Capítulo 16 (Dia 3)

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Setor 6 | 12 ºC
Contagem regressiva: 16 dias

— Tudo pronto — Armon diz nos encarando com aqueles olhos verdes brilhantes. Ele desliga a lanterna que estava focando em um ponto qualquer da parede e a coloca dentro da bolsa.

Olho para o telefone em cima de uma mesa empoeirada e meus olhos são fisgados pelos cabos desorganizados que se espalham por todo o chão. Eles não abriram nenhuma janela e apenas duas lâmpadas fracas iluminam o ambiente refletindo as partículas de poeira que nos envolvem. Não sei por quanto tempo esse lugar ficou fechado, mas o ar aqui dentro está tão pesado que a reação no meu corpo é instantânea. É difícil respirar por causa da umidade e sinto o nariz começar a formigar.

Armon termina de colocar o material dentro da mochila, fecha o zíper e a joga nas costas. Ele provavelmente era um técnico de telecomunicações no Setor 7, o que não é um trabalho tão ruim como os das fábricas, mas extremamente mal remunerado e pouco seguro.

Eu ainda não consegui entender por que ele se ofereceu para ajudar a Resistência. Ele sabia que seria uma missão potencialmente suicida, mas nem agora, dois dias depois, ele parece arrependido.

Claro que para quem nasceu nos Setores encontrar motivação para lutar contra o Sistema não é algo complicado. Basta olhar para a nossa situação de miséria e falta de justiça. A raiva surge ainda com mais intensidade quando comparamos as nossas condições com a ostentação que a Matriz nos obriga a ver.

Mas mesmo assim, eu gostaria de saber mais sobre ele. Queria saber se ele tem família e o que realmente motivou essa decisão.

Observo-o fechar o casaco enquanto sinto as minhas mãos ficarem úmidas.

— Vocês conseguiram testar? — Nathan pergunta.

— Ligamos para a Base do Setor 7 e eles confirmaram que a chamada não está localizável — Matt responde.

— Ótimo trabalho, Armon — Nathan agradece.

— Eu vou ficar de vigia lá fora, qualquer coisa é só chamar — ele informa e nos deixa sozinhos.

Vejo a tensão nos rostos do Matt, Lucas e Mere. Mas na expressão do Nathan eu vejo apenas concentração. Ele se afasta um pouco do grupo e observo Matt indo na direção dele.

Mere se aproxima de mim e noto seus olhos e nariz vermelhos. Ela até tenta, mas não consegue conter um espirro.

— Desculpe, eu tenho alergia a pó — diz envergonhada, tirando um lenço do bolso. — Não fui rápida o suficiente.

— Não se preocupe — digo para deixá-la confortável. — Na verdade, até me admiro de não estar espirrando também.

— É um ótimo sinalque o tratamento está fazendo efeito em você — ela afirma.

Matt e Nathan continuam conversando quando ouvimos um barulho de vidro se quebrando mesmo ao nosso lado. Mere dá um pulo ao mesmo tempo em que o ambiente fica mais escuro.

— O que foi isso? — ela pergunta assustada enquanto os meus olhos tentam se habituar à luz ainda mais escassa.

Lucas olha à volta, assim como Matt e Nathan, e rapidamente encontra o foco da pequena explosão.

— Foi uma lâmpada que queimou.

Sinto um alívio passar por mim.

— Eu estou com medo deste lugar — Mere diz. Eu também estou, mas eu já aprendi a conviver com medo e com a necessidade de não demonstrá-lo. Depois de tudo o que já passei, ou você fica mais forte ou enlouquece.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora