A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)

Capítulo 35 (Dia 7)

Setor 3 | 10 ºC
Contagem regressiva: 12 dias

É fácil se perder aqui.

Estamos em uma das ruas comerciais do Centro do Setor 3. Mas, ao contrário da Matriz, onde as fachadas das lojas são extravagantes e reluzentes, tudo aqui é muito opaco e sombrio. Apenas uma placa com letras garrafais em vermelho ou azul na fachada cinza indica o tipo de serviço que o lugar oferece.

Não há arranha-céus, não há vitrines com roupas exuberantes ou joalherias luxuosas. Muito menos há cinemas ou discotecas. A única coisa que vemos são algumas pessoas andando rápido, provavelmente para conseguir comprar o que precisam antes que as lojas fechem.

Vejo meu reflexo na janela de um carro e puxo um pouco mais ogorro, para esconder todos os fios ruivos do meu cabelo. Ainda pelo reflexo,vejo Nathanque está andando devagar um pouco atrás de mim para não parecer que estamosjuntos.

Não consigo deixar de notar o quanto ele está lindo de gorro e cachecol. Ainda não o tinha visto assim. Com essas roupas, dificilmente alguém o reconheceria. Eu própria mal o reconheço.

Mas mesmo que ele tenha o cuidado de manter a cabeça um pouco inclinada para não chamar a atenção, tenho certeza que está atento a todos os movimentos ao nosso redor.

Nossos olhos se encontram rapidamente e se desviam, então continuamos o caminho em silêncio.

Mas só quando as lojas começam a ser fechadas, sabemos que falta apenas uma hora para o toque de recolher. Rapidamente as ruas se enchem de pessoas, o que me traz um pouco de alívio, afinal agora é mais fácil não sermos notados na multidão. Nossas roupas escuras também nos camuflam no meio das pessoas que estão circulando.

Então percebo outracoisa: já não falta muito para o primeiro sinal.

Existem dez Centros de Comando ao redor do Setor 3.

Quando elaboramos o plano, nós ficamos responsáveis por sete deles, e o Lucas delegou três para os Resistentes do Setor 3. Não conseguiríamos cobrir toda a extensão, o Setor é grande e os Centros de Comando estão localizados em toda a volta, como se fossem as torres de uma muralha invisível. Antes de sairmos, Lucas repassou o plano com eles e confirmou que estavam preparados.

Kyle e Mere queriam ficar na base, mas Matt não se sentiu à vontade para deixá-los sozinhos. Por isso, Mere está com ele no Centro de Comando a seguir ao nosso e Kyle está com Vitor. Armon e Lucas foram para o Centro de Comando mais distante, o Centro Sete.

No meio da multidão silenciosa, um barulho do outro lado da rua me chama a atenção.

Eu sei que deveria ignorar, mas olho assustada e vejo um senhor tentando puxar a porta de enrolar de uma loja. Ela deve estar emperrada. Em outras situações eu teria ido ajudar, mas é melhor seguir o nosso caminho.

Quando volto a olhar para frente tenho que me desviar rápido para não ir de encontro a uma pessoa que está vindo na minha direção, a última coisa que precisamos é chamar a atenção.

Continuamos um pouco mais rápido, a rua é maior do que eu imaginava e precisamos chegar ao Centro de Comando no horário combinado. Coloco as mãos dentro do casaco e respiro fundo tentando aliviar a tensão.

Avançamos mais um pouco e sinto a mão do Nathan tocar o meu braço rapidamente. É um toque tenso, o que me faz olhar ao redor.

— Soldados — diz baixinho se inclinando discretamente para perto de mim.

Já esperávamos que o Setor estivesse cheio deles.

Conto três parados do outro lado da rua, com armas em punho e atentos ao movimento. Meu corpo se enche de adrenalina e Nathan me guia mudando de direção até entrarmos em um beco estreito e escuro que parece menos arriscado do que sermos apanhados pela Guarda Real da Matriz.