Capítulo 61 (Dia 16)

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Fronteira | 12 ºC
Contagem regressiva: 3 dias

— Vou descansar se vocês não se importarem — Anna diz levantando-se do sofá. Ela quase não abriu a boca desde que o Lucas voltou e os outros se juntaram a nós. Kyle continuou mandando indiretas, o que, em vez de tornar o clima mais constrangedor, acabou por desanuviar o ambiente pesado.

Passa pouco da meia-noite.

De vez em quando um trovão soa, mas apesar de a tempestade ser mais forte, eles não chegam perto do estrondo dos trovões do meu Setor. O que acaba assustando é o vento que assovia em todas as brechas nas quais consegue entrar. Dentro de um hospital e apenas com a luz fraca de um abajur, isso acaba sendo um bocado assustador.

Não consegui perguntar ao Lucas o que ele estava fazendo e, por mais que pareça se esforçar, ele continua distraído na conversa. Diante das circunstâncias, eu sei que é normal. Mas ele ficou pior desde que se encontrou com a Anna.

— Eu te acompanho — Armon diz para Anna e, depois de se despedirem, seguem para o corredor dos quartos.

O Lucas quase sempre parece forte, mas o Armon mantém a máscara o tempo todo. É mais fácil para ele, já que não tem família. Mas ele tem só vinte e três anos, ainda pode reconstruir tudo. Claro que nada vai compensar a perda da filha e da esposa... eu só queria que eles demonstrassem um pouco mais de esperança e vontade de viver.

— Vamos pra cama também, baby? — Kyle pergunta para Vitor que tenta manter a cara de chateado, mas não consegue, apenas o empurra quando ele tenta abraçá-lo.

— Às vezes, eu até penso em te dar uma força com a Gi — começa, mas Kyle aproveita o momento de distração e o abraça.

— É por isso que eu te amo — diz e consegue dar um beijo no rosto do Vitor que limpa com cara de nojo. — Fala com a Jani.

— Se a Jani vir você me agarrando desse jeito, pode esquecer — diz se desvencilhando do abraço do Kyle.

— Ela não sabe que você gosta? — Kyle provoca.

— Não precisa ter vergonha, Vitor — Nathan diz tentando segurar a risada.

Caralho, Kyle — Vitor diz sem jeito percebendo que Nathan está prestando atenção à brincadeira.

— Se o teu Comandante diz que não tem problema, aproveita. Até porque eu ouvi uma conversa dele com a Emily no outro dia, e olha, acho que ele também... — Sinto o rosto ficar quente com a declaração que o Kyle está prestes a fazer. Como que ele ouviu o Nathan falando do Lucas?

— Cala a boca, Kyle — Nathan o adverte e ele levanta as mãos em forma de rendição. Mas, apesar da expressão séria, consigo notar a covinha se formando no rosto dele.

Vitor e Kyle saem se empurrando, o que me faz sentir um alívio. Não queria ter que explicar isso para o Lucas neste momento.

Mere e Matt vão a seguir, deixando-me sozinha com os dois.

— Vocês vêm também? — Nathan pergunta parando à nossa frente. Meus olhos sobem devagar por ele até chegar aos olhos. Ele parece um pouco constrangido, e quando passa a mão no cabelo bagunçando-o ainda mais mostra que está um nervoso.

— Eu preciso falar com a Em — Lucas responde e a expressão do Nathan não muda, parecia que ele estava esperando por isso.

— Se precisarem de alguma coisa, sabem onde me encontrar — diz e, mesmo hesitante, vai embora.

Este é sempre o pior momento, quando cada um vai para o seu quarto. Não posso ficar com os dois, não posso escolher só um. E saber que eles precisam tanto de mim quanto eu preciso deles acaba comigo.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora