Capítulo 32 (Dia 7)

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Setor 7 | 10 ºC
Contagem regressiva: 12 dias

O dia está demorando a clarear.

Atravesso a porta do armazém e estremeço quando uma rajada de vento gelado passa por mim. Ando com cuidado pelo chão com pequenas pedras e vejo o Nathan sentado em um banco de madeira.

— O que você acha que vai acontecer hoje? — pergunto enquanto me sento ao lado dele. Ele desvia o olhar do nevoeiro denso, encara a xícara de chá que seguro com as duas mãos para aquecê-las e depois vira aqueles olhos verdes intensos para mim.

— Eu queria poder dizer que tudo vai dar certo — começa. — Mas a única coisa que tenho certeza é que vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para salvar aquelas pessoas.

— Espero que seja suficiente — digo sem esconder as incertezas na minha voz.

Ele fica em silêncio, e eu suspiro fundo antes de tomar mais um gole do líquido quente com sabor de hortelã.

Enquanto o calor desce pela minha garganta, sinto um medo me invadir. Mas não só, também sinto raiva e tristeza. Temos milhares de vidas em nossas mãos, isso é um peso maior do que estamos preparados para aguentar.

E se falharmos?

E se acontecer algo a um de nós?

Respiro fundo tentando afastar os pensamentosnegativos insistentese inquietantes enquanto termino de tomar o chá sem deixar denotar o olhar absorto doNathan.

— No que você está pensando? — pergunto com certeza de que há mais coisas que o estão preocupando.

— No Gabe — responde. — Depois de hoje, ele vai saber que suspeitamos dele.

— E você tem receio do que ele pode fazer? — pergunto quando milhões de possibilidades passam pela minha cabeça.

— Eu tenho receio do que ele já pode ter feito — diz com a voz rouca cheia de preocupação. — Tento me lembrar de algum indício que posso ter deixado escapar, algum motivo para ele ter se virado contra mim — balança a cabeça em negação -, eu não encontro nada.

Fico em silêncio, não há nada que eu possa fazer para ajudar. Afinal, o Gabriel é uma incógnita para mim. Em todos aqueles meses, apesar de termos nos encontrado algumas vezes, nunca houve nada além de cumprimentos formais e provocações sempre começadas por ele.

Mas não era difícil notar o respeito que ele parecia ter pelo Nathan, o que me deixa realmente intrigada.

— Desde quando vocês eram amigos? — pergunto curiosa.

— Desde sempre, Em. — O tom vulnerável na voz do Nathan mostra o quando ele está sofrendo com a possível traição do amigo. — Não tem nem um momento da minha vida em que o Gabriel não tenha estado presente. Ele era mais que um amigo, era como um irmão. — Nathan faz uma pausa quando a voz dele falha e os olhos brilham, e apenas espero ele se recompor e voltar a falar. — Não consigo entender o que fiz de errado e não consigo me perdoar por não ter visto nenhum sinal antes.

— Talvez ele não seja o traidor — digo, tentando confortá-lo mesmo não acreditando nisso e desejando mais do que nunca estar errada em relação à traição do Gabriel.

É angustiante ver todas essas dúvidas no rosto do Nathan e não poder fazer nada.

— Já não falta muito para descobrirmos — diz, levantando-se, e quando meus olhos acompanham cada detalhe lindo dele apesar das noites mal dormidas, da preocupação, vejo que as nuvens começam a clarear.

É hora de partir.

Quando entramos no armazém, vejo que Kyle continua deitado, enquanto todos os outros já estão prontos, apenas esperando o momento certo para continuar a viagem. Mas basta um olhar do Nathan para fazê-lo se levantar.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora