Capítulo Quarenta e Sete

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Como uma língua grudada em uma geleira, eu estava congelada ao edifício. Até outro rugido do Kalifera, mais perto desta vez, me tirar do torpor e me obrigar a fazer o meu movimento ninja favorito.

Correr.

Até meus pulmões queimarem de tão quente a cada expiração que deveriam estar atirando chamas. Eu me abaixei em um beco para tomar folego e me apertei atrás de uma lixeira, aconchegando-me ao lado da sujeira e mau cheiro que dificilmente foram registrados após a viagem ao Mundo em Espera.

Meus dedos se atrapalharam com a pena no meu bolso.

— Gloria, Gloria, Gloria — eu cantava, apertando a penugem em meus punhos, os lados das mãos pressionados contra minha testa, mas quando eu abri meus olhos, não havia asas brancas, nem uma mulher com cabelos com alguma cor primaria, cantando e dançando na rua.

Minha pele coçava como se mil formigas estivessem caminhando sobre ela. Essa sensação, e o formigamento na minha cabeça, estava acontecendo desde a minha conexão com o Kalifera. Com as mãos sobre meus ouvidos, eu balançava para frente e para trás, mentalmente empurrando-o. A invasão foi embora como antes, mas me livrar de sua presença provou ser mais difícil à medida que eu ficava mais cansada fisicamente e emocionalmente.

Eu queria entrar em colapso, me deixar ficar louca. Depois de tudo que eu tinha passado, eu merecia isso, certo? Mas eu não poderia fazer isso com a minha família e eu amaldiçoei o indomável espírito Lahey que me mantinha sã e lutando. — Desde quando você deixa algo assim impedi-la?

Minha respiração parou. Minha cabeça virou, batendo contra o concreto. Um motor deu ronco gutural, em seguida, parou.

— Já chega, Tristan — Eu ouvi Ayden dizer. — Era o banheiro das meninas. Pearl a perdeu também.

— Eu só estou dizendo-

— Você já disse o suficiente. Mantenha os olhos abertos. Jayden disse que com base na localização da sua mochila e dos movimentos dos demônios, ela deve estar chegando por aqui a qualquer momento. Provavelmente indo para o hospital.

Peguei um pedaço de espelho quebrado e o trouxe para mais perto da borda da lixeira, usando para ver Ayden no Maserati estacionado a poucos metros no beco. Eu simplesmente não conseguia ter um descanso.

Ayden bateu as palmas das mãos contra o volante. — Nós perdemos muito tempo. Eu deveria saber que ela não estaria naquele ônibus. Por que ela fugiu? Eu pensei -

— Relaxe. Você vai derreter o volante. Temos alguém vigiando a casa dela, o hospital, a floricultura. Vamos encontrá-la.

Ayden agarrou o volante, sacudiu-o algumas vezes, deu um tapa quando soltou, e caiu para trás em seu assento com um grave — Arrrgh! — Bem irritado. Devo ter frustrado sua quota de sequestros.

E eles bloquearam todos os meus refúgios. Para onde eu iria agora?

— O que você pensa que ela é? — Perguntou Tristan no silêncio tenso, com a cabeça girando em volta para fazer a varredura da área. — Ela consegue ver os nossos olhos mudarem. Vê os demônios que querem vê-la morta. Eu não consigo mexer com sua mente. Bem, eu consigo, mas-

O mas praticamente me matou.

— O quê? — A cabeça de Ayden empurrou em direção ao seu amigo. — Ela não é um 'o que', Tristan.

A expressão de Tristan ficou ruborizada. — O que está de errado com você? Eu não quis dizer dessa forma e você sabe disso. Era eu quem queria mantê-la longe de nós, lembra? Foi sua ideia brilhante chegar perto.

— Para mantê-la segura — Ayden rosnou.

— Sim, é o que eu disse e você disse -

— Tudo bem, eu entendo. — As mãos de Ayden subiram. — Você estava certo. Mais ou menos.

— Sim, eu estava, e você disse 'Há algo acontecendo entre vocês dois que devemos saber?'

— Eu disse que eu estava errado.

— Não, você estava certo em perguntar, porque os sentimentos pessoais afetam nosso julgamento.

Nem me fale sobre isso. Eu estava aconchegada em uma lixeira que fazia as meias sujas de Lucian ter um cheiro comestível, porque eu confiei em vocês. E Gloria. Onde ela estava?

— Eu não gosto disso, mas você estava certo, então agora eu estou te perguntando. Ayden, há algo acontecendo entre vocês dois que devemos saber?

— Não — disse Ayden, rápido, na defensiva. Meu peito ficou gelado.

Eu sabia que nosso relacionamento era fingimento, mas às vezes... às vezes parecia real. Ou como se pudesse ser.

— Eu só estou - Eu não- — A mão de Ayden passou pelo cabelo. — Pare com as perguntas estúpidas. Não temos tempo. Nós temos que encontrá-la. Ela está louca. Como pode ser tão estúpida? Ela luta contra nós em todo momento em vez de nos deixar fazer o nosso trabalho. Quando o -

Durante sua argumentação, um rugido demoníaco enviou coceira em minha pele. — Está ficando mais perto — disse Tristan.

Ayden assentiu.

— Então vamos segui-lo.

— Não — Ayden estalou. — Ela é a nossa prioridade.

— Eu sei, mas ele está a seguindo, por isso — Tristan segurou uma das mãos para cima — encontrando o demônio — ele levantou a outra mão — encontramos Aurora. Poderia funcionar.

A coceira se intensificou. Garras invisíveis roçaram a parte de trás do meu pescoço, torcendo todos os meus nervos com uma atenção dolorosa. Outro grito faminto mandou pregos perfurando meu cérebro. Luzes esmagaram minha visão. Eu não conseguia respirar. Eu estourei para fora do espaço sufocante, assim que o motor rugiu para a vida e atirou o carro para a frente.

Com uma maldição violenta, Ayden pisou nos freios, mas não antes do Maserati atingir meu quadril. Eu fui arremessada para o alto e rolei em um giro rápido sobre o capô.

— Ou você poderia apenas bater nela com o carro — disse Tristan. — Bem suave.

#1 - Demons At Deadnight (Divinicus Nex Chronicles) Onde histórias criam vida. Descubra agora