Capítulo 64 (Dia 17)

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Fronteira | 15 ºC
Contagem regressiva: 2 dias

O sol ainda não tinha saído completamente quando Vitor nos avisou que o diretor do hospital tinha chegado com um dos líderes da Resistência da Fronteira.

Isso foi há quarenta e cinco minutos.

Olho inconformada para o relógio mais uma vez. Faz todo esse tempo que estamos em reunião e há tanta coisa que podíamos já ter feito. Mesmo sabendo que esta conversa é importante, eu preferia estar na rua procurando os antídotos.

Nathan desvia o olhar para mim e espero que note a minha ansiedade e coloque um fim na conversa.

— Eu quero um carro — ele exige do senhor de cabelo grisalho à nossa frente. Na mesma hora vejo o Matt desviar o olhar para ele. Por que ele quer um carro agora? Nós não podemos nos arriscar dirigindo pela Fronteira. Eu sei que aqui estamos muito isolados, mas não consigo sentir medo do que ele pode estar planejando.

E apesar de a vontade de perguntar o motivo do pedido seja grande, controlo o impulso e troco um olhar com o Matt, que também fica em silêncio. Melhor não contrariá-lo, pelo menos não agora.

— É perigoso, Nathaniel — o líder diz mesmo que pareça bastante receoso em adverti-lo. — Nós estamos à sua disposição para o que precisar...

— Não estiveram ontem — Nathan o interrompe parecendo bastante autoritário. — Vocês nos fizeram perder um dia. — O tom de voz e a postura intimidantes, mesmo que ele não esteja com o uniforme da Guarda, lembram-me de quando ele era Comandante.

O homem olha para o Matt que continua calado. Ele provavelmente já deve ter notado o quanto Matt é sensato, mas não encontrou apoio nele. Não desta vez.

— Ao fim do dia ele vai estar aqui — ele apenas acata o pedido do Nathan sem falar mais nada.

— Eu vou estar esperando — Nathan não agradece. — E espero que continuem procurando os antídotos. Temos dois dias para encontrá-los e, como falamos, isso é do interesse de vocês também.

— Nós vamos continuar as buscas. Mas, assim como também já falamos, isso é quase impossível.

Ele não precisava nos relembrar isso. Nós sabemos, mas mesmo assim sinto um frio na barriga ao ouvir essas palavras. Olho para o Nathan e a única coisa que vejo nos olhos dele é determinação, a promessa que ele fez a mim e ao grupo.

Claro que isso também me assusta!

Respiro fundo e vou até a janela. Observo o dia nublado e a chuva que ainda cai, mas agora bem mais fraca.

— Preciso te pedir um favor — ouço a voz da Anna atrás de mim. Não me viro, espero ela chegar ao meu lado. Ela coloca as mãos no batente da janela e meus olhos são atraídos para o anel de esmeralda.

— Pode dizer — falo enquanto amarro o meu cabelo em um rabo de cavalo apertado.

— Você poderia estar ao meu lado quando tiver que me despedir do Lucas? Não queria ter que fazer isso sozinha — a voz dela está embargada. Encaro seus olhos castanhos escuros que estão cheios de lágrima e respiro fundo. Eu não queria vê-la se despedir dele, mas eu não posso dizer não a este pedido.

— Claro, Anna — respondo.

— Obrigada! Eu sei que também não é fácil para você... — começa, mas a interrompo.

— Não tem problema — digo e sorrio. Ela sorri de volta.

— Tem sido tão difícil. A única coisa que tenho feito é tentar segurar o choro.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora