Capítulo 57 (Dia 15)

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Fronteira | 15 ºC
Contagem regressiva: 4 dias

— Que merda foi essa? — A voz do Kyle ecoa no abrigo escuro. Depois de um ruído, que pareceu uma pequena explosão, as lâmpadas se apagaram e a televisão desligou.

Lucas procura e minha mão e entrelaça os dedos nos meus ao mesmo tempo em que acende uma lanterna com a outra mão. Armas e lanternas são as duas coisas que temos sempre ao nosso lado.

— Deve ter sido só o gerador — Armon responde quando o Lucas foca no rosto dele atrás de resposta. Instintivamente ele que coloca a mão impedindo que a luz forte chegue aos olhos.

— Quase morri de susto — Kyle resmunga.

— Cuidado com a barata que estava ao teu lado — Vitor diz. Kyle acende a lanterna e foca em todas as direções levantando-se rápido do sofá onde estava deitado.

Assim que ele mostra o dedo do meio para o Vitor, Armon mantém o foco no braço dele iluminando o inseto pegajoso que passeia pela manga do casaco. Vitor não estava brincando e começa a rir quando vê para onde a barata está indo. Sinto um arrepio passar por mim.

Com todos os focos apontados para a o braço dele, Kyle olha, mas apenas quando sente a barata andando no pescoço dele é que começa a abanar os braços e sai pulando pela sala.

A cena é tão engraçada que até a Mere ri depois de se cobrir toda com a manta com medo de a barata pousar nela. Lucas e Armon, que também têm estado sérios na maior parte do tempo, não contêm a risada.

Olho para o Lucas e não demora até ele me devolver o olhar.

— Oi — diz baixinho, como se ainda não tivesse falado comigo hoje. Talvez seja a minha forma de olhar para ele, o sorriso dele me fascina. Tiro todos os pensamentos negativos da cabeça e o abraço. Ele está aqui! Ele está aqui! Repito para mim mesma controlando a vontade de chorar enquanto ele me envolve nos braços dele. — Em — sussurra o meu nome e apenas o abraço mais. Ele aponta a lanterna para o chão o que me traz lembranças de alguns meses atrás, quando era ele quem estava preocupada com a minha vida. — Eu preciso que você me prometa uma coisa... — começa, mas o interrompo.

— Agora não, Lucas. — Minha voz falha.

A minha esperança de encontrar o antídoto e tudo o que estamos passando não me deixaram aproveitar esse tempo com ele. Isso é tão injusto. Não gosto das lembranças que tenho de nós dois nos últimos meses. Apenas dor, medo, brigas e fugas constantes.

— Em — diz tentando sair do meu abraço.

Eu sei o que ele está fazendo. Ele deve achar que ao não deixar eu me aproximar vai ser mais fácil se... se o pior acontecer. Mas é o contrário. Eu preciso dele mais do que nunca!

— Não me afaste de você — peço em tom de súplica. — Eu só estou com saudade — minto. Não é fácil manter a esperança nesse momento, mesmo querendo me agarrar as duas possibilidades que nos restam.

Ele dá um longo suspiro e sinto que cede quando o abraço dele fica mais forte.

— Você pode me ajudar, Lucas? — A voz do Armon nos desperta e então vejo o foco de uma lanterna sobre nós dois. Saio contrariada do abraço, apesar de saber que temos que resolver a situação.

Armon e Mere vão na frente para a sala onde está o gerador. Kyle e Vitor estão mesmo atrás de nós.

Então penso no Nathan e meu coração se aperta por se lembrar que ele não está aqui. Matt e ele saíram há pouco.

De repente sinto o ar faltar.

Entramos em um corredor longo. Desta vez, não explorei o abrigo. Não faço ideia do que tem por trás de todas essas portas.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora