Capítulo 5 (Dia 1)

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Setor 6 | 15 ºC
Contagem regressiva: 18 dias

A voz dele é quase um sussurro.

— Vamos?

Concordo com a cabeça quando a minha voz simplesmente não sai

Não é preciso olhar para o rosto dele para saber o quanto está cansado. Ele deveria estar em repouso, deitado, preocupado apenas em se recuperar mais rápido. No entanto, está aqui lutando contra a dor, contra os efeitos fortes da medicação que está tomando, passando por todo estresse causado pelo Kyle e pelas suspeitas contra o melhor amigo.

Mas não podemos perder tempo. Não quando estamos sendo caçados, quando o Lucas está com a vida em risco, assim como os meus amigos.

E a verdade é que isso é que me move também, que me faz superar a exaustão física e mental, as dores, os medos.

Andamos devagar pelo corredor e cumprimentamos alguns soldados que encontramos pelo caminho até o hall de entrada do prédio.

Quando saímos, uma rajada de vento frio faz com que eu feche o casaco moletom e cruze os braços. O céu está com aquele tom de cinza que eu conheço tão bem, nem parece ser o mesmo céu azulado que cobre a Matriz. Não tem como negar, são dois mundos completamente diferentes.

Atravessamos o grande pátio da escola e a temperatura parece ficar cada vez mais baixa à medida que nos aproximamos do penhasco.

Paro um pouco, e Nathaniel me espera pacientemente.

A ansiedade me faz querer continuar, mas a minha perna já começou a doer e eu só vou poder tomar outro analgésico daqui a algumas horas. Acho melhor não forçá-la.

— Me desculpa por pedir isso, mas essa conversa não pode esperar. — Ele diz com a culpa ressoando em cada palavra.

— Não tem problema, mas não consigo ir mais rápido. — Tenho certeza que ele não me faria passar por isso se não fosse importante.

Nathaniel me dá a mão para me ajudar a caminhar, mas o olhar dele continua com a mesma frieza que já partiu o meu coração algumas vezes nessas poucas horas.

Chegamos ao penhasco e estamos distante o suficiente para saber que não precisamos ir mais longe. Olho para as copas das árvores se estendendo até o horizonte, entrecortadas apenas pela pequena vila abandonada, que não parece estar muito longe daqui, e pela Estrada Setorial.

Suspiro aliviada quando vejo um banco e não hesito em sentar para descansar a perna, mesmo que ele pareça pouco seguro e esteja com alguns traços de ferrugem. Olho para os nomes rabiscados nele, mas a minha distração se desfaz quando o Nathan se senta ao meu lado.

Fico esperando ele dizer alguma coisa, mas ele apenas olha para o horizonte por algum tempo, parecendo estar escolhendo formas de falar o que quer que tenha para me dizer.

Dou o tempo que ele precisa, mesmo que o frio comece a ficar desagradável, mas não quero pressioná-lo. Apenas me encolho um pouco mais em mim mesma.

— Você é a única pessoa em quem eu confio, por mais irônico que possa parecer. — Ele finalmente fala e me encara. A minha primeira reação é baixar o olhar, as palavras dele provocam um misto de sensações, afinal, apesar de tudo, ele continua acreditando em mim. Sinto-o colocar o dedo no meu queixo e levantar o meu rosto até os nossos olhos se encontrarem de novo. — O meu pai confessou. — Ele diz com um brilho reluzindo nos olhos dele.

Milhões de pensamentos surgem e eu fico paralisada no meio deles por um momento.

— Confessou o que, Nathan? — Pergunto nervosa.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora