Cap 103. A rotina, o costume e a ausência.

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*Samantha.*

  Eu entrei no meu quarto e tranquei a porta, depois eu levei minha xícara de chá à boca e percebi que eu não queria mais beber aquele chá... Eu ainda era capaz de sentir o corpo de Lica pesando contra o meu no abraço que ela havia me dado inesperadamente na cozinha... Aquele abraço ainda me invadia e me lembrava da falta...

   Depois de deixar a xícara de chá repousada sobre a minha escrivaninha, eu segui até a cama e ali, eu me acomodei confortável com o meu caderno de pensamentos nas mãos e uma caneta também. Eu precisava colocar para fora tudo o que aquele abraço me fizera sentir de forma crua e real.

***

A rotina, o costume e a ausência.

  O que fazer quando a gente ama? O que fazer quando a gente ainda pensa naquele rosto, naquela boca e naqueles olhos? O que fazer quando a falta se faz mais dura?

  Os dias atrás parecem tão antigos como se fossem de outra época, de outros anos... As memórias coloridas parecem amareladas, como se o tempo tivesse passado rápido demais e ao mesmo tempo, lento, arrastado.

  Parece que passaram tantos meses e talvez até anos desde aqueles dias onde os momentos abrigaram o nosso riso que se fazia mais presente, aquele riso leve e solto, desde as conversas da madrugada que pareciam nunca terminar, tanto tempo, desde o momento onde o "boa noite", nunca era o fim.

  Um dia depois do outro, aos poucos, devagar... Nós construímos nossa história a partir do improvável, do ódio que se transforma em amor e de repente, eu estava ali, entregue e rendida aos teus pés, vivendo pelo teu sorriso, adormecendo ao som da tua voz... Aos poucos, nós nos tornamos apenas nós, com as nossas manias, com a nossa rotina.

  Sabe, eu me acostumei com isso, me acostumei a dividir o meu dia contigo e a esperar ansiosa que você também compartilhasse o seu dia comigo e aí... Tempos sombrios, a ruptura bruta, a falta... Eu já não fazia mais parte dos seus dias, mas você ainda fazia parte dos meus.

  Amor, o silêncio, a indiferença... Os questionamentos... Foi real? Um dia eu fui importante? Por que não me liga? Por que não me procura se eu sei que você está ali do outro lado da tela do celular?

  A ansiedade queima por invadir o seu espaço, para te fazer me enxergar, para te fazer me notar, porque dói a ausência, queima a falta, me machuca a sua indiferença... Eu nunca fui para você o que você foi para mim.

  E se você voltar? Se me procurar? O que devo fazer? Devo te censurar? Devo te aceitar? O que fazer? Porque eu ainda te amo, eu ainda te quero, eu ainda te procuro no som de cada música, na lista de cada filme antigo e eu ainda te visito a cada memória.

  Deixar ir ou deixar ficar? O que fazer com a ansiedade que me consome e que me tira a paz? Eu ainda te amo, mas em algum momento, eu preciso me amar mais... O que isso significa?

(Sobre a ansiedade da falta e o costume da rotina... O que é que eu deixo ir e o que é que fica?)

***

  Depois de escrever e ainda com os pensamentos inquietos, nada mais me restava a não ser tentar dormir.

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