Capítulo 72

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When you feel my heat
Look into my eyes
It's where my demons hide

Quando você sentir o meu calor
Olhe nos meus olhos
É onde meus demônios se escondem

Abro os olhos devagar esperando ver o Nathan do meu lado, mas ele não está lá.

Assusto-me quando olho para o relógio, dormi mais de duas horas. Droga, não deveria ter perdido tanto tempo. Dou um salto da cama e vou até o meu quarto. Depois de lavar o rosto e escovar os dentes, sigo para a enfermaria.

— Desculpa, Mere. Acabei adormecendo — falo assim que a encontro.

Armon está sentado na maca e ela está tirando a pressão dele.

— Você deveria ter dormido um pouco mais — Mere responde enquanto um bip soa e o balão do medidor de pressão começa a secar.

Matt está encostado à janela olhando para o lado de fora, tão concentrado que acho que nem me notou entrar. O tempo fechou de novo, e o céu parece estar completamente nublado.

Meu coração para quando olho para o Lucas. A Mere já o ligou ao monitor. Analiso os dados rapidamente e sinto um alívio quando vejo que está tudo normal. A pressão e a saturação estão boas e os batimentos dentro do esperado.

Sento-me na cadeira ao lado da maca e fico olhando para ele sem conseguir conter um suspiro. Não consigo aceitar que esses podem ser os últimos momentos com ele. Dói demais. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, mas respiro fundo algumas vezes e tento manter o controle.

— Como você está? — pergunto quando ele abre os olhos.

— Bem. — Força um sorriso e tenta se levantar, mas, depois de colocar as mãos na cabeça, deita de novo. — Só um pouco enjoado e com dor de cabeça.

— Você já comeu alguma coisa? — pergunto me levantando e pegando o termômetro. Aponto para a testa dele e, depois de alguns segundos, a temperatura aparece. Trinta e nove graus. Começo a examiná-lo e ele não se opõe.

— Sim, antes de tomar o antitérmico, mas me senti pior — responde. A Mere vem até o nosso lado e tento me manter forte. Parece que o calmante está surtindo efeito. — Diz para a Mere o que você observou, Em — ele pede. Olho surpresa, não queria ter que falar em voz alta, não queria ter que tratá-lo como paciente. Todos os momentos ruins em que passei naquele hospital voltam para a minha cabeça. Minha mãe, Olivia, todos os outros que não conseguimos salvar.

Mas eu sei o que ele está fazendo. Era parte do treinamento para enfermeira, ele já fez isso comigo antes.

Ele está tentando me fazer aceitar a situação.

— Você não precisa fazer isso — Mere diz com um olhar compreensivo, mas a única coisa que faço é reunir o resto das forças que ainda tenho e começar a falar.

— Eleestá eupneico, sem edema, febril, relata cefaleia e náusea. — Mere não anotanada no prontuário improvisado que tem nas mãos, então percebo que não disse nadaque ela ainda não sabia. Tento encontrar informações que possam ser úteis, jáque a única coisa que nos resta é tentar manter os dois vivos com os poucosrecursos que temos. Penso em todas as situações pelas quais passamos nohospital em busca de algo que possa nos ajudar. — Nunca tivemos um caso desses,Mere. Geralmente as pessoas chegavam com todos os sintomas de insuficiênciacardíaca, mesmo tendo tomado o antidoto, e tudo acontecia de forma gradual.

— E os sintomas não eram os mesmos? — ela pergunta séria.

Mere sempre parece segura quando exerce a profissão dela, ao contrário de mim. Consigo me controlar em muitas outras situações, menos nesta. Eu me tornei enfermeira por necessidade, não por vocação. Talvez por isso nunca fui tão calma quanto à Anna e jamais serei como a Mere.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora