A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)

Capítulo 4 (Dia 1)

Setor 6 | 16 ºC
Contagem regressiva: 18 dias

— O que está errado com você? — Pergunto ao Nate assim que saímos da sala e nos distanciamos o suficiente para ter certeza de que o Kyle não poderia nos ouvir. — Os pontos poderiam ter rompido com o impacto do tiro. Você não pode ser inconsequente desse jeito! — A minha voz soa mais irritada do que eu queria.

Nathan para de andar e se vira para mim. Então me olha sério por alguns segundos antes de falar.

— Qualquer outra pessoa pode me cobrar isso, menos você. — Responde sem desviar o olhar.

Eu não tenho como me defender, eu sei que posso ser impulsiva às vezes, mas eu só estou preocupada com ele e não consigo controlar o nervosismo. As minhas mãos continuam tremendo e o ruído do tiro continua soando no meu ouvido.

Além disso, os últimos minutos foram muito tensos.

Fazer o curativo no braço do Kyle, estar tão perto ao ponto de sentir a respiração dele em mim não foi agradável, mesmo sabendo que o Nathan estava observando a situação e pronto para intervir se ele tentasse fazer qualquer coisa comigo.

E claro, o nome do Gabriel não sai da minha cabeça.

Eu não quero nem imaginar o que pode acontecer se isso for verdade, se o Gabriel for o traidor. A nossa situação estaria complicada, para dizer o mínimo.

— Nathan, a Emily tem razão. — Matt diz em minha defesa. — Além disso, você já não precisa seguir protocolos e pode já não ser o Príncipe ou Comandante da Guarda Real, mas mais do que nunca você deve ser um exemplo. Nunca se esqueça disso.

Nate não fala nada, as palavras de Matt o desarmam.

— Está doendo? — Pergunto quando a expressão do rosto dele se acalma. — Você acha que os pontos romperam? Posso ver se está tudo bem?

As perguntas saem umas atrás das outras enquanto ando na direção dele que está encostado à janela. Quando percebo, estamos tão perto que consigo sentir a tensão quase tácita entre nós dois.

— Estou bem, Emily. — Diz com a voz bem mais calma, sem conseguir esconder que a minha preocupação o afeta.

Olho para a boca dele e meu coração acelera quando me lembro do gosto do beijo dele. Então os nossos olhos se encontram e eu me permito me esquecer de tudo e apenas me perder naquele verde intenso. Eu vejo raiva, decepção, tristeza, mas também vejo desejo.

Ele não consegue controlar um suspiro e isso me encoraja a dar mais um passo à frente.

— Você não está achando que foi o Gabriel, pois não? — Matt pergunta nos lembrando de que não estamos sozinhos e me fazendo voltar para uma realidade da qual eu queria muito poder fugir. — O Kyle enlouqueceu.

Nathan continua olhando para mim, mas rapidamente se recompõe e desvia o olhar para o Matt por cima dos meus ombros.

— Eu não sei Matt. — Responde se afastando. Olho para fora da janela tentando fazer a minha respiração voltar ao normal e tirar a frustração que deve estar estampada no meu rosto. — Eu o conheço há tempo suficiente para saber que ele nunca deixaria a irmã em perigo.

A verdade é que o Kyle mudou quando falamos na Mia. A postura arrogante se transformou em preocupação, ele parecia genuinamente aterrorizado com o fato de a irmã ter sido acusada de traição. Quando o Nathan insinuou que ela será executada, ele cedeu no mesmo momento, mesmo que as palavras pareçam ter saído com dificuldade.

— Ele está delirando, Nate. — Matt soa convicto. E então me lembro da Mia chamando o irmão de paranoico e a expressão de louco que ele tinha todas as vezes que me abordou. — Ou pode ser pior. Ele pode continuar do lado do traidor e ter sido instruído a jogar você contra o Gabriel. Isso quebraria a Resistência.