Uma cama pressagiada

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India

"Caros passageiros, estamos prestes a aterrar no aeroporto de Sydney. Por favor, apertem os vossos cintos de segurança e coloquem as mesas de apoio na sua posição inicial."

Quando o avião tocou no solo australiano, abanei a cabeça por não acreditar na loucura que tínhamos acabado de fazer. Apesar da finita felicidade, não pude deixar de pensar no que tinha sido deixado para trás. Aprendi que repudiava despedidas ao recordar as lágrimas choradas por Merida e as lágrimas retidas de Ella quando lhes dei a notícia.

— O quê? Como podes simplesmente ir? — Merida, nunca famosa pela sua grande compreensão, cruzou os braços. — Nós podemos ajudar-te.

Entretanto, Ella negava com a sua cabeça, puxando-me para um apertado abraço. Sabia que não estava contente e que achava que estávamos prestes a cometer um grande erro. Não precisou de mo dizer, pude senti-lo na forma como me apertava nos seus braços. Quando me soltou, fitou-me e disse:

— Se precisares de qualquer coisa, seja o que for, diz e eu vou contigo.

Eu sabia que ela falava a sério. Sabia que ela era capaz de deixar tudo para trás se fosse preciso socorrer um amigo. Com um agradecimento choroso, apertei-as num último abraço, pronta para regressar a casa. Foi estranho não saber quando acabaria por voltar.

Nessa noite eu não dormi absolutamente nada. Uma mistura de excitação e nervosismo impediram-me de fechar os olhos e respirar fundo. Para além disso, tentei guardar uma imagem clara e perfeita dos rostos de cada um dos meus irmãos e dos meus pais. Incapaz de adormecer, peguei numa caneta e rabisquei o que me pareceu ser uma dezena de papeis, decidida que uma pequena carta de despedida seria o melhor a fazer. A dor e o ressentimento por não me verem chegar a casa mais tarde depois da escola eram garantidos, por isso resolvi deixar no papel o que era incapaz de lhes dizer.

"Mãe, pai, Will e Sam,

Desculpem-me. Procurei durante toda a noite pelas palavras certas para vos explicar que lamento que tudo tenha culminado num episódio tão dramático e difícil como este, mas todas me pareceram vazias e rasas. Perdoem-me por não ser a pessoa forte e determinada que sonhavam que fosse, pois não passo de alguém fraco que, face a um problema tão grande, a única solução que encontrei foi fugir. Não estarei sozinha, não se preocupem. Só preciso de tempo e distância de um lugar onde todos os meus pesadelos nasceram. Aviso-vos quando chegar a Sydney.

Com amor, India."

Senti-me desprezível. Não tinha ido embora para cortar laços de sangue, longe de mim, mas parti com o desejo de que tudo se tornasse mais simples.

— India! — Michael chamou-me com um sorriso estampado. — Não acredito que chegámos!

Fora do avião, fui encadeada pela luz forte e brilhante que domava os céus limpos e vastos. Tentei lutar contra o sorriso perante tal paisagem, mas foi difícil; já não sentia o sol queimar-me a pele há tanto tempo. Com a minha mão na sua, Michael tagarelou sobre o quão incrível Sydney era. Falou sobre as praias, os animais, o calor e a comida, e sobre como teríamos de aproveitar cada um destes aspetos.

— O Luke vem buscar-nos. — disse com as nossas mochilas às costas. — Ele já deve estar à nossa espera.

Alegrei-me por voltar a ver o meu melhor amigo. Assim, no meio da multidão lá estava ele: alto, suado e com um pequeno cartaz com os nossos nomes lá escritos. No meio de sorrisos felizes e de abraços divertidos, Luke conduziu-nos pelas estradas apressadas da cidade. Eles falavam entre si, ambos sotaques cada vez mais acentuados à medida que o tempo passava, mas faltou-me energia para participar em conversas sobre como tinha corrido a viagem. Limitei-me a observar todos os grandes edifícios e as ruas ocupadas por multidões que corriam de um lado para o outro. Precisei que alguém me beliscasse para ter a certeza de que este sonho era real.

SICK. - 3 Caminhos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora