Capítulo 26 (Dia 5)

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Setor 7 | 13 ºC
Contagem regressiva: 14 dias

— Porra, Gabe! Que merda foi aquela? Eles quase mataram a Emily na emboscada — Nathan diz assim que o atual Comandante da Guarda responde do outro lado da linha. Nunca pensei que iria ouvi-lo chamar palavrões, mas confesso que se a situação não estivesse tão tensa eu até teria achado sexy.

Depois de nós três conversarmos com Matt e Armon, decidimos que o melhor a fazer era dizer que eu tinha levado um dos tiros. É a única forma de fazer o Gabe acreditar que não estamos planejando fazer nada nos próximos dias, que não estamos tentando arruinar o plano da Matriz de implodir o Setor 3.

— Eu soube o que aconteceu — diz com um tom de voz baixo como se alguém pudesse ouvi-lo. —Não sei se essa chamada é segura, Nathan. Quando eu soube da emboscada, primeiro pensei que eles tinham ouvido a nossa conversa, mas depois descobri que prepararam emboscadas em todos os carregamentos de antídotos do Setor 7 por terem certeza de que vocês iriam atacar. Mas eu não sei, o Rei está tomando decisões que deveriam ser minhas — conclui parecendo preocupado.

— Eles estão desconfiados de você? —Nathan pergunta enquanto tento controlar o meu nervosismo.

Matt está virado para a janela, não consigo ver a expressão do rosto dele para tentar decifrar o que ele está achando dessa conversa. Lucas e Armon, que estão em pé olhando para o Nathan, estão com uma expressão tão confusa quanto eu.

— Eu não sei, Nate. Mas se eles ouviram a nossa primeira chamada, não há mais nada a fazer, apenas esperar para ver quem nos traiu e quando vai me desmascarar — constata com um tom de voz aflito tão convincente que é difícil dizer com certeza se ele está falando a verdade ou não. — Os soldados que estavam presentes relataram que houve disparos e que possivelmente um de vocês teria sido atingido, mas ele não viu muita coisa. Eu não fazia a menor ideia de que a Emily estava com vocês. Como ela está? — pergunta por fim.

Nathan espera alguns segundos antes de responder.

— Ela não está bem — ele diz. — Se acontecer alguma coisa a ela — Nathan faz uma pausa e olha para mim —, eu vou acabar com a Matriz. — Conclui a frase me olhando nos olhos, fazendo com que eu tenha certeza que era isso que ele faria se algo realmente acontecesse comigo.

Talvez ser forçado a imaginar esse cenário tenha trazido a fúria que vejo nos olhos dele.

— Vocês estão precisando de alguma coisa? Quer que envie algum médico da Resistência ou remédios? — Ele continua insistindo, mesmo que indiretamente, em descobrir onde estamos.

Claro que isso só aumenta as minhas suspeitas sobre ele. Diante da situação, ele deveria ser o primeiro a tentar proteger a nossa localização, principalmente em uma chamada telefônica. Ele acabou de dizer que poderiam ter ouvido a nossa conversa, e todos nós sabemos que ela pode ser interceptada. Além disso, não acredito que esteja tão preocupado comigo ao ponto de colocar a minha vida acima dos planos da Resistência.

— A Mere está cuidando dela, não precisamos de nada. Por enquanto — ele enfatiza a última frase, provavelmente para mostrar que a situação é grave ao ponto de podermos precisar do Gabe e vir a aceitar a proposta dele. — Você já tem notícia sobre os prisioneiros?

— Eles não são prioridade no momento — fala convicto. — Mas não se preocupe, eu vou fazer tudo o que puder para adiar ao máximo as execuções e mantê-los na Fronteira.

— Eles continuam lá? — Nathan pergunta. Mas a minha esperança, mesmo que o Gabe diga onde eles estão, é quase inexistente. Se ele mencionar algum lugar específico, não há dúvida de que é outra emboscada.

— Sim. Ainda não sei onde, mas estou tentando descobrir — responde e me sinto um pouco aliviada. — O Rei não confia em mais ninguém, Nathan. Depois do que você fez, é aceitável que ele não esteja esperando lealdade de qualquer outra pessoa.

— Como eles estão? Os meus pais? — A pergunta coloca no rosto dele uma expressão que é um misto de culpa, tristeza e saudade, e a única certeza que tenho é que dói.

— Eles estão bem, na medida do possível — diz, mas as palavras dele não amenizam a dor do rosto do Nathan. —Sua mãe veio falar comigo. Claro que ela está desconfiada de que eu sei de algo, de que faço parte da Resistência, mesmo que não tenha dito isso diretamente. Ela me pediu que, se por um acaso você entrasse em contato, era para eu dizer que ela sente a sua falta. — Nathan se desvia do nosso olhar quando as palavras do Gabe visivelmente o quebram. — Nathan, você ainda está aí? — pergunta alguns segundos depois do silêncio que ele fez.

Pela primeira vez na conversa, o Matt reage e vai até o Nathan fazendo-o voltar a se concentrar.

— E o Setor 3? — pergunta com desânimo na voz.

— Eles não vão fazer nada por enquanto. Fica tranquilo — Gabe tenta passar tanta certeza que soa completamente falso. O que acaba de dizer não deixa dúvidas.

— Ótimo. A última coisa que eu preciso neste momento é ter que me preocupar em impedir essa implosão com a Emily neste estado. — Nathan aproveita para garantir que se sente aliviado por não ter esse problema para resolver.

— Espero que ela fique bem — diz parecendo diminuir o tom de voz. — Preciso ir, Nate. Se precisar de algo, sabe onde me encontrar.

Nathan se despede e Gabe bate o telefone fazendo o bip ecoar alto demais no nosso silêncio.

It's so hard to tell which side you're on
One day is Hell, the next day is the dawn
The lines are blurred, you keep rubbing your eyes
The tables turn, now it's time to survive
Are you a man, or a monster?

É tão difícil dizer de que lado você está
Um dia é o inferno, o dia seguinte é o amanhecer
As linhas estão borradas, você fica esfregando os olhos
As mesas viram, agora é hora de sobreviver
Você é um homem ou um monstro?
(Man or a Monster | Sam Tinnesz)

É tão difícil dizer de que lado você estáUm dia é o inferno, o dia seguinte é o amanhecerAs linhas estão borradas, você fica esfregando os olhosAs mesas viram, agora é hora de sobreviverVocê é um homem ou um monstro? (Man or a Monster | Sam Tinnesz)

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A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora