Entrada LVII

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E aí?

Pois bem. Mais um grande dia se passou. Mais um passo dado em direção ao desconhecido... Uhhh...! Essa história tem que chegar a um fim logo, senão eu vou me envolver demais com essa máfia e, se demorar a alguma coisa acontecer, posso acabar enfiando os pés pelas mãos e fazer parecer que de fato sou parte do esquema, afinal quem sou eu pra me infiltrar no meio de uma quadrilha dessa periculosidade? Fica difícil provar que eu era só uma investigação in loco... Enfim. Vamos à notícia.

Ontem foi sábado. De acordo com o planejado na semana passada, ontem eu e o desgraçado nos encontraríamos no canil pra decidir como se daria a minha parte nos “negócios”. Já que eu havia dito que queria fazer parte, agora teria que cumprir minha palavra, né? Pois é. Por volta das oito da noite, comecei a me trocar. Enquanto fazia isso, me dei conta, novamente, de algo que o desgraçado disse quando nos encontramos: aquele “Eu te amo”. No calor do momento, não pensei nisso propriamente, mas pensa bem: ele me ama. Vamos pular essa informação por agora, que disso eu falarei mais adiante. Só sei que eu não dei qualquer motivo pra ele se apaixonar por mim — muito pelo contrário, diga-se de passagem. Ou será que eu estou me achando muito esperto por estar passando a perna nele mas, na verdade, é ele quem está tramando contra mim e eu estou caindo ao acreditar no que ele disse? Virgem Santa...

Bom, fui lá encontrar o desgraçado no canil. Cheguei, toquei o interfone, entrei e o segurança de trás da mesa puxou papo comigo: conversa fiada, mas, resumindo, veio puxar meu saco porque se deu conta de que eu era convidado do “dono” do estabelecimento. Fiquei pensando: ele falou como se eu não soubesse que dentro do canil acontecem esses crimes todos. Decerto eles são treinados pra falar com os clientes como se tudo fosse perfeitamente legal... Entrei. Dessa vez não tive o infortúnio de encontrar a Madame pelo caminho, mas em poucos segundos avistei a Raquel e nós trocamos um olhar de cumplicidade. Logo, todas as meninas pareciam me olhar de um modo parecido, como se todas já soubessem quem eu era e o que eu faria em breve. Parece que as notícias correm rápido por lá.

Tentando manter as aparências, não fui conversar com ela nem com ninguém: fui direto pro bar, onde encontraria o desgraçado logo logo. Pedi um copo de uísque porque eu sabia que precisaria de um pouco de álcool pra sair ileso daquela noite. Fiquei de papo com o barman, que era muito bonito, por sinal. Deve ser as tatuagens; acho da hora gente de tatuagem. A dele era daquelas que descem pelo braço, mas não consegui identificar o que era. Pena que ele deve ser parte da máfia também. Tirando os membros do lugar, todos os funcionários devem saber que o que acontece ali é ilegal, incluindo o barman. Mas que ele era bem gato era. “Chegou cedo”, disse o desgraçado, se aproximando de mim feito uma alma penada. Olhei pra ele. Dessa vez eu não me assustei e meu corpo não sofreu nenhuma reação incontrolável. “Gosto de chegar adiantado nos meus compromissos”, respondi.

Ele sorriu. Pediu uma Schweppes ao barman e isso me faz crer que, de fato, o problema com o álcool acabou ou está bem controlado, e isso me fez sentir aliviado de certa forma, porque me leva a crer também que pelo menos batendo na minha mãe ele não deve estar mais. Dos outros crimes eu dou conta; quanto a esse não há muito que eu possa fazer.

— Como você está? — ele perguntou.

— Bem. Melhor agora. E você?

— Bem. Vamos conversar?

— Vamos...

— Por aqui.

Saímos do bar e seguimos em direção ao corredor dos quartos. Durante o trajeto, éramos fuzilados por olhares de medo. As meninas pareciam realmente temer o desgraçado e saber que ele era perigoso; o pavor velado ficava estampado na cara de algumas. Outras, porém, pareciam já saber quem eu era e me olhavam com olhos bem abertos. Fiquei me sentindo meio messias.

Vincent (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora