Entrada LXVI

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E aí?

Voltei. Tirei uns dez dias de folga de você. Sentiu saudade? Acho que não deu tempo, né? Não tem problema, eu te perdoo. Como você tá? Espero que esteja bem. Por aqui as coisas deram uma amaciada desde a última entrada. Vamos lá:

Voltei pra casa da minha mãe pra fazer companhia a ela uns dias. Ela está mal, coitada. Que o Lúcio fosse preso e ficasse um bom tempo na cadeia era merecido e esperado, mas daí a ele se matar... Por essa ninguém esperava. Ainda não conversamos muito sobre o que ela vai fazer com a casa; se vai ficar lá ou vender e procurar outra; mas é provável que ela mude, porque casa grande dá despesa e agora ela volta a ser pensionista. Se o falecido não tivesse sido expulso da polícia, talvez o valor da pensão fosse melhor, mas, ainda assim, é um dinheiro razoável, ainda mais porque ela não deixa de receber o que recebe pelo meu pai... Enfim, ela não vai passar fome. Se ela vender a casa e comprar uma menor e se desfizer de um pouco das  coisas que eram do Lúcio, dá até pra ela guardar o dinheiro e viver de renda, então grana não vai ser problema. Mas o que me deixou realmente feliz é que ela finalmente ouviu o que eu digo praticamente desde que comecei a escrever aqui e decidiu procurar um psicólogo. Ela acha que é forte e aguenta passar por isso tudo sozinha, mas creio que agora percebeu que não é bem assim. Não sei quando ela vai começar nem nada, só sei que se dispôs a tentar. Ótimo, não é?

Quanto a mim, minha vida continua do mesmo jeito. Tô quase entrando na onda que sugeri à minha mãe e guardando dinheiro pra viver de renda até eu me formar. Já perdi dois semestres nessa brincadeira de fazer programa. Não tenho o direito de reclamar de absolutamente nada, que, apesar dos pesares, começar a fazer programa foi uma das melhores decisões que já tomei na vida, e preciso agradecer a Deus por ter pessoas ao meu redor que nunca me julgaram nem condenaram por isso.

Aliás, por falar em pessoas: os ventos estão mudando. Eu e o Bruno combinamos de falar sobre esse relacionamento estranho em que nós estamos depois que essa saga toda acabasse. Agora que ela acabou, meio que começamos a revisar algumas questões que estavam “em aberto”. Uma das primeiras coisas que definimos foi que esse negócio entre nós tá ficando sério — e é fato irrefutável que está. Sendo assim, chegamos ao consenso de que, contrariando o que havia sido posto anteriormente, nós ultrapassamos os limites da amizade, sim, e que, agora, nada nos impede de cruzar a fronteira. Bem, eu não vou dizer que nós estamos namorando, mas é algo tipo isso. No fundo, parece a mim mesmo que nós estamos meramente nos esquivando das responsabilidades, porque dizer que se namora alguém é um compromisso muito grande, não acha? Por isso acho que estamos preferindo termos mais sutis, como “parceiros” ou “companheiros” (mas verdade seja dita, estamos é namorando mesmo).

No mais, estamos planejando aquela viagem à praia sobre a qual comentei aqui dia desses. Falei com os meninos e eles toparam. Só o Paulo que não vai poder ir porque disse estar cheio de trabalho e não poder se dar férias por agora. Ainda está longe de acontecer o próximo final de semana prolongado, então acho que vamos ter que ir sem ele mesmo. Ele liberou a casa pra gente, aliás; vamos ficar eu, Bruno, Felipe e Bernardo por lá durante um final de semana... Por sinal, preciso dizer que acho um desperdício nós não termos feito nada a três até hoje. Ou a quatro, contando o Bruno (é que eu acho que seria meio estranho ele participar de algo junto com o Felipe, considerando que eles têm um passado meio delicado), ou até cinco, considerando o Paulo, que também é um tiozão bem ajeitado. Mas não, não; somos todos muito amigos, isso não vai acontecer nem na minha imaginação; não se iluda.

Vou ficando por aqui. Agora que os fatos mais turbulentos acabaram, não sei quando volto a dar as caras, mas não se preocupe, que eu volto, sim? Então tá bem. Se cuide. A gente se fala qualquer hora. Abração!

Vincent (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora