E aí?
Cara, o negócio hoje foi estranho... Te contei que o programa hoje era com o cara que me pagou pra eu me masturbar, né? Vamos chamá-lo de JP, que o nome dele é duplo mesmo, então fica por sua conta adivinhar o que é o J e o que é o P. JP já é um coroa em estágio avançado: deve ter uns setenta anos, pelo menos. Se tiver menos, deve ter alguma doença séria, porque ele tá bem acabado. Magro, mas não muito, usa óculos redondos, estilo Harry Potter, e uma bengala. Estava de terno e gravata nas duas vezes em que nos vimos e, também em ambas, veio me buscar com motorista particular. O carro dele eu não conhecia, mas era carrão. Claro, esses coroas são tudo rico. Quando entrei no carro, cumprimentei-o e ele respondeu com um aceno. Ele falava pouco, quase nada. Respeitei o silêncio dele e também fiquei na minha. Em dado momento da viagem, porém, ele perguntou com a voz um tanto rouca: “Você é heterossexual, não é?”. Quase respondi “Nas horas vagas, sim”, mas só confirmei com a cabeça. “Ótimo”, ele disse.
Na primeira vez em que nos vimos, fomos pra casa dele. Dessa vez, ele pediu pro motorista ir pro “canil”. Sim: canil. Fiquei por entender, mas não questionei. Enquanto o motorista guiava, ele disse: “Você passou no teste”. “Que teste?”, perguntei, confuso. “Gosto de avaliar os produtos que consumo antes de comprá-los”. Frase extremamente dúbia, que eu não entendi nem pedi explicações.
Ao final da viagem, chegamos a uma casa que fica em um lugar de Taigo que eu não consegui identificar. Era longe, pelo tempo que o motorista levou pra chegar lá. A rua era comprida. De um lado, havia casas ajeitadas; do outro, casas muito grandes. Na rua, alguns carros estacionados e só. Nenhum ruído urbano, nenhum movimento de pedestre. Nada. Descemos do veículo e caminhamos em direção a um dos casarões. O muro era marrom e branco, com portão gradeado, uma palmeira em meio ao pouco gramado que ladeava a garagem para dois carros. Ofereci meu braço pro JP caminhar com mais tranquilidade mas ele recusou com um sorriso estranho. O motorista, que era um negão 4 x 4 que metia bastante medo, tocou o interfone da casa e, segundos depois, entramos ao abrir automático do portão.
Passamos pela garagem e, logo após a porta de entrada, paramos em uma antessala, onde havia dois outros homens engravatados, um de pé, outro sentado. “Boa noite, seu JP”, cumprimentou o que estava sentado, sem muita intimidade. JP respondeu o cumprimento com a voz rouca e disse: “Acrescente o nome do meu acompanhante à minha lista, por favor: Vincent”. Fiquei quieto. O negão não parecia surpreso com nada daquilo. “Vinda única ou perene?”, o homem sentado perguntou, mexendo em algum registro que eu não sei o que possa ser. “Perene, por gentileza”. Tive que procurar essa palavra no dicionário quando cheguei em casa. Descobri então que, naquele lugar, você podia entrar uma vez ou pra sempre. Desde aí a coisa já começou a feder. Aliás, não: começou a feder quando JP se referiu ao lugar como “canil”.
“Tudo certo: podem entrar. Tenham uma boa noite”, o cara disse, fechando o registro. JP agradeceu o motorista e pediu a ele que nos buscasse quando fosse solicitado. Fiquei pensando se ele não tinha autorização pra entrar... Bom, entramos. Como era de se esperar, o “canil” não era uma casa normal: parecia mais um Clube do Bolinha versão terceira idade. E tudo muito luxuoso. Cortinas vermelhas de veludo cobrindo as janelas da sala em que estávamos, sofás pretos de couro espalhados por toda a parte (a sala parecia mais um salão, com o perdão do trocadilho involuntário); ao fundo, um balcão onde um bar tender servia os clientes (que eram muitos, por sinal: tinha pelo menos uns vinte coroas na sala) e, claro: muitas jovens desfilando seminuas ou com microvestidos por toda a parte. “Você gosta?”, JP perguntou em voz baixa. Respondi que sim com a cabeça, mas ainda não sabia ao certo se aquilo me agradava tanto assim. Vi que ele era conhecido ali. Uns coroas o cumprimentavam com acenos e algumas garotas também, bastante sorridentes, sorrisos esses que se estendiam a mim, que devia ser o único cara com menos de cinquenta anos ali — além do bar tender.
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Vincent (romance gay)
Ficção Geral::: LIVRO COMPLETO ::: Daniel é um jovem de vinte e um anos que mora com a mãe e com o novo padrasto em um bairro de classe média da cidade fictícia de Taigo. Daniel leva uma vida tranquila, mas essa tranquilidade logo é abalada quando o jovem per...