Capítulo 7 (Dia 2)

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Setor 6 | 12 ºC
Contagem regressiva: 17 dias

Estou exausta.

Depois da patrulha de madrugada, a exaustão me venceu e consegui dormir. Mas já faz algum tempo que acordei e estou aqui rolando de um lado para o outro com todos os pensamentos.

O pior é que os eles não vêm organizados.

Repasso as discussões com o Nathan. Depois surgem o Gabriel e o Kyle, e até as desconfianças sobre Matt.

Então meu pensamento vai para o Lucas, e meu coraçãose parte.

Eu deveria estar com medo do olhar de decepção, da raiva que ele deve estar sentindo de mim. Mas então eu me lembro de que o nosso problema é maior do que isso. Nós temos uma bomba-relógio nas mãos e o tempo está passando

Ele pode morrer.

Nenhum pensamento me aterroriza mais do que este.

Olho para a janela entreaberta e não vejo nenhum sinal de luz do sol, mas ficar aqui deitada sozinha, com lágrimas silenciosas que não consigo impedir que caiam só pode me fazer pior.

Troco o curativo da minha perna depois de tomar banho e vou até a cozinha em busca de uma xícara de chá.

Ontem, no jantar, nem prestei atenção ao tamanho desse lugar. Deveria ser o refeitório da escola, tem várias mesas grandes rodeadas de cadeiras. Atravesso uma porta e encontro a dispensa. Não há geladeira, o gerador não aguentaria a quantidade de energia para mantê-la. Mas pelo menos tem uma chaleira elétrica, que é bem mais útil nesse frio.

Ouço pessoas entrando no refeitório, mas os passos parecem que se direcionam para a outra extremidade, até eu não conseguir ouvi-los mais.

Enquanto espero a água ferver, vejo a quantidade de enlatados que se amontoam uns por cima dos outros nas prateleiras. Também tem torradas, frutas secas, grãos. Demoro para encontrar os sachês de chá, mas não encontro açúcar. Não dou importância, já vivi essa realidade antes, mas conhecer hoje a ostentação da Matriz só faz o meu ódio aumentar por eles.

Quando saio da cozinha com a xícara de chá aquecendo as minhas mãos vejo Matt e Nathan em uma mesa distante.

Vou até eles e cumprimento os dois que parecem surpresos ao me ver ali naquela hora da manhã.

- Não conseguiu dormir mais? - Matt pergunta. Olho para o Nate que volta os olhos para os papéis espalhados pela mesa. Aproximo-me mais e vejo que são mapas.

- Não. - Respondo notando o cansaço nos rostos deles também. - O que vocês estão fazendo? - Pergunto.

- Tentando descobrir como vamos chegar à Fronteira. Nós temos que ir embora daqui. - Matt responde.

- Em qualquer caminho, vamos ter que atravessar o Rio Liffey. - Digo. Não preciso olhar o mapa para saber que este rio passa por todos os Setores do Norte, servindo como uma fronteira natural.

- Esse é o problema. - Nathan diz. - Apenas as pontes vigiadas são seguras, todas as outras foram parcialmente destruídas. Vamos ter que fazer isso a pé, provavelmente, nem uma delas aguentaria o peso de um carro.

- E como vamos fazer isso? O rio já não está congelado nesta época do ano. - Assim que termino de falar, lembro-me da última vez que passei por ele, indo para a casa de Olívia. Parece ter sido há uma vida atrás, mas foi há poucos meses.

- É isso que temos que descobrir. - Matt diz.

Olho para os olhos azuis dele, mas meus olhos se desviam e vejo umacicatriz que ele tem na testa. Das conversas que ouvi, sei que Matt tambémprestou serviço militar junto com Nathan e Gabriel, ele provavelmente ganhou essamarca naquela época.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora