Fotografias e paranoia

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India

Olhei pela janela à espera de avistar Ella ao fundo da rua. A minha família tinha decidido visitar alguns familiares em Florida, mas tive de recusar com uma pequena mentira camuflada pela necessidade de retomar leituras em atraso para as aulas. O verdadeiro motivo de querer ficar estava longe de qualquer preocupação académica.

— India! — Ella acenou pela janela do seu pequeno carro. Trazia consigo um grande sorriso e boa disposição que seriam muito apreciados.

Despachei-me até à porta, recebendo-a com um grande abraço apertado. O seu cabelo não estava apanhado num rabo-de-cavalo como de costume e denotei até maquilhagem nas suas bochechas. Ella soltou um longo suspiro ao deixar-se cair na minha cama, verificando o seu telemóvel pela quarta vez desde que tinha chegado. Estranhei a sua conduta, ainda mais a sua aparência. Não pude conter um sorriso curioso e perguntar-lhe:

— Qual é a ocasião? — Juntei-me a si no meio das almofadas. Ella deu de ombros, corada de vergonha e logo juntei as peças. — Espera lá... tu tens um encontro?

Mal estas palavras chegaram aos seus ouvidos desatou numa gargalhada descontrolada. Remexeu-se por entre os cobertores e bateu os pés contra o colchão extremamente entusiasmada. Antes que se esquecesse do rosto delicadamente maquilhado, pousou a almofada e sorriu.

— Não acredito que não me ias contar.

— Conhecendo-te como conheço, ias percebê-lo mais cedo ou mais tarde, como foi o caso. Para além disso, não é nada de especial. É só uma saída com o Ashton.

— E não estás feliz? Depois de todo este tempo à espera de que ele tomasse uma atitude?

Fui novamente interrompida com uma risada sua. Era bonito vê-la daquele jeito. Há muito que Ella sonhava com o dia em que acabaria por encontrar alguém que lhe pudesse providenciar um verdadeiro romance, onde tudo fosse dito e feito na medida certa; ela sempre teve as suas peculiares exigências.

— Combinámos jogar bowling e jantar. É claro que sou terrível no que toca a atirar uma bola contra vários pinos, mas será que lhe disse? É claro que não. — Ajeitou o cabelo em frente ao espelho. — E tu como estás? Têm acontecido tantas coisas ultimamente que nem sei como ainda estás de pé. Como está a situação com o Calum?

Enrijeci com a menção daquele nome. Evitei olhá-la, pois sabia que as lágrimas acabariam por me vencer, então libertei um longo suspiro. A realidade atingiu-me poucas horas depois do que aconteceu na escola, tal como suspeitei que acontecesse, mas só pareceu agravar-se com o decorrer dos dias. Resolvi contar-lhe o que aconteceu, desde ter ouvido da sua boca que era o autor do dito rumor até ao momento em que Michael lhe teve contra a parede, batendo-lhe sucessivamente. As suas finas sobrancelhas juntaram-se numa linha e palavras de revolta seguiram as minhas.

— Como é que isto pode estar a acontecer? Tens de apresentar queixa, India.

— A realidade é que tenho medo. Eu não sei do que alguém como ele é capaz de fazer e ele está tão diferente. A todos os níveis. A maneira como me olhava, como falava e como me tocava.... Foi aterrador. — A minha garganta permaneceu seca. — E eu sei que pode soar paranoico, mas sinto que ele me persegue. Sempre que saio de casa sinto-me observada, sempre à espera de o ver em qualquer esquina.

Soltei um pequeno riso, talvez para me reconfortar, talvez para não ponderar a possibilidade de enlouquecimento.

— Contaste isso a mais alguém?

— Não.

Procurei mudar o tema de conversa para algo mais leve e agradável. Não queria roubar o holofote de Ella num dia tão especial para si como aquele, por isso, deixei que me contasse, mais uma vez, todas as razões por que estava apaixonada.

SICK. - 3 Caminhos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora