Capítulo 29 (Dia 6)

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Setor 7 | 13 ºC
Contagem regressiva: 13 dias

"Onde existe gentileza existe bondade. E onde existe bondade existe magia." 
(Cinderela, 2015)

— Apressem-se! Ela já está a caminho — a voz da Anna não me tranquiliza nem um pouco.

Quando os meus olhos se habituam à luz que invade a parte de trás do carro onde estamos, vejo a parede do prédio em um tom de salmão desbotado e reconheço o lugar onde a mãe do Lucas sempre trabalhou.

Só neste momento, sinto uma onda de alívio passar por mim.

Lucas pede para o Vitor ficar no carro e ele não contesta. Embora tenha sido o Nathan a pedir para que ele nos acompanhasse, Vitor sabe que o Lucas precisa de privacidade.

Saímos do carro que estava posicionado próximo a uma porta aberta e Lucas segura a minha mão enquanto avançamos para dentro do prédio seguindo a Anna pelo que parece ser uma entrada de serviço. Andamos um pouco pelo corredor estreito, e Anna entra em uma pequena enfermaria pouco iluminada e com cheiro de éter.

Reparo na porta fechada do outro lado que deve dar acesso à fábrica. Clairy provavelmente virá de lá e sinto meu coração se apertar com a proximidade desse encontro.

— Vocês têm dez minutos — Anna avisa, evitando olhar para mim. — Fiquem aqui atrás por precaução. — Andamos para o outro lado do biombo que divide a enfermaria. Encosto-me na maca e observo Lucas não conseguir ficar parado e se distanciar um pouco de mim. Alguns segundos depois ouvimos alguém bater na porta.

— Com licença. — Ouço a voz da Clairy confusa e surpresa, que me traz tantas lembranças e uma sensação de segurança que só sentia com a minha mãe.

— Eu sou a enfermeira Anna. — Como precisa se apresentar, descubro que o Lucas não chegou a fazer isso.

Ouço a porta se fechar e a chave rodar na fechadura.

— O que está acontecendo? — Clairy pergunta assustada.

— Não se preocupe. Eu sou amiga do Lucas... — ela se apressa a dizer pra tranquilizá-la.

— Aconteceu alguma coisa com o meu filho? — ouço todo o nervosismo na voz dela.

— Mãe — Lucas a chama depois de dar um longo suspiro. Antes parecia difícil, mas agora eu realmente tenho noção da dor que isso vai causar nele.

— Dez minutos, Lucas — Anna volta a avisar antes de nos deixar sozinhos.

Clairy vem na direção dele que ficou paralisado.

Ela o abraça.

A aparência dela está abatida. Noto as olheiras embaixo dos olhos castanhos e o cabelo escuro liso e sem brilho emoldurando um rosto pálido. Clairy parece ter envelhecido uns dez anos desde a última vez que a vi, e tenho certeza que isso aconteceu nos últimos dias ao ver o Lucas acusado de traição.

— Meu filho — diz com as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto o abraça. Não consigo segurar o choro. Por mais que eu tenha perdido meus pais muito cedo, é algo mais natural que perder um filho. E nesse momento, essa é a única certeza que ela tem, que vai perdê-lo. É a única certeza que eu tenho. Então ela se afasta um pouco e coloca as mãos no rosto dele que devolve o olhar. Eu imagino a dor que ele deve estar sentindo ao vê-la desesperada desse jeito e não poder fazer nada.

— Por favor, não chore, mãe! — pede enxugando as lágrimas dela.

— Por que você não se entrega? Eles talvez perdoem você... — a esperança dela dói em mim. Eles nunca perdoariam o Lucas. A Matriz nunca mostrou misericórdia.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora