Capítulo 24 (Dia 5)

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Setor 7 | 13 ºC
Contagem regressiva: 14 dias

Na parte de fora da janela manchada e parcialmente coberta de musgo, há um manto verde de eucaliptos e pinheiros até a linha do horizonte.

Essa paisagem traz lembranças do meu passado. Mesmo sem querer, milhares de imagens boas e ruins passam pela minha cabeça. Por isso, lágrimas começam a queimar nos meus olhos, mas não quero chorar.

Olho à volta e me lembro do livro.

Tiro-o de dentro da mochila onde o guardei com cuidado.

Respiro fundo antes de abri-lo sem ter certeza se consigo ler agora.

Logo na primeira página, vejo a dedicatória do meu pai.

Leio o primeiro parágrafo que eu sei decorado, e isso faz meus olhos brilharem de novo. Sento-me em uma posição confortável e, com a certeza de que é o que eu mais preciso neste momento, deixo o livro me levar para outra realidade.

*

Por alguns minutos e algumas páginas, esqueci-me dos problemas e da situação em que estamos. Mas obrigo-me a guardar o livro e resolvo sair e dar uma volta pelas instalações.

Fecho a porta com cuidado para não fazer barulho e caminho devagar pelo corredor até chegar à sala principal. Observo alguns soldados sentados nos sofás, cumprimento-os com um gesto de cabeça quando me olham e sigo em frente.

Encontro outro grande corredor, e ao olhar através das portas abertas, vejo que não são quartos, mas salas. Algumas vazias. Avanço mais um pouco até a dor na perna começar a incomodar e paro em uma das janelas, curvando-me e apoiando-me no batente para forçar meus braços suportarem um pouco do meu peso.

Não sei quanto tempo se passa até ver Lucas e Armon caminharem na minha direção com algumas pessoas que não conheço.

Nathan e Matt surgem logo atrás.

— Emily — um senhor me cumprimenta com um sorriso. Corrijo a postura e me afasto da janela para apertar a mão que ele estende para mim. — É um prazer conhecê-la pessoalmente. — Forço um sorriso de volta, sentindo o rosto corar. — Perdão, eu me chamo Marco.

Sinto os olhos preocupados do Lucas fixos em mim.

— O prazer é meu — respondo, com educação.

Noto que as outras pessoas que o acompanham me olham como eu olhava para os Puros.

É estranho receber esse olhar de pessoas do meu Setor, afinal, nunca deixei de ser uma deles. Mas eu as compreendo: minha passagem pela Matriz e o meu relacionamento com o Nathan deve ter feito eles me enxergarem de forma diferente.

— Por aqui — Lucas diz depois de desviar os olhos de mim e nos encaminha para uma sala que está preparada para a reunião.

Enquanto eles se distribuem entre as mesas e cadeiras, meu coração acelera automaticamente ao ver o Lucas vindo na minha direção. Respiro fundo para controlar o nervosismo, quase não falamos depois da nossa discussão de ontem.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunta preocupado. Abaixo um pouco a cabeça quando vejo o Nathan olhando para nós dois, mas isso faz uma mexa de cabelo cair nos meus olhos. Antes que eu possa tirá-la, Lucas a coloca atrás da minha orelha, deslizando os dedos dele no meu rosto de forma delicada.

— Está tão visível assim? — pergunto, tentando fazer a voz não tremer, mesmo que eu saiba a resposta que ele vai me dar.

— Eu conheço você — diz o que eu já esperava sem desviar os olhos dos meus.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora