabe. Acho que sinto mais falta da minha avó — por sinal, saudade do pão de queijo dela!
Mudei o layout do meu blog e coloquei um contador de visitas. 157 visitas em menos de um mês, considerando que eu não divulguei o endereço em lugar nenhum antes de o Bartô me ligar pela primeira vez. O perfil no Face também tem recebido umas visitas. Entrei num grupo chamado “GPs em Taigo”. Tem mais de duas mil pessoas. Meu, tem muita gente atrás de garota de programa nessa cidade, e a maioria é cara mais velho já; a maioria deve ser casado. E quando as travestis postam, puts! Os caras ficam loucos! Fico tentando imaginar o que se passa na vida desse pessoal, mas não consigo: é além da minha compreensão: os caras gostam de dar a bunda mesmo! Teve uma (“Joyce Valentine”, o nome da criatura) que respondeu um dos posts lá e, pelo que eu entendi (fico só lendo as conversas), são elas que comem os caras na maioria das vezes. Tipo... ??? A sexualidade desses coroas é muito bizarra pro meu gosto: gostam de dar a bunda, mas o pinto tem que estar numa travesti, não num homem. É pra parecer menos gay isso? Ou eles não se acham gays? Ou eles não são gays mesmo? Porque o Bartô, por exemplo, gosta de liberar atrás mas faz isso comigo (descobri que ele só faz programa comigo, fiquei me achando demais! HAHAHA!), não com uma “menina de tromba” (alguém postou isso no grupo e eu quase caí da cadeira). Minha cabeça deu uns nós depois que eu me envolvi nessa vida, viu? Às vezes dá vontade de falar sobre isso com o Bruno (já falei que ele estuda Psicologia?), mas, como eu disse ali em cima, não dá.
Enfim. Trocando em miúdos: esse grupo é a maior putaria e eu sou meio que um estranho no ninho lá. Criei meu perfil, publiquei um único anúncio oferecendo meus serviços a quem pudesse interessar e só. Eu sou muito na minha; fiquei me sentindo meio “exposto” no meio daquele bando de coroas carnívoros. Mas ah, somos todos (que anunciam) colegas de trabalho e estamos lá pra fazer propaganda, não é mesmo? É, sim. E deu certo, viu? Assim: quase certo. Um barbudo gordo grandalhão viu meu post, me chamou em privado e me perguntou se eu fazia felching. Tive que pesquisar o que era e na primeira imagem já me arrependi de ter pesquisado. Povo nojento, meu, fala sério. Por enquanto, tô nessa de divulgação. Parece que o anúncio no jornal rende menos do que o online... Tô pensando em escrever alguma coisa no blog, também, mas ainda não sei o que. Não vou fazer que nem faço aqui e publicar o que faço na cama com os caras, né? Falta de respeito isso, mesmo trocando uns nomes aqui e ali. Mas também não sei se vão ler o que eu escrever... Também, vou escrever sobre o quê? Sobre os livros que eu leio? “Crime e Castigo é, sem dúvida, um dos melhores livros que já li! E vocês, pessoal? Já leram? Qual seu autor favorito? Deixem nos comentários! Abraço, Vincent. Telefone pra contato”. Brilhante, não? Vou pensar melhor sobre isso. (não)
As coisas estão caminhando. Devagar, mas adiante. Se tudo continuar bem como começou, acho que vou dar certo nesse negócio. Ainda não consegui traçar aquela linha de chegada que comentei aqui há um tempo (quando foi?) e acho que trancar a faculdade vai ser uma pedra no caminho que leva a essa linha... Mas é uma opção que eu tenho considerado fortemente; tenho escolhido a dedo quais aulas matar pra fazer programa e isso não é legal. Por outro lado, o dinheiro fácil que vem dos programas é muito tentador... Não sei se eu me incomodaria de ficar nessa pra sempre. “Pra sempre”. Sabe o que poderia acontecer? Uma produtora de filmes pornôs me contratar! Eu ia achar o máximo. Já tô nessa de comer homem barbado mesmo, ser pago pra fazer isso em frente às câmeras não ia me doer nada. E eu ia receber melhor e ia transar com uns caras mais ajeitados. Apesar de que se quisessem vir pro lado do meu furico eu já teria que pensar duas vezes. É brabo, caderno, é brabo! Tsc. Que coisa, não? Um rapaz de fino trato feito eu, que lê Dostoiévski e chama os clientes de “senhor”, se dispondo a prestar esse tipo de serviço... Tá complicada, essa vida. Mas vamos vivendo, um dia de cada vez, que o que tiver que ser vai ser.
Bora pra cama agora que amanhã é um novo dia. De novo. A gente se fala. Abração!
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Vincent (romance gay)
General Fiction::: LIVRO COMPLETO ::: Daniel é um jovem de vinte e um anos que mora com a mãe e com o novo padrasto em um bairro de classe média da cidade fictícia de Taigo. Daniel leva uma vida tranquila, mas essa tranquilidade logo é abalada quando o jovem per...