Entrada XXVII

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E aí?

Tudo bem? Eu vou bem, na medida do possível. Nada de muito interessante aconteceu nos últimos dias; estou passando aqui mais pra te manter atualizado, mesmo. Hoje eu conheci a dona Isabel. Fomos lá alugar os vestidos e o meu terno (com antecedência, pra caso precisasse de ajustes). Que gracinha ela, meu, muito fofa! Ela me buscou na Mesquita junto com a filha dela (!), que deve ter uns cinquenta anos. Dona Isabel tem setenta e sete anos, ela me disse. A filha, pelo visto, estava achando a ideia da mãe uma piada. Ah, sim, essa filha é da dona Isabel com o coroa que ela quer fazer ciúme; a “neta” que vai casar é filha do filho do coroa com a segunda mulher, mas, não sei como, é como se a dona Isabel fosse avó, por consideração, da mulher. Coisas de família grande. Enfim. Tanto mãe quanto filha falavam bastante e pareciam bem alegres. Fomos até uma loja de aluguel de roupas de casamento lá no centro e ficamos um tempão escolhendo terno. Uma hora dona Isabel gostava e a filha não; outra hora a filha gostava e eu não; outra hora eu e a filha gostávamos e dona Isabel não... Isso porque era só um terno. Levou uns quarenta minutos até encontrarmos um modelo que ficasse bom pra todo mundo. E ó: fiquei gato de terno e gravata; com licença.

Além disso, hoje, pela primeira vez em mais de quatro (ou cinco?) meses de meretrício, rolou treta na hora do programa. Vai escutando. Um cara me ligou de manhã querendo marcar um programa pra noite, junto com a mulher. Devia ser mais um casal voyeur, feito o negão e a esposa, que eu escrevi há algum tempo mas já não lembro que nome dei pra eles. Combinamos o horário e, como o casal mora a três ruas daqui de casa, julguei que não precisavam me buscar na Mesquita: falei que ia até eles a pé mesmo. No horário combinado, fui. A casa era arrumadinha por fora. Toquei o interfone e uma voz de mulher atendeu. Me apresentei e o portão abriu. Entrei e o casal me esperava na sala. A mulher já devia ter uns quarenta e tantos. Tinha um cabelo loiro bem mal cuidado, pele já um tanto envelhecida, embora desse pra ver que aquilo era descuido, não idade, e era muito magra. O cara estava sentado numa cadeira de balanço, tomando uísque no gargalo. Gordo. Bem gordo. Mal me cumprimentou. A mulher também não era lá muito simpática. Ela tentou manter um diálogo, mas o clima tava bem estranho; o cara mal olhava na minha cara. Quando perguntei o que eles queriam fazer, ele respondeu: “Come essa cadela”. Sim. Come essa cadela. Foi o que ele disse. E só. Perguntei se eles queriam ir pro quarto e não, não queriam: era pra ser no sofá da sala. Como não sou pago pra questionar, não protestei. Perguntei se eles tinham camisinha e a mulher disse que não. Sempre tenho as minhas no bolso, mas procuro economizar. Tive que gastar uma delas.

Fui pra perto do sofá e tirei minha roupa sem muito esmero. A mulher também tirou a dela e, olha: era mais fácil comer os amigos do Bartô. Não tinha nada de atraente naquela mulher. Nadinha. E o cara lá, sentado na cadeira de balanço, bebendo e bebendo. Tentei me concentrar e pedi à cidadã a gentileza de me chupar pra barraca armar, porque, até ali, nem sinal. Ela se agachou à minha frente e colocou a boca lá, mas nem isso ela sabia fazer direito. Demorou alguns minutos até algum resultado surgir e, quando finalmente fiquei ereto o bastante, coloquei a camisinha e pedi pra ela se posicionar no sofá da forma como ela quisesse. Ela pediu que eu me deitasse pra que ela se encaixasse por cima de mim. Obedeci. E assim foi. Ela sentou no meu bem precioso e eu comecei as estocadas.

O problema começou quando ela começou a reagir. Eu não sei quando deve ter sido a última vez que ela e o marido fizeram sexo, porque o tamanho da barriga dele certamente era um problema, então creio que eu, novinho, gatinho e enxuto, cheio de energia lá fazendo meu trabalho devia estar sendo muito prazeroso pra ela, porque ela começou a gemer muito alto, e esses gemidos logo evoluíram e viraram tipo um escândalo. Meu, a mulher gritava! E, talvez não-ciente de que aquilo era sinal da incompetência sexual dele, o marido, que não parava de beber por um segundo, encucou que eu estava machucando a mulher. Ele repetia, com a voz bastante embargada: “Não machuca ela, moleque, não machuca ela...”. E a mulher nem tchum. E eu só olhando pra cara dele, que mal nos olhava — nem com o negócio pra fora ele estava. E a mulher lá, cavalgando feito uma amazona, e o cara repetindo essa frase incansavelmente, parecendo uma máquina, e eu tentando ignorar. Até que, em dado momento, ele deixou a garrafa de uísque se espatifar no chão e gritou: “Você tá machucando ela, filho da puta!!!” e veio pro nosso lado. Ele deu um safanão na mulher pra ela sair de cima de mim e ela quase caiu do sofá. Eu consegui desviar do soco que ele mirou pra me acertar. Ele já estava muito bêbado. Tentei acalmá-lo dizendo “Calma, cara; eu não tô machucando ela”, mas não adiantou: por mais que a mulher confirmasse que eu não estava fazendo nada de errado, o cara queria vir pra cima de mim.

Foi uma cena bastante... pitoresca. Eu pelado, esquivando do cara; ele, bêbado, querendo me acertar; a mulher, pelada, sentada no chão, gritando pra ele parar; ao lado, uma garrafa de uísque quebrada. Deu pra imaginar? A gente parecia touro e toureiro: ele vindo pra cima de mim e eu esquivando. Até que teve uma hora que não deu: fui obrigado a acertar um na cara dele pra ele parar, senão aquilo ia durar pra sempre. Ele caiu feito bosta no sofá e eu fiquei olhando pra mulher, que tampou a boca com as duas mãos e ficou muda. Ele gemia. “Eu vou embora”, falei. Mas ainda não tinha recebido, e ah! se eu ia embora  sem receber depois de um papelão daqueles. “Cadê meu dinheiro?”, perguntei, nervoso, querendo sair dali antes que o cara se levantasse e viesse pro meu lado de novo. “Eu não sei!”, a mulher respondeu. Puta que pariu, né? Tive que pegar a carteira do cara dentro do bolso dele. Odeio que mexam nas minhas coisas e odeio mexer nas coisas dos outros, mas ele não me deu opções. Abri e peguei meus 150 (falei que aumentei meu preço?), e era tudo que tinha lá dentro. “Estou pegando os meus 150, ok?”, mostrei as notas pra mulher ter certeza de que eu não estava roubando nada. Ela assentiu com a cabeça e eu coloquei a carteira do cara de volta no bolso dele. Ele continuava gemendo, mas não tentava se levantar. Vesti minhas roupas o mais rápido que consegui e vazei.

Esse povo é louco, meu, fala sério. O cara contrata um garoto pra comer a mulher dele, enche o rabo de cachaça e depois faz uma cena dessas? Eu não entendo. Fiquei com pena da mulher, que, certamente, estava curtindo muito a minha performance (embora, pra mim, não estivesse sendo lá grandes coisas). Vim embora e ainda estou torcendo pra não ter o infortúnio de encontrar esse casal vinte na rua por acaso, porque eles moram bem perto daqui. Credo em cruz. Fora isso, acho que não teve nenhum outro evento incrível pra eu falar sobre... Teve um cara, ontem ou anteontem, não lembro mais, que me contratou simplesmente para: eu me masturbar na frente dele. Ele se sentou de frente pra mim, ficou observando eu bater uma sem falar nem fazer nada e só. Dá pra entender um negócio desses? Eu ainda não consegui.

Falando em conseguir: já decidiu o que eu vou dar de presente pro Bruno? É depois de amanhã! Vai pensando aí que eu também ainda não sei. Pensei em dar uma camiseta, ou um tênis, ou um livro, ou um perfume, mas essas coisas são muito pessoais... Ou então posso não dar nada e simplesmente chegar nele e falar que ser meu amigo + morar comigo = o melhor presente que ele poderia receber em qualquer aniversário pra sempre. Acho que é uma excelente opção. Vou estudá-la com mais cuidado. Volto em breve pra falar como foi a festa. Se nada acontecer antes disso, claro. Em todo caso, a gente se vê. Boa noite! 

Vincent (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora