Rivalidades

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Michael

— É verdade o que te digo. — Repeti-me, mas Ashton não parecia acreditar em mim. — Só tens de te abrir, as miúdas gostam disso.

— Não tenho a certeza disso, Michael. A Ella é uma rapariga diferente. — Exasperou, sugando o resto da bebida energética. — Para além disso, nós somos amigos há tanto tempo... tenho medo que não resulte.

— Só acho que devias aproveitar a tua oportunidade. — Trinquei as batatas fritas. — De preferência antes que alguém roube o teu lugar.

— Achaste que alguém ia roubar o teu lugar? Com a India? — A pergunta de Ashton desconcertou-me. — Foi por isso que lhe beijaste?

— Bom, foi ela quem me beijou primeiro... não que isso importe, claro. — Salientei. — Mas connosco é diferente. Não acho que outra pessoa tivesse tido a coragem de sequer falar com ela.

— Ela é muito querida e simpática, uma vez que a conheces. — Ele defendeu-a. — Mas sim, entendo o que queres dizer.

Ashton levantou-se e folheou pelas minhas páginas de banda desenhada. Depois levantou a cabeça para perguntar:

— Então aquela tua disputa com o Hood não teve nada que ver com ela? Eu já os vi a conversar várias vezes juntos na escola...

Não sabia aonde ele queria chegar com aquela conversa. Primeiro foi até a minha casa, "desesperado por conselhos românticos", mas depois decidiu virar o rumo da conversa do avesso. Por que haveria eu de sentir-me intimidado pelo Calum?

No meio de gritos e apitos, o treino prosseguia como o habitual, à exceção das várias repreensões do treinador por eu não passar a bola ao Calum. Quis explicar-lhe que simplesmente não fazia sentido entregar a bola a quem era inexperiente, mas não havia tempo para tal. Continuei na minha, a passar a bola aos que sabiam que seriam capazes de dar conta do recado, até que fui atirado contra o chão.

— Treinador! — Berrei. — Falta!

Antes de me perder em identificar quem me havia empurrado, encontrei o semblante trocista do Calum a olhar para mim, no chão. Como se o meu olhar lhe tivesse pedido uma explicação, ele controlou um sorriso e encolheu os ombros, seguindo. Talvez pelo que vira nos balneários da última vez, talvez pelo que a India me dissera, senti o meu sangue fervilhar; alguém tinha de o pôr no seu lugar. Saltei do chão e não vi mais nada à minha frente até ter os meus punhos na sua cara. Atirei-o ao chão, de maxilar cerrado e com uma fúria inexplicável à flor da pele.

— Ei, Clifford! — Ashton correu até nós e puxou-me para longe. — Calma, cowboy.

Todos se riam, divertidos pelo súbito drama, mas não havia nada de engraçado. O treinador pôs-se entre nós, prometendo-me que eu ficaria suspenso se atentasse mais uma daquelas.

— Isso foi diferente. — Procurei convencer-me. — Ele empurrou-me contra o chão de propósito, tu estavas la para ver.

— Se isso te deixar dormir melhor à noite... — Ele levantou as mãos na defensiva.

Continuou a folhear a minha banda desenhada, mas logo a tirei das mãos.

— Não vais perder o teu tempo a ler isto. — Repreendi-o. — Tu vais pôr-te de pé e convidar a Ella para sair. Agora.

Estaria ele certo? Será que, inconscientemente, via alguma rivalidade no Calum? Não havia verdadeiros motivos para suspeitar o que fosse porque, tal como ela me dissera, eles são amigos; tal como eu e ela... oh, não.

Com esse pensamento, um frio irreconhecível instalou-se no fundo da minha barriga. Afinal, o Ashton estava certo.

SICK. - 3 Caminhos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora