Capítulo 3
Surpresa no relvado
India
Impossível de fugir à regra, dias como aquele — em que me encontrava mais pensativa e melancólica do que o habitual — realçavam a minha profunda frustração e desilusão por viver uma vida tão banal e tão igual à dos outros. Todas as noites decidia que estava na hora de mudança, só que em todas essas vezes em que engendrava um plano, o mesmo ia por água abaixo pela impossibilidade de o meter em prática. Tinha de aceitar que estava condenada a uma vida monótona e nada invejável.
— India!
Ella e Merida vinham na minha direção de braços dados; traziam consigo a boa disposição que precisava naquela manhã. Dei-lhes um abraço, subitamente grata por tê-las e por tornarem os meus dias melhores.
— Nós vamos ver o jogo de futebol hoje à tarde. Queres vir? — Ella indagou.
Sabia bem que não lhes interessavam os golos nem a adrenalina de qual seria a equipa vencedora, mas sim quem estaria a correr atrás da bola. Ajeitei o meu gorro e dei de ombros, pronta para provocar mais uma vez:
— O Ash vai jogar hoje? — perguntei, já sabendo qual seria a resposta.
Ella resmungou e ajeitou os óculos grossos na sua cara, pronta a disfarçar o quão corada ficava só pela menção do nome do rapaz. Ashton era um amigo nosso e colega de laboratório da Ella. Nunca foi preciso que ela nos dissesse que gostava dele porque era sempre tão evidente. Sempre que ele lhe dizia bom dia ou elogiava o seu jeito com números e calculadoras, a Ella tornava-se num tomate e a sua eloquência era substituída por um gaguejo incompreensível. Ainda que gostássemos de lhe espicaçar, era adorável ver como a sua casca dura amolecia sempre que ele aparecia.
— Bom, eu acho que sim. — Acabou por responder. — Mas não é isso que importa. Os Raccoons vão jogar contra a outra escola e, se ganharem, podemos ir aos regionais!
Apesar de não partilhar do mesmo entusiasmo por desporto, comentei que seria mesmo bom se ganhassem. Merida, por outro lado, tentou convencer-me de que seria uma boa altura para conhecer pessoas novas, especialmente o novo aluno. Aí tive de forçar um sorriso e inventar uma desculpa qualquer. Elas ainda não sabiam que já o tinha conhecido e quis manter as coisas assim. Com isso, fiquei aliviada por Michael nunca mais ter aparecido na pior altura imaginável, teria estragado todo o meu plano. Por falar nisso, onde andava ele? Não era difícil encontrar uma cabeça azulada no meio dos corredores...
— Então? Vens? — Merida insistiu com um olhar esperançoso.
— Uh, pode ser... — Cedi.
Elas ficaram radiantes e enfiaram um braço no meu, arrastando-me para a casa-de-banho. Convenceram-me de que não podia continuar a andar por aí de sobrancelhas despenteadas e sem qualquer brilho de maquilhagem. Esperei que me poupassem todos pós e pincéis complicados, por isso convenci-as de que um gloss era suficiente. Saídas espontâneas eram a coisa favorita de Merida. A sua baixa estatura nada importava quando era ela a delegar tudo o que tínhamos de fazer: sacou da sua mochila um estojo cheio de pestanas falsas, perfume e sombra para os olhos. Ainda que implorasse para não ter pestanas coladas aos meus olhos, Merida fez-me acreditar que era o último toque especial; impensável seria sair só de gloss. Era inútil contrariá-la.
— Como podes esperar conhecer alguém com uma cara tão despida? Os rapazes gostam disto. — Terminou com os últimos retoques no meu cabelo.
— Eu não estou propriamente à espera de conhecer alguém, Merida. Tu sabes disso.
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SICK. - 3 Caminhos Cruzados
Fanfiction| História premiada por um Watty 2015 na categoria de Melhor Fanfiction | Primeiro volume da trilogia SICK. Na cidade chuvosa e melancólica de Fall River, três adolescentes estão prestes a ter suas vidas entrelaçadas de maneiras inesperadas. India...