Cap 14. Extrapolando o limite.

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  *Lica.*

  Eu cheguei em casa cedo aquela noite e fui até a cozinha pegar uma cerveja... Estava frio, mas eu gostava de sentir o gosto amargo tomar minha boca, tá, talvez eu não gostasse de verdade, talvez, eu só estivesse acostumada, mas ainda assim, eu queria muito uma garrafa de cerveja, principalmente depois de passar a tarde ensaiando com Keyla, Tina, Ellen e Benê para a apresentação de sábado a noite no galpão.

  Assim que eu entrei na cozinha, me deparei com Samantha vestida com um pijama de algodão cor de rosa, estampado por um casal de corujas desenhadas na parte da frente da blusa branca que contornava delicadamente seus seios, deixando-os em evidência, ao notar este detalhe, eu desviei meus olhos ao chão.

  - Chegou cedo. – Samantha falou se virando para me encarar.

  - Pois é.

  - Quer um chá? Eu estava preparando um para mim.

  - Não, valeu... Eu só vim por uma cerveja.

  - Hum... – Ela disse se virando para colocar a chaleira na boca fogão que agora estava acesa.

  - Você vai? – Perguntei a ela, enquanto abria facilmente minha garrafa de cerveja com as mãos.

  - Onde?- Samantha me perguntou parecendo meio distraída.

  - Na balada... Você vai? – Falei ainda olhando para o chão.

  - Por quê? Têm algum problema se eu for?

  - Não... É só que... Você vai?

  - Eu vou.

  - O Felipe vai?

  - Vai, Os Lagostins vão tocar.

  - Hum...

  - Achei que a Benê tinha te contado.

  - Acho que ela se esqueceu.

  - Tudo bem para você nós irmos? Eu sei que nós não nos damos muito bem e que é meio que sua festa de boas vindas... Sei lá, eu achei que você tinha concordado com o convite... Talvez nós só devêssemos cancelar a apresentação.

 - Não, tá tudo bem... Além disso, é banda do MB e do Guto... Vai ser legal ouvir vocês de novo.

  - Certo, por causa do MB e do Guto... Eu não quero estragar sua festa de boas vindas, Heloísa.

  - Você não estraga... – Falei agora olhando nos olhos castanhos de minha irmã postiça.

  - Não estrago? – Perguntou ela me encarando de volta.

  - Não, não estraga. Não se dê toda essa importância em minha vida irmãzinha... Até porque, só estamos no mesmo espaço por causa do testamento... Você pode fazer o que quiser, eu já estou aprendendo a lidar com a sua existência.

  - Nossa Heloísa, que grossa! Por que você é assim? Nós estávamos apenas conversando e de repente você começou a me atacar. O que é que eu fiz agora? Porque para você ao que parece, tudo é culpa minha.

  - Nada, você não fez nada... É só que me irrita o fato de você achar que é importante, que é a coisa mais importante na vida dos outros e eu vou te contar um segredo irmãzinha, você não é!

- Nós não somos irmãs, Heloísa! E olha quem está falando, o egoísmo em pessoa. Aquela que simplesmente abandona tudo e todos, só porque acordou um dia e decidiu que tudo bem... Que não pensou em nada e nem em ninguém, que dane-se os sentimentos das outras pessoas.

  - De novo essa história irmãzinha? Troca o disco, já está ficando chato. Além disso, eu não sei por que você se dói com essa situação, afinal, não fui eu quem te abandonou, porque eu caguei para você. Você era só o pacote que veio junto com a mulher oportunista com quem o Edgar se casou.

  - Eu já disse que não sou sua irmã! Cala a boca! Não fala da minha mãe!

  - Mas é Samantha... Você devia me agradecer por ter ido embora, afinal, assim finalmente você teve alguma chance de ficar com o meu ex-namorado que se eu bem me lembro, na época não era ex. Quem é a egoísta? Eu não tentei ocupar o lugar de ninguém!

  - Você é nojenta! Não tenta jogar a sua culpa em cima de mim, não. Eu te fiz um favor, garota!

  - Que favor?! Esquentar a cama do Felipe enquanto eu estava fora sua vadia?! – Eu gritei.

  - Cala a boca! – Ela gritou de volta, virando um tapa em meu rosto.

  - Nunca mais me chame de vadia! Se você que saber, eu me arrependo de ter facilitado as coisas para você. Eu devia ter deixado a bagunça para você limpar sozinha, eu não devia ter conversado com os seus amigos, eu devia ter deixado o Tonico te odiar por ter sumido sem nem dizer adeus. – Ela continuou.

  - Não mete o Tonico na história!

  - Quê?! Dói saber que você magoou uma criança pequena que ainda não entendia por que a tia dele tinha ido embora?

  - Do que você está falando? Ele era um bebê, ele nem entendia de nada na época.

  - É, ele era um bebê, mas eu vou te contar dois segredos Heloísa! O primeiro: bebês podem não entender, mas eles sentem! O segundo: os bebês crescem! Você pode não saber, mas eu realmente tentando limpar a sua sujeira, me aproximei bastante das pessoas que estavam devastadas com as suas atitudes egoístas. E não foi uma vez e nem foram duas vezes que eu ouvi o que cada um estava pensando ou sentindo sobre o fato de você ter jogado tudo para o alto. Não foi uma e nem foram duas vezes que eu cuidei do seu afilhado enquanto você não estava lá.

  - Claro, porque você é perfeita, né?! Você fala de mim, mas você não passa de uma invejosa que quer roubar o lugar dos outros, já que não consegue encontrar o seu próprio lugar... Primeiro o Edgar, depois o Felipe, meus amigos, meu afilhado... Você não cansa não de ser a sobra? De ser o resto?!

  - Eu não tenho culpa das suas escolhas Heloísa, eu não tenho culpa se diferente de você, eu tenho sentimentos, se eu tenho respeito e se eu sou capaz de amar e cuidar das outras pessoas... Para mim chega! Eu vou sair daqui, não quero mais brigar, até porque não vale a pena falar com alguém tão vazio que não consegue aprender a escutar. – Ela falou colocando a água quente da chaleira na caneca, desligando o fogo do fogão e saindo da cozinha.

  Eu não sei por que as coisas acabaram daquela maneira e nem o motivo de nós não conseguirmos conversar civilizadamente, mas eu sabia que eu precisava sair daquela casa. 

  Samantha conseguia me tirar do sério e eu realmente não estava com humor para continuar no mesmo ambiente que ela.  Então eu só peguei meu capacete e saí procurando a balada mais próxima para que eu pudesse me perder no corpo de um desconhecido qualquer e quem sabe assim, eu conseguisse me achar... Minha meia irmã estava certa em uma única coisa, eu estava vazia e sinceramente, eu não acho que isso seria capaz de mudar, não esta noite, então só me restava sair para dançar até eu me cansar, porque quando eu chegasse em casa, eu estaria tão exausta que aos meus pensamentos não restaria outra opção que não fosse o silêncio, pelo menos, até a hora de eu despertar.

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