Capítulo 14 (Dia 3)

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Setor 6 | 8 ºC
Contagem regressiva: 16 dias

— Onde está a Mia? — Kyle pergunta assim que entramos.

Ele está sentado na beira da cama, enrolado em uma manta e com a aparência abatida. Eu me aproximo e coloco o material que vou precisar ao lado dele.

— Continua presa — respondo posicionando o termômetro na testa dele. Ouço um bip e os números que aparecem no pequeno visor me confirmam a febre. Espero que o ferimento não tenha inflamado.

— Se for para salvar a minha irmã, eu ajudo vocês — ele diz sério. Eu nunca o vi tão controlado antes, sem o sorriso debochado e o ar de superioridade que ele se preocupava em manter.

— O que você sabe? — Nathan pergunta.

— Me levem até ela e digo tudo o que quiserem saber sobre o Gabriel —ele insiste na acusação. — Não vou falar nada até a Mia estar a salvo. Mas até lá,também não vou fazer nada contra vocês. Vocês podem confiar em mim.

Nathan dá uma risada irônica.

— Você não é confiável — ele diz. — E quando a minha paciência acabar, vou usar os meus métodos para fazer você falar tudo o que sabe.

Kyle se cala na mesma hora com a ameaça. Depois do tiro, tenho certeza que percebeu que o Nathan não vai ser mais tão tolerante. Mas espero que o Nathan esteja blefando, embora a forma como ele falou até tenha provocado um arrepio em mim.

— Sabe quem apareceu como traidor hoje? — Pergunto e ele olha para mim assustado. — Você. Portanto, agora você também é um inimigo da Matriz, foi considerado um rebelde.

— Por quê? — Ele pergunta parecendo indignado.

— Porque você desapareceu junto com os outros Resistentes. Se você estiver falando a verdade sobre o Gabe, isso é a confirmação de que ele não está do seu lado. Primeiro a Mia, depois você... — Digo para ele entender que agora realmente só tem a nós. Mas ver a foto do Kyle junto com os outros Resistentes me causou repulsa.

Ouço Nathan andar um pouco mais para perto de nós dois com a arma em punho, o que me dá um pouco de segurança.

Então reparo no café da manhã que continua intacto em cima da mesa, e o copo com os medicamentos que a Mere prescreveu para ele. A preocupação em seu rosto e a falta de apetite me fazem acreditar que ele pode estar falando a verdade, mas me apresso a tirar esse pensamento da cabeça, não consigo lidar com o fato de o Gabriel ser o traidor.

— Enquanto você estiver enrolado nesta manta, a febre não vai passar — digo em tom de reprovação e ele a tira, mesmo parecendo contrariado. — Você também precisa comer e tomar o medicamento.

— Essa comida é horrível — ele reclama. — Eu não vou tomar o medicamento enquanto não me trouxerem uma comida decente.

Se a situação não estivesse tão tensa eu até teria rido com a surpreendente falta de noção do Kyle, mas o meu humor é muito pouco nesse momento.

— Sem o medicamento você vai morrer, é simples — digo sem paciência.

— A decisão é sua — Nathan conclui com a voz ríspida.  

— Vocês precisam de mim — contesta. É claro que precisamos dele, foi por isso que passei pela tortura de levar pontos sem anestesia. Mas nenhum de nós está com disposição para ceder às exigências do Kyle.

— Você precisa mais de nós, do que nós de você. — Tiro o curativo e constato que está um pouco inflamado, mas nada que os remédios não possam resolver. No entanto, franzo um pouco as sobrancelhas, colocando no meu rosto uma expressão de espanto.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora