Capítulo 58 (Dia 15)

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Fronteira | 15 ºC
Contagem regressiva: 4 dias

Paraliso ao ouvir a voz do Matt.

— Não se assustem, só precisamos ir embora o mais rápido possível — Nathan tenta nos tranquilizar, mas já é tarde de mais. Sinto o coração na boca. Nem uma troca de olhar com ele me deixa mais calma.

— O que está acontecendo? — Lucas pergunta se afastando da mesa onde estávamos vendo os mapas.

Com as mãos tremendo, pego um a um e os coloco na caixa de papelão vermelho à minha frente. Eles parecem antigos, como se fossem do lugar que existia antes da Terceira Guerra, mas uma película à volta os ajudaram a se manter intactos.

— Algo na Matriz, não sabemos ao certo, mas todo o corpo de vigilância foi convocado. Por isso, as ruas estão praticamente livres — Nathan diz e sinto um alívio. Pela forma como entraram, tive a sensação de que a qualquer momento a polícia invadiria o abrigo e nos levaria presos. Tenho vontade de chamar a atenção do Matt e dizer que ele não pode nos assustar desse jeito, mas fico calada. Nem ele tem estado imune à tensão dos últimos dias.

Depois de todos os mapas estarem bem armazenados, fecho a tampa da caixa e sinto o Nathan atrás de mim. Ele coloca a mão em cima da minha e noto que a dele está gelada. É sinal de que está bastante frio lá fora.

— Senti tua falta — sussurra no meu ouvido. Ouvir a voz pertinho de mim depois de ver que ele está bem me faz suspirar de alívio. Ele não me abraça, apenas encosta o rosto dele no meu. A respiração quente tocando a minha pele me causa um arrepio.

Mas antes que eu possa dizer algo, ele se afasta.

Respiro fundo e dou uma volta no cachecol.

Por um momento, sinto-me feliz por estar indo embora.

Foram quatro dias enclausurada neste lugar, vendo a luz do sol apenas nos curtos momentos em que eles abriam a porta para sair. O ar já estava ficando viciado e a sensação de claustrofobia aumentava a cada minuto. Isso para não falar no fato de estarmos convivendo com baratas e outros animais peçonhentos.

— Vamos, gente! — Matt fala para nos apressar. — Também está vindo uma tempestade — conclui, deixando-me nervosa.

Sempre ouvi falar que as tempestades na Fronteira eram muito fortes. Como é um descampado desprotegido, a ventania costumava ultrapassar os cem quilômetros por hora e, muitas vezes, se formavam pequenos tornados.

Mas felizmente nunca causaram muitos estragos.

No Setor 7, o máximo que tínhamos eram ventanias até setenta quilômetros por hora e tempestades de neve.

Observo Kyle e Vitor distribuírem as mochilas e, assim que me entregam a minha, vou até a Mere.

— Você me ajuda a pegar os medicamentos? — pergunto. Mesmo que estejamos indo para um hospital, nunca é demais levar conosco tudo o que podemos precisar, já que não sabemos o que vamos encontrar lá.

— Claro — ela responde e seguimos em silêncio.

Mere nunca mais foi a mesma depois que as meninas foram deixadas no orfanato. Ela passou aqueles dias se preocupando apenas com as duas, isso tirava a tensão de toda a situação pela qual estamos passando. Mas agora essa tensão se soma à saudade e às incertezas. A falta de notícias é o pior. Todos queremos saber como elas estão.

Não tenho dúvida de que quando tudo isso acabar ela volte para adotar Alana e Lily. Torço muito para que isso aconteça!

Apesar de entendê-la, sinto falta da minha amiga, mas vou pressioná-la. Esse comportamento acaba sendo o mais aceitável. Tentar parecer forte o tempo todo, como eu faço, não é saudável, sei disso. Sinto que no dia que eu realmente ceder a toda pressão, não vou voltar a me recuperar.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora