Capítulo 3 (Dia 1)

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Setor 6 | 16 ºC
Contagem regressiva: 18 dias

Matt, mesmo contrariado, nos guia para a sala onde o Kyle está sendo mantido mais como paciente do que como prisioneiro pelo que a Meredith me disse há pouco.

Apesar de tudo o que ele fez, ela não quebrou o juramento de médica de sempre dar o tratamento e as condições adequadas para o paciente se recuperar. O que, no nosso caso, está muito aquém do que seria apropriado, nem mesmo o Nathan está recebendo todos os cuidados de que precisa. E isso realmente me preocupa.

Paro um pouco, sentindo a dor aumentar por andar mais rápido do que deveria.

— Você não precisa vir conosco, Emily — Nathaniel diz, virando-s para mim quando percebe o esforço que estou fazendo. E por mais que ele tente esconder, noto apenas preocupação na voz dele.

— Eu quero ir — respondo tentando não mostrar nenhuma hesitação na minha voz. Quando ele insinua que vai contestar, continuo. — Não perca seu tempo...

Ele estreita um pouco os olhos, mas a vontade de encontrar o Kyle deve ser maior do que a de me fazer desistir. E eu o entendo. Se não fosse o Kyle, ele estaria na Matriz agora e todo o plano, provavelmente, teria corrido como planejado.

O único problema é que, do jeito que ele está, pode ser perigoso esse encontro acontecer agora, mas sei que nem eu nem o Matt conseguiríamos fazê-lo tirar essa ideia da cabeça.

Ele parece transtornado, e acho que em parte é por causa do discurso do Gabe. Afinal, não é a apenas a Matriz que está nos procurando. Com a oferta de recompensa, todas as pessoas dos Setores têm agora um motivo para nos entregar. E com a promessa de perdão, qualquer um dos resistentes que está aqui conosco pode fazer o mesmo.

Por isso, meu medo é que ele desconte toda a raiva no Kyle. Não que eu ache que o Kyle não mereça ou que me preocupe com ele, mas não quero que o Nathan faça algo que possa vir a se arrepender depois.

Matt para em frente a uma das salas e Nathan pega a arma.

— Isso não vai ser necessário — digo assustada.

Só o fato de ver a arma e pensar no Kyle me faz voltar para o pesadelo de ontem.

— Eu conheço o Kyle, isso vai ser necessário. — A forma como ele fala me fez lembrar de tudo o que Kyle já fez. Não tenho dúvida de que o Nathan deve estar arrependido de nunca ter dado uma lição a sério nele.

Matt cumprimenta o Soldado que está vigiando a porta com uma postura rígida.

— Soldado Brice. — Nathan o reconhece e o soldado bate continência, mas é visível o seu constrangimento. Se o Nathan não fizesse parte da Resistência, ele seria um desertor e por isso não consegue esconder a vergonha em frente ao seu antigo Comandante.

O soldado se afasta da porta, abrindo espaço para passarmos.

— Vou entrar com vocês. — Digo.

Para a minha surpresa, Nathan não contesta.

— Vá com calma. — Matt fala para ele. — Mere disse que não podemos pegar pesado com o Kyle. — Nathan volta a colocar a arma no coldre o que me faz soltar um suspiro de alívio. Fico feliz por ter Matt conosco. Ele traz um pouco de calma para o meio desse caos.

Nathan segura a maçaneta e o meu corpo estremece apenas com o pensamento de estar frente a frente com Kyle de novo.

Apesar de saber que ele não tem como me machucar, estar no mesmo ambiente que ele me causa calafrios. Achei que seria mais fácil, mas todas as lembranças, todas as ameaças, todas as provocações de Kyle voltam à minha cabeça. Pego na minha mão me lembrando do tapa que dei nele, e depois a recordação das lágrimas da Mia retornam à minha mente enquanto ela afirmava que o irmão estava cada vez mais paranoico.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora