Opa
E aí? Tudo bem? Vida de caderno deve ser boa, né? Só aí sossegado ouvindo minhas lamentações. "Ouvindo" assim, né? Recebendo, eu acho. Armazenando, talvez. Sei lá. Eu tô relativamente bem também. Nada de muito novo aconteceu nos últimos dias. O que tá me preocupando é não conseguir emprego... Quase voltei naquela escola pra ver se ainda estão precisando de professor de CAD. O tempo tá passando. Daqui a uns dez dias eu recebo a penúltima parcela do seguro. Depois disso, não sei o que vai ser. Minha mãe
Ah, é. Minha mãe. Última vez que eu estive aqui, falei que ia me encontrar com ela, não foi? É, foi, acabei de olhar aqui. Faz um tempinho que não escrevo. Marcamos de nos ver no shopping e essa foi a última vez que nos vimos. Almoçamos no Burger King e ela me pareceu bem abatida. Disse que depois que eu saí de casa a vida dela ficou "muito triste e solitária". Pera aí. Faça-me o favor: depois que EU SAÍ de casa? Alguma coisa andou afetando o discernimento da minha mãe muito seriamente, ao ponto de ela ter perdido a capacidade de se localizar nos fatos. Não fui eu que saí de casa, foi o marido dela que me expulsou. Mas ok, vamos pular essa deficiência cognitiva. Ela disse que anda triste e solitária e me ofereceu uma mesada pra eu me manter até conseguir me estabilizar de novo. Que proposta mais ultrajante, você não acha? Me oferecer dinheiro daquele demônio depois do que ele fez? Lógico que eu recusei. E ainda sugeri que ela procurasse ajuda psicológica, psiquiátrica, sei lá. Tá tipo muito na cara dela que ela não tá legal. E, apesar da mágoa que eu vou carregar eternamente por ela não ter se posto em minha defesa, acho que dessa vez eu consegui me importar, pelo menos minimamente. Ainda não sei.
Esqueci o que eu estava falando antes de falar dela. Ah, emprego. Pois é, tô ficando preocupado com isso. Não sei mais onde procurar... O pai do Bruno tem uma pizzaria. O Bruno comentou comigo que ele tava precisando de garçom, mas é pra trabalhar à noite... À noite eu tô na faculdade e não está nos meus planos parar de estudar. Se bem que, se eu não arrumar um serviço logo, não sei se vou continuar, afinal a mensalidade vai continuar sendo cobrada, né? Ou isso ou eu aceito a proposta da minha mãe e fico com a mesada, apesar de que tenho minhas dúvidas quanto à ciência do Lúcio em relação a essa proposta. Não duvido que ela consiga esse dinheiro às escondidas. Já pensou se ele descobre? Não dá pra ele me expulsar de casa de novo, decerto dessa vez ele manda me matarem. Maldito. Abjeto. Aprendi essa palavra dia desses. Aqui na casa do Bruno é bom que tem um mundo velho de livros. Ele faz Psicologia, mas gosta muito de Literatura. Não que quem faz Psicologia necessariamente não goste de literatura, claro. Tá vendo? Ele lê umas coisas sobre discurso, semântica, operadores argumentativos... Eu pego pra folhear e fico com as coisas na cabeça. Mas deixa pra lá. Por falar em ler, essa semana acabo Crime e Castigo. Depois volto aqui pra comentar.
Vou dormir agora. Amanhã é um novo dia. De novo. Fui.
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Vincent (romance gay)
General Fiction::: LIVRO COMPLETO ::: Daniel é um jovem de vinte e um anos que mora com a mãe e com o novo padrasto em um bairro de classe média da cidade fictícia de Taigo. Daniel leva uma vida tranquila, mas essa tranquilidade logo é abalada quando o jovem per...