Uma proposta

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India

Amaldiçoei a Ella por não ter conseguido pregar o olho por causa do que tinha dito. Era muito confuso para mim, logo eu que tinha zero experiência em lidar com tudo o que envolvesse relações de qualquer tipo. Não sabia ler nas entrelinhas ou, se o fazia, provavelmente estaria a fazê-lo mal porque nada no Michael indicava que estava "interessado" em mim. Se estivesse, então porque andava atrás de outras raparigas que não eu? Se estivesse, porque haveria ele de não mo dizer? Frustrada, escondi-me por debaixo dos cobertores, pronta para desligar a minha mente incessante, até que tive uma ideia. Se era brilhante ou não, haveria de o descobrir.

Na manhã seguinte, ao invés de esperar pela Ella, esperei pelo Michael. Apertei o casaco para mais perto pelo frio e encostei-me aos portões enferrujados da escola. Pelo canto do olho pareceu-me ter visto a rapariga dos balneários e revirei os olhos por ela continuar a usar uma saia, não obstante do frio lá fora. Quando olhei para o que trazia vestido quase que me senti envergonhada; trazia umas simples calças de ganga e uma camisola de lã confortável. Mas, antes que entrasse numa espiral de autocrítica, sacudi a cabeça e procurei por todos os carros à espera de avistar o seu carro preto.

Porque estaria ela cá fora? Será que esperava por ele também?

Estes foram alguns dos pensamentos intrusivos, mas quando a vi sorrir e a andar, segui a direção do seu olhar para obter a confirmação de que ele, de facto, não estava interessado em mim. Ela ajeitou a sua saia plissada e presenteou-o com um sorriso brilhante, ao qual ele retribuiu. Não pude deixar de reparar que tinha o seu braço entrelaçado no dele. Talvez passasse muito despercebida por ele ir sempre a diante, mas logo notou a minha presença.

— India. — Os seus olhos verdes, claros como a água, apertaram-se num sorriso. Ele veio até mim com ela de atrelado. — Aqui fora sozinha?

— Sim. — Disse, impávida. — Queria falar contigo.

Com isto,  Michael murmurou algo para o seu par que, antes de nos deixar a sós, deu-me um olhar reprovador. Ignorei-a.

— Com que então queres falar comigo. — A mesma expressão provocadora estava no seu rosto. — Mal posso esperar por ouvir o que tens a dizer.

— Tenho pena das raparigas que andam atrás de ti. — Refilei. — Mal sabem elas onde se estão a meter...

— Oh, nada disso. Elas sabem bem onde se estão a meter, é por isso que andam atrás de mim. — Encolheu os ombros com o lábio inferior preso entre os dentes. — Mas assumo que não esperaste por mim para me dar esse recado.

— E assumes bem. — Limpei a minha garganta. — Eu tenho uma proposta para ti.

— Uma proposta, uh? Parece sério.

— Estive a pensar sobre a conversa de ontem. — Comecei por dizer. Andámos lado a lado. — E ambos queremos que esta amizade funcione, certo?

— Certo.

— Depois de tanto pensar, percebi que o que poderia arruinar esta nossa relação é a possibilidade de um de nós acabar por gostar do outro. Vamos encarar os factos: praticamente todas as amizades entre rapazes e raparigas acabam em algo mais do que uma amizade.

— E nós não queremos isso. — Ele continuou.

— Exatamente. Portanto eis a proposta: vamos jurar, aqui e agora, que nenhum de nós vai estragar a nossa amizade por nenhuma estupidez dessas. — Estendi-lhe a minha mão.

Ele olhou-me, hesitante. As suas mãos continuavam dentro dos bolsos do casaco e os seus olhos continuavam a fitar-me. Quando finalmente se preparou para apertar a minha mão, parou antes de perguntar:

— E se algum de nós não cumprir o juramento? O que acontecerá?

— Simples; não haverá qualquer amizade entre nós. — Declarei. — Então?

Michael continuou apreensivo, mas logo sorriu e apertou a minha mão. Estremeci ao sentir o calor da sua mão na minha mão gelada. Sorri-lhe de volta.




— Atrasada de novo, menina McConnel? — De olhos postos no computador, a professora nem precisou de olhar para mim para saber que era eu a entrar de rompante pela sala.

No laboratório, encontrei Ella no seu elemento. Ao seu lado estava Ashton que, de bata branca e de luvas nas mãos galhofava com a Ella; ele tinha sempre a intenção de a distrair a meio de uma alguma tarefa minuciosa. Agarrei nas minhas luvas e nos meus óculos, dirigindo-me para a secretária onde Mérida me esperava. Ao contrário das outras vezes, ela não fez qualquer piada nem me repreendeu por ter chegado tarde. De cabeça apoiada na mão, ela tinha os olhos postos no caderno enquanto rabiscava algo.

— Ei. — Sussurrei ao sentar-me ao seu lado. — Tudo bem?

Mérida era difícil de se convencer. Uma vez que estava chateada, demorados eram os dias em que ela continuava séria e sisuda, metida no seu casulo, sem dar ar algum da sua graça. Inspirei fundo, procurando a minha sensibilidade para lidar com ela. Tentei novamente.

— O que temos de fazer nesta aula? A Ella já está toda entusiasmada e nós ainda sem nada preparado.

— Agarra nessa folha; estão aí as instruções. — Surpreendida por ela me ter falado, calei-me. — Só temos de verificar qual destas opções é a correta.

— Tu estás a falar comigo. — Constatei, feliz.

— Claro que estou. Porque não haveria de falar?

— Bom, talvez por causa de ontem? Mérida, tens de saber que eu...

— Está tudo bem, India. Está mesmo tudo bem. — Forçou um sorriso.
— Não tens de te explicar, eu entendo. Qualquer das maneiras, ele é só mais um rapaz.

Ali estava a Mérida que eu conhecia. As suas palavras eram verdadeiras, mas denotei a amargura escondida por detrás delas. Sabia que ela acabaria por pôr uma pedra em cima do assunto mais cedo ou mais tarde, mas preferi que fosse mais cedo. Estava aliviada por me ter falado e também por tudo parecer estar a acalmar para os meus lados.


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Com amor,
MukeCakesauce


SICK. - 3 Caminhos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora