Capítulo 1 (Dia 1)

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Setor 6 | 16 ºC
Contagem regressiva: 18 dias

Tudo é sobre o tempo.

Posso senti-lo passando apressado. Neste momento, ele é como um furacão: rápido, violento e mortífero.

Faltam dezoito dias até o pesadelo começar a acontecer.

Tento evitar os pensamentos negativos e me apegar à promessa do Nathan de salvar o Lucas, mas sei que não depende da vontade dele.

Levanto-me do pequeno colchonete e o esforço faz a minha perna latejar. Abafo um gemido para não acordar as outras pessoas que continuam dormindo e fico um tempo em pé antes de começar a andar devagar. O Nathan me jogou com muita força para me desviar do tiro, não é por acaso que todo o meu corpo está dolorido. Além disso, apenas quatro horas de sono não me ajudaram a me sentir melhor, mas não dá para descansar mais, temos que encontrar soluções.

Pego a mochila com o meu nome em um armário improvisado ao lado da porta do banheiro. Eu estava tão cansada que dormi com este vestido apertado e isso nem ao menos me incomodou. Só agora percebo as manchas de sangue espalhadas por ele. Sangue meu e do Nathan. Suspiro quando os últimos acontecimentos passam desordenados na minha cabeça.

Abro a caixa de primeiros socorros que está no armário e procuro um curativo à prova d'água para poder tomar banho sem molhar os pontos.

— Você precisa de ajuda? — Ouço a voz do Matt atrás de mim. Estava tão distraída que nem o ouvi se aproximando.

— Obrigada, Matt. Já peguei tudo o que preciso. — Digo, virando-me e mostrando o curativo e a mochila. Acho que nunca vou me habituar aos olhos verdes dele se sobressaindo na pele morena.

— Eu vou ficar aqui. Se precisar, é só chamar. A Mere já está acordada... — Ele diz e eu concordo com a cabeça.

— Eu chamo, se precisar. — Respondo agradecida e entro no banheiro.

O espaço não é grande, mas cada passo que dou me faz sentir uma dor insuportável, então me apoio um pouco na pia esperando que pare de latejar, mas agora já não consigo conter os gemidos. Espero que o Matt não consiga ouvi-los.

Depois de um tempo, levanto os braços para abrir o botão do vestido e outra onda de dor passa por mim. Depois de aberto, deixo-o cair e noto um grande hematoma no meu ombro. Viro-me um pouco para o espelho e vejo que a pele arroxeada vai até a minha costa. Mas essa dor não é nada em comparação com a da minha perna.

Coloco o curativo à prova d'água por cima do curativo normal, e me certifico de que esteja totalmente vedado para não entrar nem uma gota de água.

Na mochila, encontro roupa e tudo o que vou precisar no banho. Eles já tinham tudo preparado para essa fuga, mas claro que não há luxos, e por alguma razão me sinto confortável de novo. Toda aquela ostentação da Matriz sempre fez com que eu me sentisse culpada quando me lembrava da pobreza dos Setores.

Tomo um banho rápido. A água não está muito quente e, além disso, os geradores de energia devem ser economizados. Mesmo assim, o espelho fica embaçado e não consigo ver o meu reflexo quando saio da ducha. Tiro o curativo e visto com dificuldade a roupa, mas não quero incomodar o Matt nem a Mere.

Passo a mão no espelho para desembaçá-lo e vejo o cansaço estampado no meu rosto. Solto o cabelo que resolvi não molhar e saio.

— Obrigada por esperar. — Digo ao Matt e ele sorri em resposta. — Onde está o Nathan? — Pergunto.

— Na enfermaria, quinta sala à direita. — Ele aponta a direção, agradeço de novo e sigo para a sala indicada o mais rápido que a dor na perna permite.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora