Capítulo 21 (Dia 4)

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Setor 6 | 12 ºC
Contagem regressiva: 15 dias

No longo caminho de volta, sinto que há algo errado com a minha perna. Os pontos devem ter rompido com o esforço, só isso explica a dor que estou sentindo. Mas decido não dizer nada até chegarmos à base, não quero que o Lucas dirija mais rápido ainda.

Mantenho os olhos na escuridão do lado de fora enquanto eles fazem planos.

Não consigo pensar em mais nada, apenas que os antídotos não estavam lá e em tudo o que isso significa.

Gabriel nos traiu!

Continuamos correndo contra o tempo.

Perto do prédio, Armon, Matt, Vitor e Nathan saem para pegar os carros que estão escondidos em um galpão próximo à base. A única certeza que temos neste momento é que temos que ir embora.

Quando chegamos, saio do carro e, mesmo insistindo que eu conseguia andar, Lucas me pega nos braços e me leva para a enfermaria. Depois de me colocar na maca, ele corta a perna da calça.

— A sutura abriu — confirma as minhas suspeitas após tirar o curativo ensanguentado.

— Precisa de ajuda, Lucas? — Mere diz entrando na sala. — Meu Deus, você está bem, Emily? — pergunta para mim com uma expressão preocupada.

— Preciso refazer a sutura na perna dela — Lucas responde com a voz calma. — O Vitor pegou um tiro de raspão no braço e vai precisar de um curativo. Você pode tratar disso? — A voz dele é calma. — Eu cuido dela.

—Claro — ela se apressa aresponder. — Mas o que aconteceu lá? Vocês conseguiram... — Merenão termina a pergunta, e presumoque está com medo da resposta.

Depois do nosso silêncio ela olha para o meu rosto e eu balanço a cabeça negativamente. A expressão dela passa de esperança para decepção. Lucas age como se não se importasse, como se a única possibilidade que tínhamos de ter esses antídotos não tivesse sido arrancada de nós da pior forma possível.

Mere sai da sala em silêncio enquanto o Lucas desinfeta as mãos com álcool, o que faz o cheiro inundar o ambiente. Ele limpa com cuidado o ferimento com soro e reparo nas suas mãos firmes. Como ele consegue manter a calma? As minhas mãos continuam tremendo até agora.

— Não tenho tempo para continuarmos desse jeito — Lucasfala,quebrando o silêncio entre nós. — O que está acontecendo, Emily? Você mal temfalado comigo.

— Nada — digo sem querer dar o braço a torcer, mas eu sei que não posso fazer isso, eu tenho noção de que podemos não ter muito tempo, por mais que eu tente afastar esse pensamento da minha cabeça o tempo todo. Mas dói demais saber que ele defende a Anna depois de tudo o que ela fez.

— Respira fundo! — ele diz e faço o que pede enquanto aplica a anestesia. Sinto a agulha entrando na sutura aberta, mas rapidamente não sinto mais nada. Ele verifica se a anestesia funcionou e se prepara para dar os pontos. — Fala comigo, Em. Por que você está tão chateada comigo? Nós nunca brigamos desse jeito antes.

— Você sabe o por que. Mas eu não tenho direito de cobrar isso de você — falo, observando a precisão de cada movimento da mão dele na minha perna.

— Por favor, para com os enigmas. Você sempre falou o que pensa. Por que você está tão hesitante agora? — Ele se concentra no procedimento e eu volto ao silêncio. Quando dá o último ponto e se levanta, ele encara os meus olhos. — O que você está sentindo?

— Tantas coisas — respondo com um suspiro longo.

— Que coisas?

— Raiva, tristeza, ciúme... — Começo tentando dar nome a todos esses sentimentos que estão me sufocando.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora